Jaime Azevedo é
autor do livro “Tudo que ama e rasteja” e também tem contos publicados na
Amazon. Ele falou ao Tomo Literário sobre seu contato com a literatura, seus
livros, novo livro de ficção científica e o cenário literário, além de indicar livros e autores. Confira a
entrevista.
Tomo Literário: Como
foi o seu primeiro contato com a literatura?
Jaime Azevedo: Acho que
foi em casa, meus pais e minha irmã sempre leram. Mas o livro era mais um
objeto. Somente na escola foi que aprendi a ler e tive um interesse real pelo
texto escrito.
Tomo Literário: Quando
e como você decidiu se tornar escritor?
Jaime Azevedo: Acho
complicada essa definição de escritor. Eu escrevo, mas não vivo da escrita; ela
ocupa um espaço na minha vida, mas não tem, sei lá, um protagonismo. Meu primeiro
livro começou de uma quase aposta, já com uns trinta anos de idade. Um amigo,
jornalista como eu, frisava a importância de se ter uma vida literária e tempo
para escrever; eu achava que bastavam uns quinze minutos todo dia e pronto.
Levou nove anos, não sei quem estava certo.
Tomo Literário: De
onde surgiu a ideia do seu livro Tudo que Ama e Rasteja?
Jaime Azevedo: Eu já
vinha pensando em algo depois do meu primeiro livro “M, Os Contos Gorgônicos”,
mas ainda estava tudo meio nebuloso. Fui internado com pancreatite causada por
um procedimento simples e fiquei cheio de tempo no hospital (acompanhado por
muita dor e muito mal estar). O ambiente médico foi uma inspiração, juntei isso
à vontade de discutir essas questões morais contemporâneas e surgiu a ideia.
Tomo Literário: Quanto
tempo levou o processo da escrita até a publicação do livro? Qual foi a etapa
mais complexa?
Jaime Azevedo: Tudo levou
quase um ano, um pouco menos. A escrita em si durou cerca de quatro meses. A
etapa mais complexa foi, sem dúvida, a produção gráfica. A faca na capa do
livro exigiu muitos testes e planejamento para que ficasse estável (uma forma
muito complicada poderia rasgar facilmente, por exemplo), além da busca do tom
de rosa ideal (ao final a gráfica propôs passar a capa duas vezes pela máquina
para garantir um magenta vibrante sem aumentar muito os custos).
Tomo Literário: Destacaria
alguma passagem do livro para aguçar a curiosidade dos leitores?
Jaime Azevedo: Acho que o
final é surpreendente e expõe as vísceras do livro, que são as grandes questões
que eu tentei discutir através do terror: a confusão nem sempre tão aparente
entre os conceitos de bem e de mal, os descaminhos do amor e os perigos do
moralismo.
Tomo Literário: O
gênero de horror é o seu preferido para escrever ou você também transita em
outros gêneros literários? Caso afirmativo, tem algum livro ainda não publicado
de outro gênero? Do que se trata?
Jaime Azevedo: Este ano
vai sair uma coletânea de contos policiais de vários autores da qual participo.
Gosto do fantástico, do absurdo, ficção científica também. Tenho umas coisas
escritas nesses gêneros, mas não sei se rola ainda a publicação - tem uma ou
outra coisa na Amazon, em formato eletrônico, coisas curtas. Essa divisão em
gêneros é uma benção e uma maldição; ajuda a achar um público, mas repele outra
parcela. Eu não escrevo muito pensando em me adequar a um gênero. “Tudo que Ama
e Rasteja”, por exemplo, é um livro de horror, mas é também policial, thriller
médico, romance erótico e literatura pura e simples.
Tomo Literário: Como
você vê o cenário literário nacional atual? Quais são as maiores dificuldades
para o escritor e o que há de facilidade na publicação?
Jaime Azevedo: Eu percebo
uma melhora, e credito integralmente à internet. Novos autores têm muito mais
chance de chegar aos leitores através de redes sociais, Youtube, Skoob… O
problema é que a oferta aumentou exponencialmente também, e cabe ao leitor
buscar as novidades e filtrar o ruído. Mas uma parcela do mercado já escapou
das mãos das grandes editoras. Pequenas tiragens também são uma realidade, o
que viabiliza muita coisa legal. O grande desafio é realmente ser lido, é
necessário um esforço intenso de divulgação que nem sempre é a praia do autor -
que precisa escrever acima de tudo. A vantagem de uma grande editora é a
máquina de marketing e distribuição à disposição.
Tomo Literário: De
modo geral o que te move a escrever?
Jaime Azevedo: Penso
naquela história e tenho vontade de compartilhar. Mas a raiz disso tudo, quem
sabe? Dizem que é a vontade de se eternizar, desafiar a morte e o esquecimento,
ou a necessidade de ser reconhecido, ou o exorcismo dos demônios internos, como
uma espécie de terapia; não me identifico muito com nenhum desses motivos. Mas
não sei… é algo difuso, nunca consegui racionalizar.
Tomo Literário: Você
tem algum método ou processo de escrita? Elabora um planejamento da história ou
se põe a escrever a partir da ideia?
Jaime Azevedo: Elaboro
uma sinopse bem detalhada, de várias páginas; é nela que desenvolvo e testo a
história. Quando ela chega no ponto começo a colocar carne no esqueleto. Um ou
outro desvio vai aparecendo, mas o livro costuma ficar bastante fiel a esse
roteiro original.
Tomo Literário: Você
está trabalhando em algum novo projeto literário? Pode nos contar?
Jaime Azevedo: No
momento, não. Estou muito focado em promover “Tudo que Ama e Rasteja” que foi
lançado em dezembro de 2017. Acho que lá para o meio do ano pode ser que eu
tenha tempo para me concentrar na escrita.
Jaime Azevedo / Foto: Reprodução |
Tomo Literário: Quais
são os escritores que você admira ou que exerceram alguma influência sobre o
seu trabalho como escritor?
Jaime Azevedo: Muuuuita
gente. Machado de Assis, Neil Gaiman, H.P. Lovecraft, Chuck Palahniuk,
Cortázar, Borges, Saramago, Poe, Ítalo Calvino, Cruz e Souza, Lima Barreto… é
uma lista injusta e infinita.
Tomo Literário: Que
livros, de quais gêneros, você recomenda aos leitores? De que forma esses
livros te tocam?
Jaime Azevedo: Tenho que
aproveitar este espaço para falar de autores locais. A literatura do Rio Grande
do Norte é muito rica e vasta. “Pequenas Catástrofes”, de Pablo Capistrano, é
um puta de um livro que tem tudo que eu gosto: mistério, psicodelia e uma
discussão filosófica acessível e inteligente. “Pipa voada sobre brancas dunas”,
de Junior Dalberto, sintetiza o realismo mágico potiguar com um elenco gigante
de personagens e criaturas que dariam orgulho a Câmara Cascudo. “Exortações de
um Maldito”, de Brunno Mariano, um autor estreante, coloca em perspectiva as
ideologias e o Brasil contemporâneo em um romance histórico ficcional de alto
nível. “O Espetáculo do Mundo”, de Girotto, é um livro super denso que mistura
niilismo, física quântica e Laplace de forma dramática e imprevisível. E tem
ainda muita gente, autores como Nei Leandro de Castro, Damião Gomes, Cellina
Muniz e Márcio Benjamin, entre muitos outros bons escritores do estado.
Tomo Literário: Deseja
deixar algum comentário para os leitores?
Jaime Azevedo: Apoiem os
autores e obras que vocês leram e gostaram: compartilhem, resenhem, avaliem.
Esse retorno é muito importante para quem escreve. O ato de escrever é muito
solitário.
Conheça os livros do autor:
Tudo que ama e rasteja
O que se esconde por trás do moralismo
galopante? Para Jaime Azevedo a resposta é simples: horror e sangue, insetos e
sacanagem. Em seu novo livro, "Tudo que Ama e Rasteja", ele continua
o seu processo de refinar o "gore" e extrair dele a essência que concentra
uma ou duas questões humanas fundamentais. Schadel é uma cidade de sonho, ou
pesadelo: um lugar surreal, castigado por histórias e pessoas curiosas,
maravilhas e violência, um resumo onírico do mundo inteiro. Lá vive Sterben, o
médico que fugiu para o campo na esperança de cicatrizar feridas profundas,
antigas. Quando um paciente portador de uma doença venérea incomum cruza o seu
caminho ele é forçado a mergulhar no lodaçal de símbolos da cidade insana e se
depara com o início de uma epidemia sui generis: a genitália da população está
lentamente se transformando em insetos e outras criaturas rastejantes. A capa,
minimalista, conta com acabamento especial: a ilustração é apenas um recorte
que permite entrever parte da imagem da orelha interna.
Disponível na Amazon.
M: Os Contos Gorgônicos
Um assassino, um pianista e
uma mulher ferida. Três histórias que se cruzam e completam-se. Envolvidas pela
mais letal das górgonas - a Medusa. O olhar capaz de destruir tudo de infinitas
maneiras.
Disponível na Amazon.
Contos:
“Cheirinho de Café
com Chumbo”
“Minha Fada
Maldita”
“A Loira do Sofá”
“Uma fita
vermelha, 40 anos depois”
“Sobre Amor e
Serpentes”
Disponíveis na
Amazon.
Acompanhe o autor nas redes sociais:
Facebook: https://www.facebook.com/navedeona
É interessante conhecer o processo criativo dos novos escritores. O blog fez as perguntas certas.
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