“Toda aquela loucura só confirmava que
realmente minhas teorias estavam certas e que tudo não passava de um
pesadelo...”
No primeiro capítulo já sentimos o ar de
mistério que ronda a protagonista (narradora da história). Sua vida agitada e o
estresse que carrega numa sexta-feira, em que vê um acidente de trânsito, já
nos deixa intrigados. O que há de conexão entre esse acidente e Vivian?
Tudo que se sabe de imediato é que ela é uma
mulher de trinta e quatro anos, que mora com o pai e seu filho Lucas, além de
trabalhar. Com o decorrer da história vamos tomando conhecimento sobre a personalidade
da personagem e sobre acontecimentos relacionados com sua vida, o que inclui,
por exemplo, o relacionamento com Joshua e o relacionamento que teve depois,
com um homem chamado Gabriel.
Este último homem, Gabriel, perturba a mente
da protagonista, aparecendo em momentos inesperados, em lugares inimagináveis e
causando a Vivian medo e angústia. Ele é um tipo que causa calafrios pela sua
maneira sorrateira de aparecer na história. Eis aí um mistério que intriga.
Vivian conta-nos sobre seu passado, não
deixando de abordar a morte da mãe, o momento em que conheceu Gabriel e toda a
trajetória do relacionamento que tiveram e que, claramente, deixou marcas.
“Eu queria morrer.
Eu queria fugir.
Eu queria matar.
Eu queria viver.”
Uma mistura de sentimentos invade Vivian. Ela
sente o abandono de Gabriel em momento dos quais precisava dele mais próximo e
desespera-se com a proximidade que ele tem agora (forçosamente). Vivian vive um
verdadeiro pesadelo. E, nesse turbilhão de sentimentos e de possibilidades que
se abrem diante da história que ela narra, somo tragados por suas nuances
psicológicas. Ora nos questionamos sobre a realidade do que se apresenta, ora
acreditamos piamente que faz parte de um processo de aproximação de uma
possível insanidade, ora embarcamos na imagem de que é apenas um pesadelo,
ora somos completamente surpreendidos
pelos fatos.
Karen Alvares, autora do livro, adota uma
estrutura de intercalar presente e passado, moldando uma história com capítulos
que vão se encaixando para trazer à tona os tormentos da protagonista e
clarificar os eventos que vão surgindo. Na obra vamos ver retratado o
relacionamento abusivo, a sede de vingança, a relação familiar, a culpa, as
preocupações da personagem para com os seus, o sobrenatural, o espiritualismo.
Tudo isso envolto em mistérios que prendem a atenção de quem lê.
“Eu tinha que me encolher e tapar os ouvidos
para tentar abafar o som, que me feria como se mil facas estivessem em minha
pele. Aquilo me feria muito mais do que qualquer coisa que tivesse feito,
qualquer tortura, qualquer soco na cara.”
Por vezes nos questionamos sobre o que há de visões e realidade, e Vivian vai descobrir
algo mais tenebroso do que pensamos. Gabriel é um antagonista obsessivo, que
persegue a mulher para além do que pode o leitor supor.
A trama é envolvente, as tragédias pessoais
de Vivian são contadas de maneira enigmática, os tormentos e fantasmas que a
perseguem carrega nos dão uma boa pitada de suspense e há outros fatos
relacionados a ela que vem em intrigantes subtramas a serem desvendadas pelo
leitor. Me agrada os contornos psicológicos que Karen imprimiu em seus
personagens. Vivian, ao mesmo tempo que demonstra ser uma mulher fragilizada,
tem uma força que emana de si nos momentos certos, mas carrega culpas que
parecem pesar-lhe o tempo todo sobre os ombros. Suas características, suas
dúvidas, suas certezas, e todas as impressões que nos transmite, bem como seus derradeiros
anseios são, antes de mais nada, humanos. O caminho que ela escolhe é uma saída
para seus problemas ou uma expiação de sua culpa?
Há clima de mistério e suspense no ar o tempo
todo, uma tensão que vai nos envolvendo. Quando do início da trama é certo que
você, leitor, vá formular algumas teorias sobre o que são os pesadelos da
protagonista e que contornos eles podem ganhar no avançar das páginas. A autora
surpreende, trazendo um caminho inesperado. Em dado momento até imaginei algo
similar ao que acontece, mas a surpresa é maior, pode apostar.
Alameda dos Pesadelos tem um terror que mexe
com o imaginário do leitor. Suscita dúvidas com relação aos traumas pelos quais
a personagem passou (o que nos deixa curiosos com o desenrolar na narrativa) e
consegue ir além do esperado para evidenciar os acontecimentos. Quando entra em
cena o espiritualismo tudo é feito com ares de ficção, sem ficar apegado ao
contexto religioso, mas traçando bem a atmosfera que envolve aquele ambiente. Não
é de bom tom contar o que acontece aqui no blog, mas tenho certeza de que o
leitor ficará curioso com a trama do livro.
O livro tem uma narrativa fluída e que,
aliada a história, garante uma leitura prazerosa. Prepara-se e adentre a
alameda dos pesadelos. Garantia de uma ótima história.
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Karen Alvares é um dos
expoentes de literatura de terror e suspense psicológico no Brasil. Iniciou há
mais de cinco anos a carreira literária, com livros autopublicados e publicados
a convite de editoras, e já conquistou prêmios em alguns de seus contos
publicados em antologias e romances, com destaque para o Celebrando Autores
Independentes, da Amazon, na Bienal do Livro São Paulo 2016. Autora de Alameda dos Pesadelos (Cata-vento,
2014) e de Inverso e Reverso (Draco,
2015 e 2016). É escritora associada da ABERST – Associação Brasileira de
Escritores de Romance Policial, Suspense e Terror.
Ficha
Técnica
Título: Alameda dos
Pesadelos
Escritor: Karen Alvares
Editora: Cata-Vento /
Independente (Amazon)
Edição: 3ª
ISBN: 978-85-6672-509-4
Número
de Páginas:
252
Ano: 2018
Assunto: Literatura
brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.