“Eu quero saber onde fica a província dos
Ursos de Vento e o que eu tenho que fazer para chegar lá.”
Ano 2101. A primeira página do capítulo um do
livro já nos dá uma noção da história que há para se desenrolar. Em tal página
o leitor toma conhecimento de que o planeta Terra se tornou uma sociedade
canibal em que “o preço da carne de
recém-nascidos custava milhões de Críveis no Mercalimento”.
Matheus e Amanda, um casal que protagoniza a
história ao lado de outro personagem que surge mais adiante, estão esperando um
filho. Logo, nos questionamos: o que acontecerá com eles? Temos um cenário
distópico nada animador no planeta e o filho que tanto anseiam é visto como uma
mercadoria a ser vendida por um bom preço. Que pânico, caro leitor!
A carne humana recebe o nome de carne de
objeto. É isso mesmo, as pessoas que deixam de ser cidadãs são tratadas por
objeto. Nessa sociedade “os vegetais eram
caros e a carne era barata”. Além disso, os animais foram dizimados, androides
assumiram seus lugares e o noticiário informa que o extermínio de animais se
deu em função de um vírus que se espalhara por meio deles.
Posto isso, temos o cerne da trama: um casal
à espera de um bebê que vive num planeta inóspito e que vai em busca de uma
província (a dos Ursos de Vento) que é tida como um lugar seguro. No entanto,
há certo mistério em relação a este lugar. Ele realmente existiria? Se existir,
será fácil chegar lá?
“Mesmo que ele nos conte exatamente onde fica
essa província dos Ursos de Vento, como vamos fazer para chegar lá? E se ficar
do outro lado do continente? Ou do outro lado do mundo?”
Ao longo da jornada de Matheus, em busca pela
Província dos Ursos de Vento, ele vai coletando informações sobre o planeta em terminais de
informação que estão espalhados. As notícias datam de tempos passados e além de
ajudar o personagem em sua jornada, dando informações que elucidam pontos
obscuros e que fazem parte da trama, possibilita ao leitor conhecer mais sobre
o atual estado do planeta, bem como a nova configuração social, política e de
meio ambiente que foi sendo estabelecida.
Além do casal, um outro personagem chega à
trama e tem sua história contada de maneira paralela e, em dados momentos, se
cruzando e até se entrelaçando com a de
Amanda e Matheus. Trata-se de Luigi, um garoto que atuava como escravo e que
tem um conhecimento notável. Então, temos um trio de protagonistas na obra.
O mundo não tem um governo propriamente dito,
mas representantes empresariais que controlam a economia e a sociedade. Tal é o
regime político que impera. Mercalimento aparece como uma entidade empresarial
que detém o poder. O controle da vida dos cidadãos passa por essa empresa e é
daí que vem a opressão que sofrem os cidadãos.
Percorrer a trajetória em busca da província
não será tarefa fácil. Os personagens passam por inúmeros percalços, cruzando o
caminho de mercenários, crianças, grupos de rebeldes e outras aventuras que vão
proporcionar ao leitor os desencontros, descobertas, complôs, fugas, grupos que
se aliam e revelações que vão enriquecendo a trama do livro.
A tecnologia presente em naves, zepelins e
sistemas de informação não são inalcançáveis, como vemos em algumas obras. Elas
tem um pé na realidade, tendo sido preparadas a partir de produtos reciclados.
Portanto, apesar de ter um ambiente futurista,
o livro não delira com a ideia de uma tecnologia inatingível que ficaria
expressa apenas no imaginário e faz uma abordagem interessante mesclando a
tecnologia “futurista” com algo mais real.
Destaco aos leitores a questão da
representatividade da Mercalimento e o fato de os cidadãos terem sua civilidade
caçada, tornando-os objetos. De certo modo, há uma metáfora a ser apresentada
com os governos totalitários e/ou como as pessoas são vistas por grandes grupos
dentro de uma sociedade – peças a serem movidas de acordo com o interesse
particular de um grupo composto por uma minoria mais abastada e detentora do
poderio econômico. O fato de os cidadãos se tornarem comida para que outros
possam sobreviver, desperta o entendimento de que a sociedade, por vezes, acaba
sento compelida pelos poderosos a “se comer” – grifo meu.
A Província dos Ursos de Vento foi um grata
surpresa. Encontrei uma narrativa bem apresentada, personagens cativantes e bem
delineados, um enredo que prende a atenção do leitor e subtramas que vão
aparecendo e se entrelaçando com a trama principal, mas sem perder o cerne da
história. Uma distopia de tirar o fôlego!
Sobre o
autor:
Foto: Reprodução |
José Beffa nasceu em Marília, é formado em
Direito e amante de histórias de ficção científica. Inspirado por grandes obras
clássicas, a Província dos ursos de vento é seu primeiro romance publicado. Seu
intuito é trazer ao leitor um universo que dê vida ao futuro do passado, em que
tecnologia inimagináveis coexistam com zepelins e locomotivas que aparentam ter
saído do século XIX.
Ficha
Técnica
Título: A Província dos
Ursos de Vento
Escritor: José Beffa
Editora: Luva
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
272
ISBN: 978-85-93350-05-4
Ano: 2017
Assunto: Literatura
brasileira
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