“_Me chame pelo seu nome e eu vou chamar você pelo
meu.”
Na Riviera Italiana
é verão. Todos os anos o pai de Elio, um professor universitário, recebe em sua
residência um jovem acadêmico. O objetivo do pai de Elio é ajudar o acadêmico
em suas pesquisas universitárias. Nesse ano não é diferente e chega na casa um
americano de tipo atraente e conversa evasiva, Oliver, que vai passar no lugar
as seis semanas do verão. O jovem Elio
cede seu quarto ao visitante e muda-se para o quarto do avô. Ali, na casa da
família, Oliver trabalha sobre os manuscritos de seu livro, mas também
aproveita o verão quente e ensolarado com banhos na piscina, passeios e voltas
de bicicleta.
Naquela casa a
conversa vez ou outra para em discussões sobre literatura, bastante presente ao
longo do livro, bem como outras esferas artísticas, como as artes plásticas e a
música. Notadamente trata-se de uma família com recursos financeiros e
intelectuais, o que propiciou a formação de Elio e o faz ser o personagem que
narra o livro como o faz.
Por razões
diversas o jovem de vinte e quatro anos desperta interesse em Elio. Entre eles
se instala certa tensão, como se ambos tentassem descobrir o terreno no qual
estão pisando. Há um misto de sentimentos que pairam entre o desconhecido e o
desejo, a vontade de se livrar do que sentem e de entregar-se sem amarras,
entre o medo da rejeição e a possibilidade ampla da aceitação.
“E por que eu não
mostrava a ele o quanto estava derretido? Porque tinha medo do que poderia
acontecer? Ou seria medo de que ele risse de mim, contasse para todo mundo ou
me ignorasse completamente sob o pretexto de que eu era muito jovem para saber
o que estava fazendo? Ou seria porque se ele suspeitasse – e qualquer um que
suspeitasse necessariamente estaria na mesma situação – ficaria tentado a agir?
Eu queria que ele agisse? Ou eu preferia uma vida de desejo não realizado desde
que seguíssemos com esse joguinho de pingue-pongue: não saber, saber, não
saber, saber?”
Nesse jogo que se
cria na relação entre eles há barreiras a serem rompidas, existem desconfortos
que precisam ser adequados, e quando isso acontece, suas vidas mudam.
Me Chame Pelo Seu
Nome, de André Aciman, foi publicado no Brasil pela Editora Intrínseca (1ª
edição, 288 páginas) e tem texto traduzido por Alessandra Esteche. O referido
livro foi publicado originalmente em 2007 e baseou o filme de mesmo nome, lançado nos cinemas em 2017 e que tem
direção de Luca Guadagnino e roteiro de James Ivory.
O egípcio Aciman
narra a história em primeira pessoa, pela voz de seu personagem Elio, o jovem
de dezessete anos, filho do professor universitário. Com um texto sensível e encantador
trata em seu livro sobre a descoberta da sexualidade, do flerte com o
desconhecido, dos medos e desejos que se misturam e se confundem. Mesmo na
sensibilidade em traduzir os sentimentos dos personagens, há força e
contundência em dadas passagens. Aciman tem uma prosa poética e faz com que os
sentimentos transbordem. A maneira como Elio narra, de certo é fruto de sua
influência intelectual no cerne daquela família que, como mencionado
anteriormente, muito fala sobre música, arte e literatura.
Élio é um
personagem que se desnuda por completo diante do leitor. Conta-nos sobre os
acontecimentos, discorre sobre suas falas, expõe seus pensamentos, suas dúvidas
e inquietações, fala do sexo, e tudo isso o torna completo diante da leitura e
permite a quem ler ver todas as suas nuances ao lidar com o desejo. Há por
parte dele o desconhecimento em relação ao que sente, a negação que se ajusta
com o passar dos fatos, a aceitação que o faz olhar para si, a entrega a laços
que se estabelecem, que se rompem e que se refazem, e até se transformam.
“Se eu não era
mais transparente e agora conseguia disfarçar parte tão considerável da minha
vida, então finalmente estava a salvo, deles e dele – mas a que preço? E eu
queria mesmo estar a salvo de qualquer pessoa?”
O leitor passará
do encontro primeiro que ocorre com a chegada do americano a anos adiante,
tendo ampla visão das marcas deixadas por aquela paixão ocorrida no verão e de
que forma elas ficaram presentes na vida de Elio.
O livro se torna muito
interessante pela forma com que a narrativa
nos conduz, pela maturidade do autor ao tratar a sexualidade do personagem sem
cair em cenas clichês, pelo texto que seduz. O clima do livro, por assim dizer,
nos coloca na Riviera Italiana, assistindo a tudo.
Há possibilidade
de que quem leia se questione: O que há de novo em contar uma história de
descoberta? O mérito de Aciman é como contar a história, coisa que grandes
escritores sabem fazer. Com uma narrativa envolvente e focada no lado interno dos personagens, com sensibilidade, fugindo dos clichês que envolvem personagens homossexuais e com perspicácia ele transforma Me Chame Pelo Seu
Nome numa bela história de conhecimento sobre si e sobre esse sentimento
chamado paixão.
André Aciman | Foto: Sigrid Estrada |
Sobre o
autor
André Aciman nasceu em Alexandria, Egito. É
ensaísta, romancista e pesquisador de literatura do século XVII. Seus textos
foram publicados em veículos de destaque, como The New Yorker, The New York
Times e The Paris Review. Doutor em literatura comparada pela Universidade
Harvard, foi professor na Universidade de Princeton e leciona no The Graduate
Center em Nova York, Estados Unidos. Me Chame Pelo Seu Nome foi adaptado para o
cinema em 2017, com exibições aclamadas nos festivais de Berlim, Toronto, do Rio
e no Sundance.
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Ficha
Técnica
Título: Me Chame Pelo Seu
Nome
Escritor: André Aciman
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-510-0273-5
Número
de Páginas:
288
Ano: 2018
Assunto: Romance egípcio
Instigante. Fiquei curioso para ler! Ainda não assisti ao filme, acredita?
ResponderExcluirAbraço