“Eu me sentia emergindo lentamente de um pesadelo, arrastando-me para
longe das suas garras. Essa geralmente é uma vam frias e úmidas. sensação boa,
porque você sabe que está apenas sonhando e o pesadelo acabou. Só que desta vez
não foi assim. Minhas mãos estavam frias e úmidas. Agarrei o lençol até as
articulações ficarem brancas. Socorro!, pensei. Alguém, por favor, me ajude!”
Uma jovem de dezesseis anos acorda num local desconhecido. Ela está num
orfanato, chamado de Casa do Meio. Ao seu redor não estão seus pais, nem seu
namorado, tampouco qualquer outra pessoa que ela conheça. O estranhamento é o
primeiro sentimento que a toma quando acorda. E tal estranhamento a acompanha
por toda a trama do livro “A Garota do
Orfanato Sombrio”, de Temple Mathews, publicado no Brasil pela Editora
Jangada (Grupo Editorial Pensamento), com tradução de Denise de Carvalho Rocha.
A obra publicada em 2018 tem os direitos cinematográficos adquiridos pela
produtora da rapper norte-americana Iggy Azalea.
No orfanato a garota busca informações sobre os seus pais, o motivo de
ter ido parar ali e, além disso, precisa encarar seus medos em situações
angustiantes que acabam acontecendo na sua trajetória.
Ela descobre que, na verdade está morta. Um choque! Isso não é spoiler, pois está na contra-capa do
livro. A partir dessa descoberta, que a faz encarar uma nova visão sobre si e
sobre os acontecimentos, ela vai também enfrentar outros dilemas. É, sem
dúvida, necessário bastante desprendimento para que ela consiga lidar com o
afastamento em relação a quem ama e que a cerca. O que aconteceu com seus pais?
Como está a vida de Andy – seu namorado?
Quando ela se depara com a sua casa, percebe que ela está cercada por
fitas amarelas, pois ali teria sido o cenário de um assassinato: o seu próprio
assassinato.
Nessa nova “vida” sua trajetória vai mexer com seus sentimentos, com
traumas, com o seu passado esquecido quando acordou na Casa do Meio. Uma
pergunta precisa ser respondida: quem a matou? A trama se desenrola sobre essa
busca que Echo Stone – a protagonista – faz para achar o seu algoz. É ao
enfrentar essa jornada que ela descobre coisas sobre seu passado, revelando
para si uma pessoa que ela não imaginava ser. Surgem suspeitos e fatos que
deixam mistério no ar e que vão sendo esclarecidos com o avançar da história.
“No que diz respeito ao meu assassinato, não tinha chega do a lugar
nenhum e não tinha mais ninguém a quem recorrer em busca de respostas. Ia ser
muito solitário ser um fantasma...”
A forma com que a trama é narrada nos induz a acreditar que alguns fatos
aconteceram de um jeito diferente do que realmente é. Isso garante um bom jogo
com o leitor. E, em plano secundário, alguns assuntos abordados nos fazem
refletir sobre temas pertinentes, como abuso, uso de drogas, bullying. A
história não se sustenta sobre tais parâmetros, mas estão lá inseridos na trama
e provocando o leitor.
A narrativa é feita em primeira pessoa pela protagonista, o que traz um
tom de intimidade e da visão que ela tem sobre os fatos. Os personagens que
contracenam com ela, muitos dos quais são outros jovens que moram no orfanato,
possuem poderes especiais e uma vida passada que desperta curiosidade. Os
poderes deles garantem momentos inusitados quando atuam como fantasmas que
assustam os vivos, mas também no relacionamento que constroem com Echo questões
próprias da adolescência. A jovem, por exemplo, se vê envolvida com Cole – um garoto
bonito e simpático que lhe dá atenção, mas ela, mesmo morta, ainda nutre
sentimentos por Andy.
A trama tem um bom ritmo, a narrativa é fluída e linear, mesmo quando
toca em questões do passado da personagem. É por meio do que ocorre no presente
que a história pregressa se apresenta, o que permite que a linearidade
cronológica seja mantida. São os personagens que contam e revelam o passado.
Os amigos peculiares que Echo encontra no orfanato, bem como a
administradora do local, propiciam uma história de aventuras, mistérios,
terror, vingança, crimes e uma dosagem de fantasia. A obra termina com uma
deixa para que haja continuidade. Será que vem outro livro por aí? Aguardemos.
Para quem gosta de terror, aventura, fantasia e conflitos pessoais
intercalados na trama, A Garota do Orfanato Sombrio é uma boa pedida. É um
livro que agradará, sem dúvida, o público mais jovem.
Sobre o
autor:
Temple Mathews | Foto: Reprodução |
Temple Mathews é escritor, diretor e
roteirista, com vários filmes em seu portfólio, entre eles as animações de Walt
Disney: Peter Pan – De Volta à Terra do Nunca, A Pequena Sereia 2 e Aconteceu
no Natal do Mickey. Escreveu Imaginem Só para a MGM e Oi, Scooby-Doo, para a
Warner Bros. Para os estúdios da Universal, ele escreveu o roteiro da animação
de Natal All I Want For Christmas Is You, baseado na canção de Mariah Carey e
no livro de mesmo nome. É também autor da trilogia New Kid.
Ficha
Técnica
Título: A Garota do
Orfanato Sombrio
Escritor: Temple Mathews
Editora: Jangada
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-5539-113-2
Número
de Páginas:
300
Ano: 2018
Assunto: Ficção norte-americana
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