Metrópole – Contos que a Vida Conta – R. M. Sant’Ana - Tomo Literário

Metrópole – Contos que a Vida Conta – R. M. Sant’Ana

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Metrópole – Contos que a Vida Conta (161 páginas), de R. M. Santana, apresenta 19 contos que fazem uma denúncia social e provocam o leitor com reflexões sobre a desigualdade.

O primeiro conto do livro é ‘São Paulo, Metrópole da Desigualdade’, que já demonstra claramente a diferença que existe na cidade. Por mais que seja onde há forte produção econômica, parte da população está renegada. Às vezes, sob a chancela da lei, é essa população pobre e marginalizada quem mais sofre. Perdem emprego, perdem moradia, roubam-lhe a dignidade. Essa diferença social fica bastante clara no conto que tem um final revelador.

Vovó Tereza, mulher de corpo franzino e com sessenta e dois anos, protagoniza ‘Coração de Papelão’. E como muitas mulheres e homens da periferia, num cotidiano árduo e “matando um leão por dia”, se revela na história vivendo o dia de hoje (o amanhã não se sabe). E, “desde muito cedo ela aprendeu que o trabalho árduo e o sofrimento fariam parte constante de seu cotidiano.”

Em ‘Para o que der e vier’, Lindalva é uma moça que se envolve no mundo do crime. ‘Na Esquina de um beco’ Pedro espera. Ele teve uma vida dura que o levou a sofrer preconceito por ser pobre e preto. No caso do personagem, sua saída foi a marginalização.

‘Um Dia de Chuva’ mostra um casal apaixonado que faz planos para o futuro, um assaltante pelas redondezas e surge a mudança de vida dos personagens. Algo corriqueiro nas metrópoles. Situação possivelmente identificada nas páginas dos jornais e nos noticiários diários.

“Os grandes casarões e as demais antigas construções, que, em um passado não muito distante, serviram de moradia para a nobreza, servem agora como refúgio para famílias de miseráveis ou então como ponto de encontro para usuários de drogas, traficantes, assaltantes, marginais e marginalizados em geral.”

‘Dama da Noite’ conta a história da personagem Cidinha, que tinha o sonho de viver dignamente. Ela acaba seguindo uma vida atuando na prostituição, mas mantém em seu coração sonho de infância, que insiste em permanecer presente.

O livro tem conto que fala sobre as drogas (O Bom Exemplo), que fala sobre assaltos (O Presente), que aborda a situação do menor abandonado (Menor Carente).

‘Pagode de Mesa’, outro conto que faz parte do livro, começa apresentando uma situação agradável, de pessoas desfrutando lazer, mas de repente, em função de uma perseguição policial que se trava por ali, a interrupção do evento é inevitável. Nas periferias há muita gente inocente que acaba pagando a conta na luta entre a criminalidade e a lei.

Em ‘O Bom Filho a Casa Torna’, temos a história de um sonho que é também o da família. Um jovem que, com esforço, consegue concluir a universidade e volta para a casa. Já em ‘Prisioneiro do Passado’, temos a reviravolta na vida do protagonista, que se vê confrontado pelo passado.

Até mesmo o sonho de inúmeros meninos que vivem nos bairros pobres e que esperam ser jogador de futebol, está presente num dos contos do livro. Mas não é só isso, pois também escancara a existência (real) do preconceito racial e por classe social.

Rotina, Feliz Aniversário, Achado Não é Roubado, Então é Natal, Em uma República (Anti) Democrática Qualquer, Quarta-Feira de Cinzas, são outros contos que compõe a obra publicada pela Autografia.

Os contos que fazem parte de Metrópole, são de literatura marginal. O movimento surgiu na década de 70 e focam a crítica social. Os livros abordam personagens que são oriundos das periferias, lugares mais afastados dos grandes centros, bem como seus autores também tem origem nos bairros periféricos. Livros de literatura marginal tratam do universo da gente oprimida que leva sua vida convivendo com as diferenças sociais e o atendimento escasso do poder público. As histórias não são dotadas de um texto rebuscado, são de linguagem coloquial, por vezes utilizando gírias e o modo como se fala nas ruas, deixando de lado a norma culta.

Nesse livro, as narrativas são curtas, fáceis de ler e, cada um dos contos, chama o leitor para a reflexão sobre um dado tema. Estão representados aspectos sociais, psicológicos e políticos de personagens que vivem o cotidiano menos abastado. Os contos trazem personagens distintos que vivem num mesmo e similar ambiente. Será possível ver uma história de trabalhador devotado, de um homem de bem e também daqueles que acabam seguindo seu caminho na criminalidade. Sem julgamentos, mas que paire um olhar crítico sobre os temas abordados.

Na abertura de cada uma das histórias há uma ilustração de autoria de Anne Viana, que também ilustrou a capa da obra.

O livro foi publicado pela Editora Autografia em 2017. Os textos são críticos, sarcásticos e tocam em dores e sofrimentos de uma população menos privilegiada, que se vê à mercê do estado. Os contos são fictícios, no entanto muito próximos à realidade.

A ficção pode ser cruel (como muitas das histórias que se apresentam no livro), mas a realidade é mais. Um bom livro para ler a qualquer momento.

Sobre o autor

R. M. Sant’Ana é oriundo de um dos mais conhecidos guetos periféricos de São Paulo, a Vila Brasilândia, gerente comercial de profissão, artista plástico e escritor por paixão. Durante duas décadas trabalhou em empresas dos mais variados portes e segmentos, ingressou nos curso superiores de Arte, Educação, Letras e Mídias Digitais,  antes de, finalmente se formar em Marketing. Flertou com o teatro dos dez aos vinte e poucos anos, período onde tomou gosto por contar histórias e em que começou a escrever.

Ficha Técnica

Título: Metrópole – Contos que a Vida Conta
Escritor: R. M. Sant’Ana
Editora: Autografia
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-518-0488-9
Número de Páginas: 161
Ano: 2017
Assunto: Literatura brasileira / Contos

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