“Todas as graças da mente e do coração se escapam
quando o propósito não é firme.”
William
Shakespeare
Por que fazemos o que fazemos? Nada mais
propositivo do que uma indagação como título de um livro. Assim é o objeto
desta resenha, de autoria do filósofo, escritor e professor Mário Sérgio Cortella,
publicado pela Editora Planeta em 2017 (174 páginas).
A indagação lançada pelo autor e que é
explorada no livro centra-se no âmbito profissional. Ainda que possamos, por
analogia, emprega-la nas questões da vida doméstica, o foco abordado no livro é
o trabalho.
As pessoas estão, cada vez mais, buscando
fazer algo que vá além da questão salarial. E vem daí a necessidade dessas
pessoas de terem o seu trabalho reconhecido e de sentir-se valorizado pelo que
faz. Cortella aborda a importância do propósito: “Uma vida com propósito é aquela em que eu entenda as razões pelas
quais faço o que faço e pelas quais claramente deixo de fazer o que não faço” –
escreve no primeiro capítulo do livro.
Para que a pessoa sinta que seu trabalho tem valor,
é preciso então, que haja na realização dele um determinado propósito. Nesse
sentido, num dos trechos o filósofo questiona sobre as pessoas que iniciam o dia
de trabalho com um certo nível de tristeza. Para que isso não ocorra é preciso
reinventar as razões pelas quais se faz isso ou aquilo. A pergunta surge,
inevitável: qual é o seu propósito?
De modo geral as pessoas tem buscado sentido
autoral em seu trabalho. O que significa dizer que querem se reconhecer naquilo
que produzem. Reconhecer-se não é necessariamente obter vantagem pecuniária,
mas a sensação de pertencimento, de ser autor de seu trabalho e, logo, autor de
sua própria vida.
Mário Sérgio Cortella trata ainda sobre a
origem da motivação. Esta não se revela como um fator externo, como muitos
costumam pensar, confundindo-a com estímulo (este sim extrínseco ao indivíduo).
Não sentir-se reconhecido é algo que mingua a razão de fazer dado trabalho. O
mesmo vale para o “reconhecimento
superdimensionado”.
O autor cita no livro uma frase que disse
numa entrevista: “Só um imbecil gostaria
de fazer o que não gosta”. Há que se pensar que fazer o que se gosta não
nos livra de quaisquer esforços, pelo contrário. Para se realizar o que se
gosta é necessário esforço, pois sempre há algo que não gostamos de fazer, mas
que precisamos fazer para podermos fazer o que desejamos. Sim, esforço é
preciso. “A felicidade não é possível em
lugar nenhum de maneira inteira, exclusiva, homogênea”.
Diante da abordagem sobre o indivíduo
integrado ao trabalho, o autor aborda a questão da lealdade para com a empresa.
Lealdade à empresa até quando? É preciso que vejamos qual o nosso propósito,
pois dentro de uma organização também existem dissabores. Há alguns deles que
podem ser facilmente superados e outros que não são possíveis de serem
tolerados. Assim sendo, é possível afirmar que o serviço deve ser realizado até
interessar, quando não houver mais interesse, o melhor é sair da organização.
As turbulências pelas quais passamos não são
definitivas. Esse assunto é tratado no capítulo dedicado a motivações em tempos
difíceis e fala sobre a persistência necessária para enfrentar a crise.
O livro se encerra falando da empresa com propósito.
Quando ela o tem, mais fácil a proximidade com o seu empregado e com o mercado
em que atua.
Por que fazemos o que fazemos? é um livro que
tem uma narrativa fluída e com apontamentos que nos levam a refletir. Cortella
tem uma linguagem fácil, acessível, didática e que permite ao leitor, mesmo
aqueles que não flertam com a filosofia, compreender o seu conteúdo com
clareza.
Leitura altamente recomendada para pessoas
ligadas à administração, líderes organizacionais ou de quaisquer outras
entidades que não tenham visão econômico-financeira, pessoas que atuam em
organizações diversas, estudantes das áreas administrativas e o público em
geral. Cortella desvenda inquietações sobre o trabalho, a carreira e a
realização. Livro para ler e reler.
Sobre o
autor
Mário Sérgio Cortella é filósofo, escritor,
com mestrado e doutorado em educação e professor-titular da PUC-SP, com
docência e pesquisa na Pós-Graduação em Educação. Foi Secretário Municipal de Educação de São Paulo
(1991-1992), tendo antes sido Assessor Especial e Chefe de Gabinete do prof.
Paulo Freire. Comentarista da Rádio CBN nos programas Academia CBN e Escola da
Vida. É autor de mais de vinte livros. Entre eles “Qual é a tua obra?” e
“Pensar nos faz bem!”.
Ficha
Técnica
Título: Por que fazemos o
que fazemos?
Escritor: Mário Sérgio
Cortella
Editora: Planeta
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-422-1211-2
Número
de Páginas:
174
Ano: 2017
Assunto: Filosofia
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