“Nunca
desista. Nunca, nunca desista, nunca, nunca, nunca desista.” (Winston Churchil)
Christine Bryden, autora do livro “Antes que
eu me esqueça”, publicado pela Seoman (selo do Grupo Editorial Pensamento) em
2018 – tradução de Mirtes Frange de Oliveira Pinheiro – atuou como bioquímica e
consultora do primeiro-ministro australiano na área de ciências.
Aos quarenta e seis anos foi surpreendida com
um diagnóstico que pode assustar muita gente. Christine tinha uma demência
precoce, o que inclui o Alzheimer. A vida da autora que vinha progredindo
profissionalmente, estava com os anos contados. Segundo as informações médicas,
com o passar do tempo, a demência a impediria de cuidar da própria vida, desde
as coisas mais complexas com as quais Christine estava acostumada até as
tarefas mais simples e cotidianas.
O Alzheimer é uma doença neurológica que não
tem cura, mas que pode ser tratada. A doença se manifesta com a perda de
funções cognitivas como memória, orientação, atenção, linguagem, o que se dá
pela morte de células cerebrais. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer
existem cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença no mundo. Em terras
brasileiras o número chega a 1,2 milhão de casos, e boa parte deles ainda sem
diagnóstico.
Para Christine a doença, no entanto, evoluiu
de maneira mais lenta do que costuma e ela consegue viver com a demência por
mais de vinte anos, mesmo que isso lhe custe muito esforço. “Todo dia é uma luta para mim...” – relata em dado trecho da
obra.
O livro é um relato real e bastante imersivo
da vida da autora, abordando desde a sua infância, passando pelo casamento,
nascimento das filhas, ascensão profissional e a doença que a acometeu
intervindo em todas as esferas de sua vida. O panorama que ela dá sobre sua
vida serve para o leitor se situar sobre a condição de Christine e entender o
quão importante se faz compreender a sua história e a doença que a acomete.
Ela teve de se adaptar à demência e a tudo
para que pudesse realizar as tarefas do cotidiano. A autora nos dá, pois, uma
visão surpreendente de quem convive com o Alzheimer e o quanto a doença afeta
não só, mas principalmente o doente, resvalando na família.
Christine tem uma história com passagens
bastante difíceis, que envolve a violência que sofria no primeiro casamento, a
depressão, a automutilação da filha e até a sua anorexia, outro mal com o qual
ela teve de lidar. Perpassa pelo machismo que enfrentou em seu ambiente de
trabalho e por sua luta pessoal em seguir adiante na carreira. Também aborda
questões de sua infância que demonstram um ambiente estimulador e que muito
contribuiu para sua formação.
“Eu
escolhi ser uma sobrevivente da demência, ter uma atitude positiva em relação à
vida todos os dias (...) Estou saindo das trincheiras do desespero e agitando a
minha bandeira surrada de esforço e reabilitação. Serei corajosa; viverem o
momento presente; tentarei até mesmo me superar. Não estou apenas seguindo em
frente, tenho grandes ambições.”
Com o diagnóstico de Alzheimer ela quis ir
além de se tornar apenas uma doente. Não se fez vítima da doença, mas assumiu o
protagonismo de sua história. Ela foi em busca de envolver pessoas com demência
em debates que tratavam do tema, mas afastavam a pessoa daquilo que estava
sendo debatido. Deu palestras pelo mundo, visitou lugares que cuidavam de
pessoas com demência, se aprofundou no assunto e compartilhou suas impressões. Ela
levanta até a questão de que muita gente pense que está fingindo demência – uma
vez que tem a capacidade de escrever livros. Antes que eu me esqueça não é a
primeira publicação da autora.
Na luta diária que emana muito esforço, as
palavras fogem do pensamento quando ela trava um diálogo, o caminho percorrido
parece confuso, os pés tropeçam, e tudo fica estafante, a ponto de ela querer
dormir para descansar depois de simplesmente conversar com alguém.
“...nós
rebatemos a crença de que as pessoas com demência são uma concha vazia.”
A falta de empatia das pessoas que não sofrem
do mesmo mal, possivelmente advenha também do desconhecimento em torno da
doença. Daí decorre a necessidade de termos um livro como esse que aborda o
assunto, do ponto de vista de quem tem Alzheimer (ainda que seja mais lento que
o da maioria das pessoas). É necessário em nós o exercício da empatia para
compreender as doenças mentais que em, muitos casos, não se manifestam na
demonstração física explícita. Compreender a existência de tais doenças nos
ajuda, sobretudo quando não lidamos diariamente ou diretamente com pessoas que
as tem.
Para encerrar a obra a autora nos apresenta as
considerações sobre o futuro no atendimento aos portadores de demência em que
traz a sua visão sobre os cuidados necessários a quem tem Alzheimer.
Antes que eu me esqueça é um livro para
refletir, para alertar e para clarificar questões que envolvem a saúde mental,
sem ser um manual, baseando-se tão somente na história de alguém diagnosticado
com demência no auge da vida. Por isso mesmo, torna-se um livro profundo,
tocante e emocionante, sem perder o caráter elucidativo da publicação.
A família, o convívio social, a alimentação, a
atividade física regular são mecanismos que ajudam a manter uma vida mental
saudável. No livro o leitor tem acesso ao denominado “Anexos Recomendações” em
que ela fala sobre passos para retardar o início da doença, baseada em
informações da Associação Internacional da Doença de Alzheimer e traz também
uma série de recomendações originadas da sua experiência pessoal, que passa
pelas situações vivenciadas em casa, fora de casa, pelos hobbies, o uso da
tecnologia e outras ideias.
Leitura recomendada!
Foto: Reprodução |
Sobre a autora:
Christine Bryden
teve uma carreira brilhante como bioquímica durante a maior parte de sua vida
adulta. Trabalhou no setor farmacêutico do Reino Unido; na Organização de
Pesquisa Científica e Industrial da Austrália; e no alto escalão do serviço
público australiano, onde dava consultoria sobre ciência e tecnologia para o
primeiro-ministro. Em 2003 ela se tornou a primeira pessoa com demência a ser
eleita para o conselho da Associação Internacional da Doença de Alzheimer
(ADI).
Ficha
Técnica
Título: Antes que eu me
esqueça
Escritor: Christine Bryden
Editora: Seoman
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-5503-061-1
Número
de Páginas:
207
Ano: 2018
Assunto: Alzheimer
Título instigante. Parece muito interessante. Fiquei com vontade de ler. Acredito que livros assim deveriam ser mais lidos e distribuídos pelo mundo. É uma questão de saúde pública.
ResponderExcluirAbraços