[Entrevista] Jade Sand - Tomo Literário


Jade Sand é o pseudônimo literário de uma capixaba de trinta e poucos anos, casada, mãe, leitora compulsiva e autora. Ela escreveu Instigante e tem outros livros publicados na Amazon. Ao Tomo Literário Jade falou sobre seu contato com os livros, comentou sobre seus livros, falou de representatividade LGBT na literatura, novos projetos, romances hot e muito mais. Confira.

Tomo Literário: Você lembra do seu primeiro contato com os livros? Como foi? E quando você resolveu tornar-se escritora?

Jade Sand: Meu primeiro contato com livros foi muito cedo, eu aprendi a ler em casa e meu pai era fã daquelas revistinhas de faroeste, sucesso na época, então eu lia junto. E lia de tudo, a bíblia, bulas de remédios, jornais velhos, os livros dos adultos, até que tive acesso ao que foi, por bastante tempo, meu lugar favorito: a biblioteca municipal. Ali eu conheci meus autores favoritos e os romances de banca, os quais eu lia até cinco por semana. Fui e ainda sou uma leitora compulsiva. Mas escrever, eu só escrevia na escola ou quando alguém me pedia. Meu primeiro “trabalho” de escrita foi a revisão de um romance gay bem conhecido no Wattpad, que enviei para o autor, por minha conta. Isso me fez desenferrujar os dedos e refrescar as regras da língua portuguesa, ainda em 2015. Mas nunca pensei em ser escritora, ainda estou me acostumando com o peso da palavra.

Até que um belo dia eu resolvi pôr no Word uma ideia que eu tinha, bem louca por sinal, mas que foi meu ponto de partida. Não teve nenhum motivo especial, eu simplesmente pensei na trama, fui lá e escrevi. Terminei o rascunho principal em três dias, acreditem ou não. Sei que foi em outubro de 2016 e a partir daí eu não parei mais.

Tomo Literário: Você acaba de publicar o livro físico de Instigante, que já estava na Amazon. Como surgiu a ideia do livro?

Jade Sand: Não sei dizer exatamente como surgiu a ideia, só sei que pensei nela durante um bom tempo antes de ter coragem para escrever. Eu pensava em um personagem com uma psicopatia leve, que se envolvia com outro em uma relação doentia, mas depois, por causa do público que eu queria atingir, acabei mudando algumas coisas para que ficasse com mais cara de romance. Foi o primeiro livro que escrevi, com um pouco de vergonha ainda, quase sem técnica, joguei nas plataformas de autopublicação e foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

Tomo Literário: Qual foi a maior dificuldade no processo de publicação?

Jade Sand: Meu maior obstáculo foi o desconhecimento do processo e dos profissionais envolvidos, nunca tinha tido nenhum contato antes. Editoras eu só conhecia as dos livros didáticos. Quando eu vi o tanto de profissionais independentes e editoras comerciais com as mais variadas propostas (algumas inacreditáveis) eu fiquei admirada. Depois de alguns contatos, vi que não é apenas uma questão de preço e recomendação, tem a ver com a identificação também. No meio de tantos profissionais, encontrar aquele que casa com a sua ideia, com o seu estilo e com o seu orçamento é muito difícil. Mas no fim deu tudo certo, isso é o que importa. Acho que na próxima publicação o processo será mais tranquilo.

Tomo Literário: Há personagens LGBTs em suas histórias. Você acredita que há pouca representatividade na literatura?

Jade Sand: Há alguns anos eu tinha dificuldade para encontrar livros que abordassem essa temática, pelo menos diretamente. Lia livros que faziam referências veladas, com algum trecho ou personagem secundário, e pensava: Qual é o problema? Lembro que o primeiro que eu li que tinha um personagem gay mesmo foi no ensino médio, um livro que estava na biblioteca da escola. Sei que a autora era professora, mas esqueci o nome, era uma história bem comunzinha, mas foi a primeira que encontrei com facilidade. Hoje há mais variedade, mais quantidade, há inclusive algumas publicações de editoras grandes, mas ainda têm pouco destaque e muito preconceito.

Tomo Literário: Você tem livros de romance gay, como O Tesouro do Capataz e Intersex. Os seus leitores são mais homens ou mulheres? Há diferenças que você consiga captar entre os públicos?

Jade Sand: Então, o público depende muito do livro e da plataforma. Intersex (que tem uma proposta diferente) e principalmente Instigante, tem públicos mais femininos. Já o Como Conquistar um primo Hétero tem um público mais masculino e mais jovem. No Wattpad, onde é possível ver os gráficos, mais de 80% dos leitores são meninos. Na Amazon dá pra ver pelas resenhas. No geral, eu tenho muitos leitores, mas nem todos são fãs de histórias românticas, eles preferem os contos ou outros temas. Alguns até cobram que eu escreva fantasia ou ficção científica com meus personagens gays, talvez um dia eu consiga atendê-los.

 
Tomo Literário: Um dos seus livros tem um título polêmico: Como Conquistar seu Primo Hétero. Pode falar um pouco sobre a ideia do livro? O que a motivou a escrever a história?

Jade Sand: Na verdade, o título desse livro seria “Manual da Conquista”, mas no dia em que fui postar o primeiro capítulo no site que eu escrevia na época, resolvi mudar. Horas antes eu havia comentado com uma colega sobre como certas palavras chamavam a atenção (no site em questão) e queria fazer um teste. Pois bem, no dia seguinte tinha mais de mil leituras, e nas plataformas livres ainda é o meu livro mais lido. Já foi plagiado, inclusive hehe, então acho que deu certo. Assim como Instigante, é um livro que chama a atenção pelo título, e para quem está ao lado de vários livros/contos numa mesma página, quanto mais polêmico e “instigante”, melhor.

A ideia do livro em si nem é tão polêmica, a intenção é apresentar de forma bem-humorada as tentativas de um garoto de 19 anos em conquistar um primo que na verdade é bem acessível, mas não do jeito que ele gostaria. É muito mais sobre o autoconhecimento de um garoto que está naquela fase onde não é mais criança, mas também não é tão adulto assim, do que da conquista em si. Cada capítulo do livro fala sobre um passo da arte da sedução, o que o personagem tenta, quase sempre sem sucesso. Acho que todo mundo nessa idade, independente de gênero e orientação sexual, passa por algo parecido. Eu me identifico em vários aspectos e muitos leitores também, especialmente os mais jovens.

Tomo Literário: Como você vê o cenário do gênero hot na literatura brasileira? E quais suas expectativas para 2018?

Jade Sand: Acho que romances eróticos sempre terão espaço, talvez eles precisem de alguma inovação, para sair do foco CEO bilionário x mocinha pobre, etc, mas eles sempre estarão aí. É um gênero que tem público certo, apesar do que, ao contrário do que muitos acham, não é fácil de escrever e nem todo autor faz sucesso.

Sobre as minhas expectativas, eu acho que assim como aconteceu com os livros hot depois de 50 Tons, os romances homoeróticos terão mais visibilidade depois do sucesso de Call me by your Name. Pelo menos, eu espero que sim.  

Tomo Literário: De modo geral, o que te inspira a escrever?

Jade Sand: Vixi, muita coisa. Coisas banais que as pessoas me contam, trechos que leio nos jornais, rostos peculiares, coisas que eu já vivi. Um dia eu estava colando jornal numa parede e encontrei uma notícia sobre um motel que servia como lavagem de dinheiro, escrevi um capítulo inteiro a partir dele. Escrevi o Tesouro do Capataz a partir de uma frase que li em um conto e uma cena do filme Piratas do Caribe. O curioso é que a “inspiração” raramente aparece no texto final. Para compor as tramas, normalmente eu começo pelo problema central, os personagens e lugares vem depois.  

Tomo Literário: Está trabalhando em algum novo projeto literário? Pode nos contar?

Jade Sand: Tenho focado principalmente em reescrever meus contos mais antigos. Nossa técnica muda conforme a gente vai treinando e ao ver coisas que escrevi há um ano, eu só consigo pensar em refazer tudo. Tenho dois romances em andamento que estão parados por causa da publicação de Instigante e um monte de ideias para desenvolver ao longo desse ano. Também passei o último mês trabalhando em roteiros, é uma coisa nova e bem trabalhosa, mas que tem me deixado muito animada. Se der certo, vocês saberão.

Foto: Reprodução
Tomo Literário: Que autores você recomenda ou quais autores influenciaram o seu trabalho como escritora?

Jade Sand: Eu sempre li de tudo, então é difícil dizer que autor me influenciou diretamente. Mas acredito que os livros policias têm muito peso na minha escrita, apesar de escrever romances. Muitos leitores comparam (embora eu esteja a anos-luz da genialidade dos mestres). Agatha Christie, Goerges Simenon, Erle Stanley Gardner — um escritor de histórias policiais sem muita profundidade que eu inclusive coleciono, e outros que li na adolescência e esqueci o nome dos autores.

Fora os policiais: Érico Veríssimo, Luiz Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, além dos clássicos que eu gostei na época do obrigatório e reli por prazer, como Dom Casmurro, o Ateneu, Casa grande e Senzala, Senhora...

Ultimamente tenho saído da minha zona de conforto literário e lendo outros gêneros, como fantasia e terror.

Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você indicaria aos leitores e de que maneira esses livros te tocam?

Jade Sand: Meu livro favorito sempre foi Olhai os Lírios do Campo, de Érico Veríssimo. Uma história que sempre me toca, não importa quantas vezes eu leia.

Uma das minhas últimas leituras e que já entrou pra minha lista de favoritos é Me chame pelo seu nome, de André Aciman, um livro que me fez repensar minha forma de escrever.

Também indico Dom Casmurro, pela genialidade da narrativa em primeira pessoa, que eu amo.
Indico também os contos de Agatha Christie, porque eu sou apaixonada por contos e os dela são incríveis.

Tomo Literário: Quer deixar algum comentário para os leitores?

Jade Sand: Quero dizer que se não fossem os comentários e puxões de orelhas que recebi desde o início, eu não teria hoje um livro nas mãos e muitas possibilidades pela frente. Quero agradecer pelo carinho que recebo todos os dias, pelas mensagens de incentivo e até mesmo pelas cobranças. É por isso que eu tenho me esforçado para produzir mais e melhor a cada dia. Gratidão.

Conheça os livros da autora

Instigante

Bruno poderia ser considerado um homem bem sucedido. Formado, trabalhando, namorando uma ótima garota e proprietário de um grande apartamento, ele não teria do que se queixar se não fosse a crise financeira. Para manter o dispendioso apartamento, ele decide dividi-lo com quatro rapazes, todos estudantes e trabalhadores.

Eric precisava de um quarto no centro da cidade e tinha pressa. Podia ser dividido. Podia ser até o quartinho de empregada nos fundos do apartamento do Bruno, embora a falta de ventilação piorasse as suas alergias. Sensível e misterioso, ele começa a despertar sentimentos diversos nas pessoas ao seu redor.

Romance Gay para maiores.

Versão digital disponível na Amazon e versão física pode ser adquirida diretamente com a autora.

Intersex

Léo está voltando à casa paterna de onde saiu há mais de dezesseis anos. Seu plano é resolver tudo e voltar para a vida tranquila que leva no Canadá. Mas num pequeno acidente na estrada ele conhece Rafael, um garoto cujo olhar o deixa intrigado. Através dele Léo é levado ao próprio passado, para uma história que ele não está preparado para enfrentar.

Bryan é um garoto "estranho". Adotado ainda criança por uma tia de Léo, ele vai morar com os Leonardi quando perde a mãe adotiva. Na comunidade rural em que vivem, os Leonardi se preocupam em manter as tradições e aparências, negligenciando a necessidade do garoto de ir ao médico aos treze anos. Quieto e arredio, ele encontra atenção junto ao primo Leonardo, que está no auge dos hormônios da juventude. E esse envolvimento pode trazer consequências muito sérias.

Romance gay.

Disponível na Amazon.

Querido Luke

Algumas pessoas saem de cena muito cedo...

Luke era lindo, amado e apaixonado pela vida, mas numa noite ele é encontrado morto na cama que compartilhava com o namorado. Envenenamento. Seria suicídio? Seus amigos não acreditam nisso e partem em busca de respostas.

A delegada Maria Lúcia passou por um duro golpe na vida ao perder seu único filho. Depois de anos de tratamento contra a depressão, ela volta ao trabalho, assumindo a investigação da morte de um jovem que aparentemente teria se suicidado. E ela não deve se envolver emocionalmente...

Ao adentrar no universo particular do jovem Luke, surgem novas pistas e indagações. Seria Luke tão feliz quanto parecia? Seria tão amado e sem inimigos, como todos acreditavam? Mas a suspeita permanece e círculo se fecha.

"Um dos que choram..."

Porque nem tudo são flores nessa vida.

Disponível na Amazon.

O Tesouro do Capataz

Romero, o capataz é um peão sofrido, mas ambicioso. Ele se recusa a descer a montanha apenas para se divertir no prostíbulo como fazem seus companheiros de trabalho, mas não pode negar que sente falta, principalmente quando ouve aqueles passos que rodam o momento do seu banho.

Tito, o delicado filho da padeiro, adora servir o capataz com seus deliciosos pães e com o que mais o moço desejar. Mas a vila é cruel com seu clima rigoroso e inóspito, seus moradores malvados e seus segredos ocultos. Numa época de dificuldades e preconceitos, nada vai ser fácil para o capataz e o jovem padeiro. Romance gay.

Disponível na Amazon.


Como Conquistar Um Primo Hétero

Átila é um garoto simples e atrapalhado, carente de pai e mãe, e desde pequeno recebe a ajuda dos tios para se tornar alguém na vida. Seus tios são os pais de Luiz Fernando, o primo que é tímido para o resto do mundo, mas que é muito safado quando está com ele. O jovem Átila se apaixona, sonha e sofre, esconde por anos o seu amor juvenil, até que numa noite, olhando a piscina onde tudo começou, ele toma a decisão de tentar conquistar de fato o primo hétero. Como Conquistar um Primo Hétero é um manual que vai ajudar o jovem Átila na sua empreitada.

Romance Gay.

Disponível na Amazon.


Contos disponíveis na Amazon.

UmNovinho Perigoso: (heterossexual).

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