Rodrigo Ortiz Vinholo é autor de O Corpo,
publicado pela Lendari e tem microcontos publicados em Diário de Lúcifer,
publicado pela Editora Illuminare. Ele falou ao Tomo Literário sobre seus
livros, o contato com a literatura, mercado literário para novos autores,
projetos que estão chegando e muito mais. Confira.
Tomo
Literário:
Como
foi o seu primeiro contato com a literatura e como você se descobriu escritor?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Começou
bem cedo. Desde antes de saber ler, meus pais já me incentivavam com histórias,
filmes e quadrinhos. Me lembro de “ler” Turma da Mônica antes mesmo de saber
realmente ler. Quando aprendi, não me faltavam livros e quadrinhos em casa.
O gosto por escrever começou já na escola,
com redações e histórias que eu compartilhava com amigos, além de vários
rascunhos cada mais “épicos” na adolescência. Com a faculdade, comecei a
rascunhar mais seriamente, até engatar de vez nesse caminho.
Tomo
Literário:
Você
participa da antologia Diário de Lúcifer, livro que foi publicado pela Editora
Illuminare e lançado recentemente na 8ª Tarde Literária. Fale-nos um pouco
sobre seus mini-contos nesse livro.
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Eu
gosto muito do formato de microcontos. Atualmente, trabalho o gênero no
Facebook com minha página Histórias Súbitas (www.facebook.com/historiassubitas), e quando vi a
oportunidade, não hesitei. Encontrei um desafio especial na hora de trabalhar
esses, tanto por ter um protagonista muito específico (e conhecido), quanto por
trabalhar temas de horror.
Escrever um microconto envolve um trabalho
delicado de ter tanto o começo-meio-fim tradicional, quanto saber até que ponto
podemos deixar algo em aberto sem que o público se perca. Lidar com Lúcifer
como personagem significava deixar as crueldades e julgamentos morais implícitos
e fazer a imaginação do público trabalhar na pior parte – Quais as
consequências de um acordo com o diabo? O quão terrível é a tortura que está
implícita em uma cena? -, então aqui, mais que em outros formatos, sinto que a
mente do leitor tem papel vital para criar as cenas.
Tomo
Literário:
Como
foi participar do evento de lançamento ao lado de outros escritores?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Achei
fantástico! Eventos literários de todos os formatos são ótimas oportunidades
para quem está no mercado – em qualquer nível de experiência – conhecer mais
sobre as possibilidades e fazer contatos, além de criar uma aproximação com o
público. Quando participamos de antologias que não tem eventos, ou quando
publicamos online e não temos contato “físico” com o material publicado, muitas
vezes sentimos que é tudo menos real, e participar de eventos assim concretiza
nossas expectativas e reforça a vontade de criar mais.
Tomo
Literário: Você tem um livro chamado O
Corpo, publicado pela Lendari. Como surgiu a ideia desse livro? E quanto tempo
durou todo o processo da escrita até a publicação?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: “O
Corpo” nasceu do conceito filosófico do “Paradoxo do Navio de Teseu”. A ideia
parte da descrição do navio do herói Teseu em um porto. Conforme os anos se
passam, suas peças de madeira apodrecem e são substituídas. O processo segue,
peça por peça, até que o navio inteiro tem peças substituídas: aí vem a
pergunta – ele é o mesmo navio, ou não? Ou seja, o navio é o total de suas
partes, ou é uma ideia?
“O Corpo” é uma história que foca em terror psicológico e body horror, aplicando esse paradoxo em um corpo humano. Ele fala de um personagem não-identificado, que se torna prisioneiro em um quarto e tem as partes do corpo substituídas, como as partes do navio no paradoxo. Com a questão de consciência somada a essas perguntas, a discussão se enriquece para falar de persistência de consciência, identidade e outros tópicos bem humanos.
Eu havia começado essa ideia como uma ideia
para um livro mais longo em meados de 2016. Tive a ideia depois de ler sobre o
paradoxo e em uma semana eu tinha um outline da história e boa parte do início
escrito, mas temia que a história ficasse cansativa em um formato longo, então
engavetei o projeto enquanto focava em outras frentes. Em 2017, a Lendari
iniciou o formato “Contos de Bolso”, feito para contos longos em livros solo, e
imediatamente me lembrei de “O Corpo”, finalizando a parte final, que ainda
estava pendente, e adaptando alguns outros pontos que faltavam.
Tomo
Literário: Você tem participações em
algumas antologias e que abordam diferentes temas. Qual ou quais dos contos
você destacaria como aqueles que melhor definem o seu estilo como autor?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Essa
pergunta é difícil... No geral, eu gosto muito de terror, e diria que vários
dos meus contos estão nesse gênero, mas no geral eu gosto de pensar que minhas
melhores histórias estão em realismo fantástico ou em alguns caminhos mais
estranhos da fantasia. Em 2017, publiquei 365 contos com personagens bizarros
(de demônios a deuses, passando por alienígenas, viajantes temporais e
vampiros) em minha página “1 Ano, 1 História, 1 Capítulo por dia” (www.facebook.com/1ano1historia ), e ainda que
muitos enveredem para um tipo de fantasia humorística, creio que é o no
realismo fantástico que as histórias brilham mais.
Tomo
Literário:
Como
você vê atualmente o mercado literário, sobretudo para novos autores?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Por
um lado, estamos num momento de crescimento de leitores e de autores, com
muitas editoras pequenas surgindo com oportunidades para autores de todos os
tipos, sem falar de agências literárias (como a Increasy, que me agencia), que
auxiliam vários autores com potencial.
Por outro, temos um enviesamento muito grande
do mercado de livrarias e do próprio público, que descredita da produção
nacional, e a baixa penetração de mercado – nós ainda somos um país que lê
muito pouco.
Gosto de pensar que estamos melhorando, e só o fato de ver que a produção nacional, especialmente independente, não para de crescer, já me dá esperanças.
Tomo
Literário:
De
modo geral o que te inspira a escrever?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Eu
amo contar histórias, amo expressar minhas ideias e fazer com que as pessoas
possam compreendê-las. Quero que as pessoas se entendam, se encontrem e
entendam e encontrem os outros através de histórias. A ficção é a melhor
maneira de explicar a realidade, especialmente em seus aspectos mais
impalpáveis. A escrita, também, me faz sentir como se ganhasse algum nível de
imortalidade – é através dela que espero continuar existindo depois que não
estiver por aqui.
Tomo
Literário:
Você
está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma
informação?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Vários!
Alguns deles eu prefiro omitir, por enquanto, mas já consigo destacar meu
próximo livro pela Lendari – “Os Dias em que Rúbia Viveu no Futuro”, uma
história sobre relacionamentos e autoconhecimento, com um pano de fundo de
viagem no tempo.
Paralelamente, sigo com meu projeto do ano na
1 Ano 1 História 1 Capítulo por Dia, chamado “Motorista do Dia”, de contos
curtos de um mesmo passageiro encontrando diferentes motoristas. Retomei este
ano, também, minha página de cartuns chamada Verdades Tristes, com novas coleções
com uma pegada mais literária (www.facebook.com/verdadestristes).
Além desses, minha página “Poemas Chatos para
Pessoas Ruins” (www.facebook.com/poemaschatos) deve ganhar um primeiro livro em
algum momento dos próximos meses após uma premiação que ganhei da Darda
Editora.
Estou, neste momento, no processo de organização de duas antologias junto da Tyanne Maia: uma para a MODO Editora, pelo selo Veleiro, chamada “Espaço Restrito”. Outra, que ainda está recebendo contos até o fim de junho, se chama “Simulacro & Simulação”, e será publicada pela Lendari (www.lendari.com.br/simulacro) .
Finalmente, nos próximos meses devo ter uma
campanha no Catarse para o lançamento de um baralho de Tarot com as artes de
Igum Djorge, que ilustrou meu livro “Dito Pelo Não Dito”, pelo selo Insensati,
que organizo com Pedro Hutsch Balboni.
Mas como eu disse, tem muito mais coisas que
estou trabalhando, então fiquem de olho que espero anunciar mais coisas ainda
este ano.
Tomo
Literário:
Quais
são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram no seu
trabalho como escritor?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: A
lista é extensa, mas de cabeça consigo citar Machado de Assis, Kurt Vonnegut e
Neil Gaiman. Minha escrita certamente seria muito diferente (ou até
inexistente) se não fosse por eles.
Tomo
Literário:
Que
livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum
atualmente?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Minha
recomendação é que procurem as produções nacionais, seja através de antologias
ou mesmo de editoras independentes. Tem muitos talentos por aí que ganham pouca
publicidade. A Bienal de São Paulo está chegando, então fiquem de olhos
abertos, porque não faltarão novidades!
No momento, acabei de ler “Uma dobra no
tempo”, de Madeleine L’Engle e “Mitologia Nórdica” de Neil Gaiman, e estou
lendo uma obra que satiriza o cinema dos anos 1970, chamada “Stinker Lets
Loose!”, de Mike Sacks. É beeeem estranha. Depois dela, estou criando coragem
para cair de cabeça em “Graça Infinita”, de David Foster Wallace.
Tomo
Literário:
Gostaria
de deixar algum comentário para os leitores do blog?
Rodrigo
Ortiz Vinholo: Continuem
lendo, continuem apoiando a produção nacional e, acima de tudo, resenhem!
Deixar sua nota e fazer uma resenha das obras que lerem é valiosíssimo,
especialmente para quem está começando. E obrigado.
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