O Homem de Lata, livro de Sara Winman, foi
publicado no Brasil pela Faro Editorial em
2018 (1ª edição, 156 páginas), com tradução de Elvira Serapicos.
Trata-se do romance de estreia da escritora inglesa, que também é atriz. A obra
tornou-se um bestseller internacional e ganhou prêmios, incluindo New Writer of
the Year no Galaxy National Books Awards.
A obra tem início no ano de 1950, quando Dora
Judd ganha um quadro numa rifa, três semanas antes do Natal. Um quadro de
girassóis (reprodução de Os Girassóis, de Van Gogh), que ela defendeu com
afinco quando o marido Leonard Judd entrou pela porta e foi em direção ao
quadro na parede. Ele havia ficado indignado com ela por não ter escolhido uma
garrafa de uísque em vez da imagem. Essa introdução da história nos dá uma
visão da família de Ellis, da força usada pelo seu pai, dos sonhos da mãe e da
grandiosidade de uma obra de arte que vai aparecer em vários momentos na
história. Não só está, mas outras referências artísticas sobre literatura,
música e artes plásticas são citadas.
Adentramos o ano de 1996, a partir do qual as
lembranças vão trazendo à tona a história de pessoas que estão numa foto, “uma mulher e dois homens. Estão rigidamente
enquadrados, os braços em torno um do outro; o mundo atrás deles está fora de
foco, e o mundo de cada lado, excluído. Parecem felizes, e de fato estão.” Esse
trecho, especificamente, reproduz muito bem o significado da relação entre as
pessoas da foto e sua posição diante da vida.
Ellis Judd e Michael eram dois garotos de
doze anos de idade e criaram um laço de amizade muito forte. Em Oxford, cidade
na qual cresceram, os dois aprenderam muitas coisas juntos. Uma amizade que foi
aos poucos revelando a existência de um sentimento maior entre os dois. Algo
mais que uma forte amizade tomava o coração dos personagens.
Juntos eles aprenderam a nadar, trocaram
informações sobre autores e livros, ouviram músicas que ainda pairam na memória
dos dois (mesmo quando adultos) e passaram por momentos difíceis ao lado de
seus pais. Ellis, que sofrera a perda da mãe (aquela que ganhara o quadro) em
decorrência de uma terrível doença, passa por situações vexatórias e pela
dominação de seu pai. O garoto, atendendo ao pedido da mãe, queria manter o
sonho de se tornar um grande artista, continuar pintando e desenhando, como
fazia. No entanto, o pai, com pulso firme e certa frieza, planejara algo
diferente para o filho.
O leitor acompanha a história dos dois
personagens: Ellis e Michael e de uma terceira que aparece na trama: Annie. Ela
chega na vida de Ellis e se casa com ele. Vivem os dois num período em que
Michael já não está por perto, que o leitor vai compreender na medida em que a
história avança, na segunda etapa do livro.
Numa narrativa que encanta, Sarah traz à sua
história personagens de grande expressão, com personalidades que apresentam
ares críveis. Aborda o despertar de sentimentos que há entre Ellis e Michael e
o rumo diferente que suas vidas tomam, ainda que, de certa forma, um resida na
memória do outro. No campo dos sentimentos a autora aborda a dor da perda, que
se demonstra em algumas passagens emocionantes do livro, fala sobre o misto de
sentimentos que se confundem e que se emaranham nas relações, trata de modo
particular o alastramento de uma doença na década de 1980, fala de afeto que
transcende, de falta de tato, toca em questões familiares e passa pelas
lembranças.
“... o
fato de ele não lembrar não apagava o passado. Todos aqueles momentos preciosos
ainda estavam em algum lugar.”
Na primeira parte do livro, em 1996, vemos a
história centrar-se em Ellis. Demonstra, portanto, acontecimentos vividos por
esse personagem. Ele é mais introspectivo e com ele os sentimentos são mais
conflitantes, uma pessoa mais complexa de se entender. Já na segunda parte do
livro temos o foco da trama no personagem Michael, em 1989, com quase quarenta
anos. Michael parece mais despojado, mais ciente de seus desejos, mais decidido
em relação a viver a sua vida do modo que lhe parece correto, transparente em
seus anseios e sentimentos.
No que refere-se ao tempo vamos ainda passar
pelo mês de junho de 1990 e novembro daquele ano e depois retomar ao ano de
1996. Ao longo da história, quando tomamos conhecimento do que acontece com os
personagens, vem logo na mente a questão: o que teria acontecido se tivessem
vivido aquilo tudo de maneira diferente?
Vale mencionar que a narrativa de Sarah
Winman entremeia o tempo atual vivido pelos personagens com o tempo pretérito,
em que suas memórias nos contam a história que viveram e formam a ligação com
os acontecimentos atuais.
O Homem de Lata é um livro profundamente
tocante, que nos emociona na relação construída por Annie, Michael e Ellis, e
em função dos acontecimentos pelos quais eles passam. Há na vida dos três questões
que revelam aprendizado, renovação de laços, rompimento de barreiras e
limitadores, e imenso afeto.
“Olho
para esses jovens, não com inveja, mas com admiração. Está nas mãos deles agora
a beleza da descoberta; a infinita paisagem lunar da vida que se descortina.”
A sinopse do livro diz que “esta é quase uma história de amor. Mas seria muito simples
defini-la assim”. Ao concluir a leitura da obra temos a visão da extensão
desse trecho do texto. Sim. De fato o livro é mais, mais tocante, profundo,
emocionante. Quando conclui a leitura, não me veio outra definição que não
fosse: um livro para ser lido e sentido. Ele vai além do amor. Nos emociona,
nos abala, nos toca e nos faz refletir, pois as questões que estão ali retratadas
estão no campo do intangível que é a vida.
Sobre o
autor
Sarah Winman nasceu em 1964 na Inglatera e é
escritora e atriz. O Homem de Lata, seu romance de estreia, tornou-se
best-seller internacional e ganhou vários prêmios.
Ficha
Técnica
Título: O Homem de Lata
Escritor: Sarah Winman
Editora: Faro Editorial
Edição: 1ª
ISBN: 978-9581-011-2
Número
de Páginas:
156
Ano: 2018
Assunto: Ficção inglesa
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