“Este
lugar é maldito. Cada centímetro deste solo foi amaldiçoado. Não há nada de bom
aqui.”
Em Rancho Oeste um vampiro ataca as pessoas e
os jornais tratam do assunto em matérias que falam do “assassino mutilador de pescoços”. Então, começamos a ter contato com a história
de Kelvin Malon, um piloto conhecido, um homem que tem um ar de sedução e
provoca admiração, mas que mantém sua essência como um vampiro voraz. Já
sentimos o ritmo da narrativa logo no primeiro capítulo do livro de Aislan
Coulter.
“Malon
segura firma o volante e aperta o controle. Os portões se abrem. Ele acelera e
sobre a rampa. Salta. É uma manobra e tanto. Os pneus pousam, amassando o chão
do pátio da mansão. A porta da garagem se abre. Um sorriso cruel e nefasto
estica o rosto do vampiro.”
Nos capítulos nomeados como Memórias de Aline
Brein, que se intercalam com outros, temos uma espécie de diário dessa
personagem. “... esta é a página duzentos
e cinquenta e quatro do meu livro, mas eu rasguei todas as outras, o que torna
esta a primeira” – declara a personagem em sua primeira aparição. Os
relatos feitos por ela, em primeira pessoa, são carregados de terror,
referências pop e beiram a tênue linha entre a loucura e a sanidade; o que se
reforça pelos acontecimentos que Aline descreve com sua esquizofrenia e pela
voz que lhe fala ao ouvido. Ela teria sofrido exposição na internet, o que a
abala claramente, e que ela tenta lidar de algum modo. Um assunto pertinente e
atual.
Essa personagem, particularmente, tem uma
complexidade que aguça. O leitor há de se questionar até que ponto algumas coisas que
ela narra de fato aconteceram ou se não passou de algo que ela tenha imaginado
ou que tenha sido provocado pela voz que fala a ela. Ou ainda que advenha do
trauma aliado à esquizofrenia. Nesse ponto, vale mencionar que não me refiro ao
abuso de terem a exposto nas redes, mas a outros eventos que ela vai contar a
quem ler o livro. Afinal, a voz que a ronda parece ter objetivos a cumprir.
Outra trama que segue em paralelo é a de um
assassino da Deep Web contratado para um determinado serviço. “Sou acostumado a matar gente!”
Aos poucos, as tramas que parecem desconexas
e sem ligação, vão mostrando que se interligam. Elas se entrelaçam para dar
unicidade ao livro de Aislan Coulter: Twittando com o Vampiro. O livro é uma
publicação independente, cujo e-book está disponível na Amazon.
Todas as subtramas são bem montadas e se
amarram perfeitamente, chacoalhando o leitor com as surpresas. É como um
quebra-cabeças que vai se compondo a partir de peças que vão sendo dadas ao
longo da narrativa. Twittando com o Vampiro é aquele tipo de livro que nos
conduz, nos envolve, e quando notamos já estamos mergulhados na história,
tentando interligar os fatos e loucos para chegar ao desfecho, que vem com brilhantismo. Além
desse jogo que o autor cria com o leitor, ao não dar todas as evidências, mas
deixar com que ele perceba as ligações, é possível se aterrorizar com os
eventos obscuros que estão descritos no livro.
A narrativa de Aislan é ágil, o que torna a
leitura além de agradável, rápida e facilmente compreendida. Mas, não se engane
o leitor desavisado, pois é um livro de terror e tem cenas fortes e
impactantes, sangue jorrando, corpo sendo arremessado, língua arrancada,
pedaços de carne na boca, e outros tantos acontecimentos de arrepiar. A leveza
da escrita não significa dizer que é uma história leve. Ainda bem!
Aislan é um escritor que representa muito bem
o estilo gore. E não é por ser um estilo ágil de escrita que faltam elementos
que sustentem a história. Aislan faz bem a dosagem da fluidez de sua história
com a trama que vai se descortinando para o leitor, com cenas violentas e
repulsivas, com acontecimentos aterrorizantes, com personagens enigmáticos e
que parecem “brincar” (grifo meu) com
o leitor nesse universo sombrio.
O vampiro que dá título ao livro, volto a
dizer, não é aquele tipo sedutor e romantizado que muitas vezes vemos. Ele é
sanguinário (sem trocadilhos) e o leitor vai percebendo que, embora ele exerça
fascínio nas outras pessoas, o propósito dele é atraí-las como presas. A
imprensa que o denominava como um assassino disposto a dilacerar pescoços tem
toda razão. Essa é sua essência.
Aislan Couter transmite com naturalidade a
sua história no universo vampiresco. Suas influências com Drácula, de Bram
Stoker, Carmilla, de Sheridan La Fanu e Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice,
além de outros, o fez construir a sua própria história, que deixa marcas no
leitor de sua obra.
Devorei o livro, tanto pela narrativa
agradável, quanto pela objetividade do
autor, que descreve as cenas com o que é suficiente para que sejam
compreensíveis, mas sem alongar em descrições cansativas. Encanta ainda pela
história propriamente dita e por seus personagens.
E, sem dúvida, para quem gosta de terror, a forma
com que ele entra em cena há que ser destacada. Além disso, o livro tem ótimas
referências musicais, literárias, cinematográficas e afins, que são citadas ao
longo da história. E também há que se mencionar que não faltam passagens com
uma certa pitada de humor.
Se ainda não leu, há que se recomendar que
leiam. Nós também temos autores de terror de qualidade, e Aislan Coulter é um
deles.
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Aislan Coulter é considerado
uma das promessas do horror nacional. Suas histórias trazem uma mistura bem
brasileira aliada ao grotesco. É conhecido como mestre do regionalismo gore.
Twittando com o Vampiro é seu segundo livro. Ele também escreveu O Cordel de
Sangue e Lobisomen.
Ficha
Técnica
Título: Twittando com o
Vampiro
Escritor: Aislan Coulter
Editora: Independente
Edição: 1ª
ISBN: 978-85518-0449-7
Número
de Páginas:
192
Ano: 2017
Assunto: Ficção brasileira
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSuas resenhas são sempre maravilhosas, completas!!! <3<3
ResponderExcluirE esse livro é sensacional!!! <3<3
DAnii, muito obrigado. E concordo com você... esse livro é sensacional. :-)
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