“O corpo da menina foi encontrado 76 horas depois
da comunicação de seu desaparecimento. As pontas dos dedos tinham sido
removidas por um alicate de desencapar e cortar fios – uma tentativa deliberada
de ocultar a prova do DNA, uma vez que fragmentos da pele do agressor teriam ficado
sob as unhas da vítima, que o teria arranhado...” Assim temos abertura do prólogo de Rio Vermelho, livro da escritora Amy
Lloyd, que foi publicado no Brasil pela Faro Editorial em 2018 (1ª edição, 266 páginas)
com tradução de Carlos Szlak. O livro foi o ganhador de uma competição do
jornal britânico Daily Mail.
Dennis Danson foi
preso pelo assassinato de uma criança. Crime este que ocorreu em Red River, na
Flórida. Naquele local também havia acontecido uma série de desaparecimentos,
que não foram elucidados e dos quais algumas pessoas suspeitavam da
participação de Dennis. Pelo crime brutalmente cometido contra a menina, ele
foi julgado e condenado à morte. Aguardando sua pena no corredor que o levaria
ao fim, Dennis figura como protagonista de um documentário sobre crimes reais,
conduzido por Carrie.
O filme levanta
controvérsias, posto que identifica algumas lacunas e possíveis equívocos
cometidos na investigação que não poderiam ratificar que Dennis fosse o culpado
pelo crime. Isso gera uma movimentação das pessoas que pedem revisão de seu
julgamento, alegando que há falhas no processo e que ele, portanto, é inocente.
De modo bastante
sagaz a autora usa as redes sociais como o mecanismo para gerar a campanha pró-libertação
de Dennis, trazendo para a história o que ocorre de fato fora da ficção.
Pessoas compartilhando informações, julgando e inocentando pessoas, com base em
informações passadas por terceiros (nem sempre confiáveis). No caso da trama, a
movimentação se dá pela convicção da cineasta de que o jovem bonito e atlético
– o que também enseja uma imagem pré-concebida – não cometera aquele crime.
Samantha, uma
professora de 31 anos, que mora na Inglaterra e que havia terminado um
relacionamento, ainda carregava dores em relação ao rompimento, no entanto fica
obcecada pela história de Dennis. Ela acredita piamente em sua inocência.
Sam, como é
chamada, passa a escrever correspondências para o prisioneiro. “Sei que você é inocente” – ela escreve na
primeira carta. Ele as responde e os dois se correspondem até que ela decide ir
encontra-lo. Sai da Inglaterra e vai até a prisão de Altoona. O envolvimento
ocorre, eles se casam e então, Dennis passa por novo julgamento, no qual o juiz
declara-o inocente pelo crime que havia sido condenado.
Ao conviver com
Dennis, Samantha começa a se sentir incomodada com uma série de ações do
marido. Ela também desconfia de alguns acontecimentos, mas coloca o seu
sentimento por Dennis acima de tudo. A personagem, desde o início da trama,
apresenta dependência emocional e tem verdadeira obsessão pelo rapaz. O
relacionamento que havia terminado, antes da consumação de seu casamento, ainda
ecoa na sua mente, bem como sua auto-estima está um tanto quanto prejudicada. O
que se revela, inclusive, quando ela não se vê a altura de Dennis. Sam,
certamente, é uma mulher insegura.
A história ganha
ares sombrios e de demonstração da obsessão de Sam por Dennis, de quem sente
ciúme pela convivência com Lindsay. Sente-se deixada de lado, suas fragilidades
são aguçadas e a desconfiança com as ações de Dennis também a perturbam.
Quando eles voltam
a Red River temos uma noção de toda a estrutura familiar de Dennis e de como
ele fora criado, bem como vem à tona questões relacionadas a seu passado que
suscitam dúvidas sobre o crime do qual ele foi acusado. Samantha, apesar de
dizer que confia no marido, demonstra medo de tudo que acontece. Fica assustada
e acuada na casa em que eles vivem. As cenas que se passam em Red River trazem
ao livro uma boa dosagem de suspense e mistério que permeia o caso.
Sam é uma
personagem complexa. Psicologicamente ela tem traços de uma visão distorcida
sobre si e sobre os outros. Em certo trecho do livro ela, ao mirar-se no
espelho, pensa: “Talvez eu seja uma
dessas pessoas que acham que são feias, mas, na realidade, são belas e não
conseguem ver isso”. Ela parece buscar um mundo perfeito que existe em seu
imaginário e demonstra incerteza e insegurança em relação ao que vive e sobre a
verdade, o que faz com que ela afaste
evidências e se frustre com os fatos. Em dado momento, caro leitor, você há de se questionar se pessoas como Sam realmente
existem. A personagem é bastante crível e existem mais Sam’s do que podemos
imaginar.
Dennis também é um
personagem de psicologia complexa que demonstra ares de bom moço e parece
reservar algo de sombrio no recôndito de sua personalidade. É um personagem
enigmático, que não se revela por inteiro aos personagens com quem contracena –
o que nos rende um bom mistério em relação a sua pessoa. Lindsay, outra
personagem da história, é uma mulher que também tem um viés de conflitos, assim
como Howard – amigo de infância de Dennis – que surge na trama quando o casal
passa a morar em Red River.
A autora aborda em
seu livro questões próprias da sociedade contemporânea, tais como: o uso das
redes sociais para julgar ou inocentar alguém, dando de certo modo um alerta ao
leitor sobre o que se lê e se reproduz no ambiente virtual. Trata ainda do
desconforto com os padrões impostos pela sociedade (Dennis é tido como um rapaz
bonito, enquanto Sam é tida como fora dos padrões, e ela sente-se reprimida por
isso). Aborda ainda o conceito pré-estabelecido que as pessoas criam (note bem)
acerca de uma determinada pessoa e que se coloca como verdade absoluta (positiva
ou negativamente falando). Amy Lloyd traz
personagens psicologicamente bem arquitetados e que com seus problemas internos
suscitam conflitos. Em Rio Vermelho não faltam os crimes brutais, a comoção
popular, os sentimentos humanos, alguns bastante exacerbados e uma forte
presença de mistério. Tais elementos intrigam o leitor e prendem a atenção até
o final da obra.
O desfecho do
livro é de tirar o fôlego. Prepare-se para revelações que atordoam.
Rio Vermelho é um
thriller fantástico. Uma excelente história sobre obsessão, crime e mistério.
Foto: Lara Lewis |
Sobre o
autor
Amy Lloyd estudo inglês e escrita criativa na
Universidade Metropolitana de Cardiff. Ela ganhou a competição nacional do
jornal britânico Daily Mail com este livro. Vive em Cardiff, no País de Gales,
com seu parceiro e dois gatos.
Ficha
Técnica
Título: Rio Vermelho
Escritor: Amy Lloyd
Editora: Faro Editorial
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-9581-014-3
Número
de Páginas:
266
Ano: 2018
Assunto: Ficção de suspense
Eu peguei ontem pra ler e já tô viciada desde o prologo.
ResponderExcluirAmei a resenha. Já vi que vou enlouquecer.
Bjksss
Bom dia,
ResponderExcluirEstou lendo o livro e gostando bastante, vamos ver aonde tudo isso vai dar....kkk..parabéns pela resenha...abraço.
http://devoradordeletras.blogspot.com.br/