As
crônicas do cineasta Braz Chediak
Por Renisse Ordine
Somos como um álbum de fotografias, com todos
os registros de nossas vidas: cada momento marcado está colado em nossa alma.
Unindo, construindo e reconstruindo os pedaços. Às vezes, organizados e outros
despedaçados com os vazios que passamos.
Assim é o livro do autor Braz Chediak que
percorre página por página de seu livro, nos contando suas histórias e
recordações. Belas, muito belas, as crônicas de “Uma corruíra na varanda.”
De sua cidade natal, Três Corações, nos
cantos das Minas Gerais, ele revive personagens de sua vida que, em contínuo
movimento de suas memórias, ainda percorrem as empoeiradas ruas do Bairro da
Cotia, um dos cenários de sua vivência.
Com grandiosa inteligência e vasta experiência,
daquele que por muitos lugares caminhou e muitas pessoas encontrou, une suas
crônicas, dividindo em etapas, ora dissertando sobre ele próprio: seu passado, suas aventuras, escritores,
músicas e pensamentos, sua carreira como cineasta ,outra contando histórias
locais.
A filosofia presente, mesmo o autor não se
considerando um filósofo, seguem nas considerações e questionamentos sobre o
nosso atual cotidiano. Reflexões sobre a solidão humana diante de tanta
informações e tecnologias, o congelamento da alma diante dos verdadeiros
sentimentos.
O que impressiona durante a leitura é o
conhecimento que o livro proporciona e nos leva a viajar através da música e
literatura misturados com as experiências de vida do autor que dedica, entre
suas escritas, homenagens aos seus amigos, como Nelson
Rodrigues, Leila Diniz, dentre outros, famosos ou não. Também citando
escritores como o inglês Henry Miller e a francesa Simone de Beauvoir. Nessa
relação entre as artes, as palavras parecem ditas, ao mesmo tempo que em
podemos cantá-las.
“Para
nós, velhos cronistas, o segredo é transformar em palavras as alegrias, as
tristezas, as indagações, etc., etc., e reparti-las com os nossos leitores, mesmo
que seja numa linguagem secreta.
E nossa
linguagem, nós nos compreendemos.”
Como uma ave corruíra, Braz Chediak passeia
pelo mundo pisando em terras fortes, porém sem deixar suas emoções fluírem,
sejam relembrando pessoas ou de sua varanda observando o mundo. Preenchendo
página por página, com música literatura e memórias, onde todas se fundem em
uma só vida, a sua própria em união com o som do universo.
“Uma
corruíra na varanda”, crônicas. Autor: Braz Chediak. Editora Penalux, 186 págs., 2017.
Disponível em: http://bit.ly/corruira_na_varanda_leia
Amostra grátis da obra:
Sobre a
resenhista
Renisse Ordine é colunista literária,
escritora e membro da ACLA (Academia Cachoeirense de Letras e Artes) e IEV
(Instituto de Estudos Valeparaibanos). Graduada em Letras e apaixonada pelo
mundo das histórias que vêm dos livros e do cotidiano.
Foto: Fernando Lemos |
Sobre o
autor
Braz Chediak nasceu em Três Corações,
MG. Em sua infância trabalhou como balconista, engraxate, vendedor de laranjas
em janelas de trens. Já no Rio de Janeiro, trabalhou como bancário durante 2
meses e, em seguida, como secretário do então senador Juscelino Kubitschek.
Deixou o trabalho formal e ingressou
no mundo artístico, trabalhando em peças teatrais e no filme O homem
que roubou a copa do mundo (1961).
Com bolsa de estudos concedida pelo
Itamarati (100 dólares mensais) foi para a Itália onde trabalhou como jornaleiro
enquanto estudava cinema. Voltando ao Brasil, trabalhou como ator, roteirista e
diretor de cinema.
Como roteirista escreveu A
lei do cão, matador profissional (1967) e participou do
roteiro de todos os filmes que dirigiu, tendo, inclusive, parceria com Nelson
Rodrigues.
Como diretor é dele os
clássicos Navalha na carne (1ª versão, 1969), Dois
perdidos numa noite suja (1ª versão, 1970), Perdoa-me por me
traíres (1980) e Bonitinha, mas ordinária (1981),
entre muitos outros. Todos eles tiveram algum tipo de problema com a censura da
época, por tratarem de problemas como fome, adultério, prostituição e outros
temas então considerados tabus.
Seu conto “O peixinho dourado”
fez parte da antologia Crime feito em casa, organizada por Flávio
Moreira da Costa (Record, 2005). Em 2011, publicou seu primeiro romance: Cortina
de sangue(Mirabolante Editora).
De sua assídua colaboração como
cronista em diversos jornais mineiros, para os quais escreveu mais de 400
crônicas, surge agora essa seleção de crônicas.
Atualmente vive em sua cidade natal,
onde dirige cursos de formação de atores e rege a Banda Tricordiana composta
por crianças da periferia da cidade.
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