Charlie Chaplin é
uma figura representativa do cinema. Uma história que alie o seu nome a um bom
enredo, certamente prenderia a atenção do leitor, sobretudo aqueles que admiram
o trabalho do ator ou que já tenham assistido algum de seus filmes.
O livro do
escritor italiano Fabio Stassi, une elementos ficcionais a histórias reais. Na
trama, a morte vem buscar Charlie Chaplin. Idoso, ele resolve propor a ela um
desafio. Todo ano ela vem até ele e se, ele a fizer rir, a morte lhe
concede mais um ano de vida.
Como já passou dos
oitenta anos de idade e tem um filho pequeno, o ator gostaria de vê-lo crescer.
Na proposta que faz a morte na Noite de Natal, consegue fazê-la rir, mas não
pela sua esmerada técnica das telonas, mas pela comicidade própria da velhice.
Enquanto aguarda
um novo encontro, no próximo ano, escreve uma longa carta a seu filho
Christopher contando sua história. E assim o tempo vai passando até a morte
visitá-lo no próximo Natal, em que se dá mais uma vez o desafio.
A carta que
Chaplin escreve ao filho conta sua história (em primeira pessoa). São
deixados registrados os acontecimentos que ninguém ouviu e ali, por meio das
palavras, Chaplin tece todo o cenário de uma vida e de seu tempo. São
relatados fatos da humilde infância, o envolvimento do pai com a bebida
alcoólica, a doença mental que acometeu sua genitora.
Chaplin fala ainda
do surgimento de seu célebre personagem Carlito: "Foi naquele dia em que me tornei Carlitos, também é Tramp, o
vagabundo com chapéu-coco e bengala de bambu."
Relata sobre os
artistas com que cruzou ao longo de sua jornada, sobre circo, sobre a atuação
nos palcos, sua chegada aos Estados Unidos e suas outras atuações profissionais
que o levaram a trabalhar como embalsamador, tipógrafo e até boxeador.
Conta ao filho
sobre a primeira atuação como diretor no filme que fala da história de David
Coperfield, baseado na obra de Charles Dickens, bem como conta toda a sua
jornada de inserção no mundo
cinematográfico.
“... o público deve entender com uma olhada rápida
o que aconteceu ou está para acontecer, onde a ação se desenrola e quais são as
relações entre os personagens. Muito cabe ao diretor e aos atores, mas boa
parte do sucesso de um filme também depende desses detalhes.”
Ao longo da sua
vida encontra famosos e anônimos que dão a tônica de sua existência e trazem
bons acontecimentos a sua história pessoal, o que rende curiosas narrativas.
O autor Fábio Stassi faz uma boa dosagem de misturar ficção e realidade. E, para o leitor, pode parecer tudo verdadeiro
ou tudo fictício. A Última Dança de Chaplin foi publicado no Brasil pela
Editora Intrínseca em 2015 com tradução de Marcello Lino (222 páginas).
A maneira como
Chaplin escreve suas cartas, que são apresentadas nos capítulos intitulados de
"Rolos", uma referência clara ao cinema, é eloquente e a memória do
personagem lança os fatos ainda que sejam aparentemente irrelevantes, como diz
o autor, pela voz de Chaplin, no trecho. "De
quantos detalhes inúteis, Christopher, nos lembramos na vida."
O livro tem uma
dinâmica interessante, contudo não me agradou de todo. Os trechos ficcionais em
que a morte dialoga com Chaplin são curtos e, por vezes, sem a tônica da
comicidade com consequências da velhice como alude a sinopse e a orelha. Essas
partes poderiam ser mais exploradas despertando mais o interesse do leitor para
avançar na sequência de relatos.
As outras partes são
menos recheadas de comicidade, posto que tratam-se da narração de Chaplin sobre
os acontecimentos de sua vida. Vale pelas informações sobre ele, num misto de
fantasia e realidade que o autor utilizou para montar a sua trama. Em nota o
autor declara: “a aventura que vocês
leram é totalmente imaginária, embora contenha muitas situações verdadeiras.”
O texto é bom e já
foi premiado. No entanto, a forma com que a narrativa é conduzida, e o
intervalo com as ações de Chaplin com a morte, quebra o encanto sobre aquele
que é considerado um ícone do cinema. É o tipo de livro que hoje eu leria se
não houvesse outro para ler.
A Última Dança de
Chaplin é leitura para passar o tempo.
Foto: Basso Cannarso |
Sobre o
autor
Fabio Stassi nasceu em 1962 e é considerado
um dos escritores mais talentosos da Itália. Autor de outros três romances
premiados, Stassi recebeu por A última dança de Chaplin diversas honrarias,
entre as quais o importante Premio Selezione Campiello, tendo obtido a maioria
dos trezentos votos do júri popular que define o vencedor após uma rigorosa
seleção feita por críticos literários. De origem siciliana, Stassi mora em
Viberbo e trabalha como bibliotecário na Universidade de Roma.
Ficha
Técnica
Título: A Última Dança de
Chaplin
Escritor: Fabio Stassi
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-8057-656-6
Número
de Páginas:
224
Ano: 2015
Assunto: Ficção italiana
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