Macunaíma – O herói sem nenhum caráter, do
escritor Mário de Andrade, foi publicado originalmente em 1928. O livro é
considerado uma obra importante da literatura brasileira. A edição objeto da
resenha foi publicada em 2001 pela Livraria Garnier.
“No
fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto
e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande
escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança
feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.” Esse é o primeiro
parágrafo do livro, que nos apresenta seu protagonista.
Macunaíma, como pode-se perceber nas palavras
iniciais do autor, é outsider. Ele é,
claramente, um anti-herói que ao longo do livro tem ações que podem contrariar
a sociedade. São nas ações desse personagem que o leitor vai se deparar com
demonstrações de muitas coisas genuinamente brasileiras, bem como a pitada de
aspectos indígenas e de nuances um tanto quanto folclóricas. No que se refere
aos demais personagens muitos deles tem uma breve passagem pelo livro, mas
ressaltam as qualidades ou defeitos nacionais. Macunaíma traz aquela mistura
que existe no povo brasileiro: é índio, negro e chega a virar europeu.
Mário de Andrade, em sua obra modernista, que
é tida como uma obra de vanguarda, cria um universo fantástico e bastante
particular, mas que coloca a brasilidade, ou melhor, a cultura brasileira
equiparando-se às demais. Ele dá destaque a coisas nacionais e mistura
expressões de várias regiões brasileiras.
“Ai!
que preguiça!....” Expressa-se
Macunaíma. Esta é uma de suas características mais fortes. Sim, Macunaíma é
preguiçoso.
Desde muito cedo o protagonista busca ter
prazeres amorosos com a mulher de seu irmão chamado Jiguê. Como é bastante
peralta acaba sendo abandonado pela mãe. E, ao andar pelo meio do mato encontra
um personagem do folclore brasileiro: o Curupira. Este, por sua vez, arma uma
cilada para o protagonista do livro. O que acaba ajudando Macunaíma a não cair
na armadilha feita pelo Curipira é a tal da preguiça.
Macunaíma conta ainda com a ajuda dos irmãos
e engravida a Mãe do Mato, mas ela perde o filho. E Ci, ao morrer se transforma
em uma estrela, mas antes disso ela entrega a Macunaíma um talismã. Tal amuleto
é perdido durante uma batalha que ele trava contra um monstro de nome Capei.
Tudo leva a crer que o amuleto fora adquirido por um rico fazendeiro que mora
em São Paulo. E o anti-herói de Mário de Andrade parte para São Paulo em busca
da pedra. A partir de uma proposta feita por um gigante ele foge por todo o
Brasil.
Interessante observar a forma com que o autor
lida com o espaço no livro. O personagem muda de um lugar para o outro sem que
haja aquelas descrições infindáveis sobre o novo local. É a própria narrativa
que conduz o leitor pelos cenários que o autor utiliza para as aventuras de seu
protagonista.
Pela personalidade do personagem é quase
impossível prever suas ações na medida em que as páginas do livro vão sendo
devoradas pelo leitor. Ele age com bastante malandragem, um certo cinismo e até
podemos dizer que tem ações inocentes.
Segundo informações que, inclusive, estão
presentes na parte final do livro, Mário de Andrade teria escrito Macunaíma em
apenas seis dias, em Araraquara – interior de São Paulo. Macunaíma tem uma
narrativa fora do usual, o que pode causar estranheza para alguns leitores. Há
várias palavras que são usadas, que por vezes, levam o leitor a procurar o
dicionário. Muitas das expressões utilizadas são próprias de determinadas
regiões ou advém do povo indígena.
A forma com que o autor narra é tida como uma
nova linguagem literária à luz da época em que foi escrito e, Macunaíma, é
considerado um livro revolucionário. Seu personagem, sem dúvida, é carismático
e, talvez, por ser um anti-herói, conquista ainda mais simpatia. Macunaíma é
individualista, preguiçoso e não tem nenhuma preocupação. Ainda é capaz de
mentir com facilidade e lança-se sempre em busca do prazer sexual.
Na obra, que aborda questões brasileiras, o
autor também inventa ironicamente a criação do futebol, do gesto de banana e
outros. Nas palavras de Mário de Andrade: “o
brasileiro não tem caráter porque não possui uma civilização própria nem
consciência tradicional”. Daí o fato de Macunaíma, o protagonista, ser
assim definido: um herói sem nenhum caráter. Brasileiríssimo, na visão de Mário
de Andrade.
O autor produziu uma obra que reflete múltiplas
facetas do povo brasileiro, usando-se de lendas, tradições, mitos, linguagem,
referências à culinária, flora e fauna do Brasil. Esses muitos elementos
mesclam-se ao longo da narrativa.
Macunaíma é, sem dúvida, um bom livro.
Interessante pela representatividade que tem na literatura brasileira e pela
revolução na linguagem adotada pelo autor. Apesar de ser uma obra complexa tem
um texto coeso e instigante. Vale a pena ler!
Sobre o
autor
Foto: Reprodução |
Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São
Paulo em 1893. Em 1917 concluiu o curso de piano no Conservatório Dramático e
Musical de São Paulo e publicou o seu livro de estreia: Há uma gota de sangue
em cada poema. Além disso, conheceu Anita Malfatti e Oswald de Andrade. Foi um
dos principais organizadores da Semana de Arte Moderna, que aconteceu no ano de
1922 no Teatro Municipal de São Paulo. Foi neste mesmo ano que publicou o livro
Pauliceia Desvairada. Em 1927 publicou Amar, Verbo Intransitivo. Além de
escrever romances, poemas e contos, Mário de Andrade também tem uma grande
coleção como crítico literário. Macunaíma está entre um dos seus principais
romances publicados.
Ficha Técnica
Título: Macunaíma
Escritor: Mário de Andrade
Editora: Livraria Garnier
Edição: 32ª
Número
de Páginas:
175
Ano: 2001
Assunto: Literatura brasileira
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