O gênero Scandi
Crime, histórias de detetives e crimes que se passam na Escandinávia, vem
crescendo cada vez mais entre os apaixonados por TV e literatura. Novos livros
e séries ambientados na cultura nórdica surgem todos os dias e estão fazendo
enorme sucesso. Com histórias ambientadas na Noruega, Dinamarca, Finlândia,
Islândia ou Suécia, o Scandi Crime tem se destacado. Anjo Russo, da
escritora brasileira Zia Stuhaug, é um desses exemplos. A autora concedeu
entrevista ao Tomo Literário e falou sobre o livro, novos projetos, literatura
infantil, processo de escrita e muito mais. Confira.
Tomo
Literário:
Como
se deu o início de sua jornada no meio literário?
Zia
Stuhaug:
Tudo começou com minha mudança para a Noruega, onde vivo há dez anos com meu
esposo e meu filho. No início, devido à
dificuldade com o idioma e ao isolamento, além das saudades do Brasil, recorri
muito aos livros para manter os laços com meu país natal e me manter ativa.
Tomo
Literário:
Quando
e como surgiu a ideia de escrever Anjo Russo?
Zia
Stuhaug:
A ideia surgiu em 2015, numa conversa com uma amiga russa. Eu a chamei de anjo
russo e, nesse momento, brilhou uma luz na minha mente.
Tomo
Literário:
Quanto
tempo durou o processo, da ideia até a finalização da obra? Alguma fase do
processo demandou maior complexidade?
Zia
Stuhaug:
Ao todo foram 12 meses. Eu parei somente
40 dias, no início da obra, para tratar de uma pneumonia que me tirou a energia
para trabalhar. Mas as cenas que se referem ao hospital eu escrevi mentalmente,
lá mesmo, entre uma agulhada e outra. Houve, sim, algumas que me custaram muito. As cenas do
crime, por exemplo, foram complexas e cansativas. Eu sofri muito ao
escrevê-las.
Tomo
Literário:
O
Scandi Crime tem ganhado cada vez mais apaixonados e apresenta uma cultura
diferenciada para o público brasileiro. Como tem sido a recepção dos leitores
ao seu livro?
Zia
Stuhaug:
Tem sido excelente. Todos os dias Anjo
Russo recebe algum retorno positivo dos leitores. Inclusive, uns chegaram a
me pedir para escrever Anjo Russo 2.
Eles têm gostado muito da obra.
Tomo
Literário:
Você
também tem livros infantis publicados. Como é escrever gêneros bastante
diferentes para públicos igualmente distintos?
Zia
Stuhaug:
Eu não vejo grande diferença entre escrever um livro infantojuvenil ou um livro
adulto. Contar uma história requer toda uma estrutura narrativa e, tanto para o
público infantojuvenil quanto para o adulto, são necessários técnica, dedicação
e muito trabalho, além de, claro, uma boa história que valha a pena ser
contada. E cavar histórias originais é um garimpo concorrido.
Tomo
Literário:
O
que te inspira a escrever?
Zia
Stuhaug:
No processo narrativo eu conto muito
pouco com a inspiração e bastante com a palavra trabalho duro. Isso porque tem
gente que acredita que o escritor se move na escrita somente por momentos
“mágicos” e que a escrita flui como a seiva generosa e medicinal de uma planta
milagrosa. Näo funciona assim. Tem dias em que a escrita não consegue cumprir o
papel para a qual ela foi criada: criar imagens com palavras. Ela não acontece
como gostaria. São nesses momentos que a leitura me ajuda bastante a ter
direção. E criar uma rotina de escrita facilita muito nesses momentos que
poderiam ser improdutivos.
Tomo
Literário:
Está
preparando algum novo projeto literário? Pode nos contar?
Zia
Stuhaug:
Já iniciei meu segundo romance. Estive em Paris, no início de outubro, onde se
passam algumas cenas e concluí um capítulo lá. Outras cenas se passam em
Londres, onde eu já vivi um ano e meio, e isto facilitou muito na hora de
escrever. A escaleta está pronta e agora preciso das pesquisas locais para dar
o máximo de veracidade à história que pretendo contar. Ainda não pensei no
título, mas a narrativa vai abordar um tema polêmico.
Tomo
Literário: Que autores você recomenda ou
quais autores influenciaram o seu trabalho como escritora?
Zia
Stuhaug:
A lista é grande, mas fico com alguns, já que são estes que me influenciaram a
escrever Anjo Russo. Liev Tolstói foi um autor que me tocou muito,
inclusive pelo seu testemunho de vida. Tanto que eu o citei no meu livro Anjo Russo e contei um pouco sobre a
vida dele. O autor sueco Stieg Larsson, que não só escreveu e contribuiu para a
popularidade do scandi-crime no mundo,
com a trilogia Millennium, mas
foi um jornalista que defendeu causas relacionadas aos direitos humanos, com as
quais também me identifico bastante. Jo Nesbø, em O Leopardo, contribuiu muito para minha decisão de escrever um
scandi-crime. Quando terminei de ler O
Leopardo, eu não tinha mais nenhuma dúvida do que queria escrever. Em Redoma de Vidro, de Sylvia Plath, em
que ela relata a depressão do ponto de vista da pessoa depressiva, eu
aprofundei alguns dos meus personagens. O livro O Conde de Monte Cristo,
de Alexandre Dumas, serviu-me de inspiração para o Tesouro de
Iduna, o qual se tornou o tema central do Anjo Russo.
Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros,
você indicaria aos leitores e de que maneira estes te tocam?
Zia
Stuhaug:
Eu leio de tudo. Gosto de todos os gêneros e, inclusive, biografia. De cada
nacionalidade eu tenho um autor preferido e um título que me conquistaram. Fica
difícil mencionar todos, então, vou falar de alguns: Eu fico tocada com livros
que denunciam a realidade, como O
Cortiço, de Aluísio de Azevedo, em que ele
consegue descrever em cenas coletivas como funciona o psicológico das
pessoas e como elas reagem diante das lutas da vida. Outros nacionais que eu
estimo muito: Gimarães Rosa, Graciliano Ramos em Vidas Secas, Rachel de Queiroz em O quinze e Memorial de Maria
Moura, Letícia
Wierzchowski em A casa das sete mulheres. Não poderia deixar de
citar Fiódor Dostoiévski, em Os Irmãos
Karamazov e Liev Tolstói em Guerra e Paz e Ana Karenina. A metamorfose de Kafka me fez parar para refletir sobre o
valor que temos em vida enquanto somos úteis. Tenho paixão por F. Scott Fitzgerald, Alexandre
Dumas (pai), e Victor Hugo, e aprecio bastante a obra de Gustave Flaubert, Madame Bovary.
Tomo
Literário:
Quer
deixar algum comentário para os leitores?
Zia
Stuhaug:
Sempre digo que não se trata somente do
que o autor escreve, mas do jeito como
ele escreve. Se for uma escrita direcionada e as cenas são narradas como se
o autor estivesse ao nosso lado, contando a história, não tem como não se
prender ao livro. Ler é uma importante ferramenta para se escrever bem. E
leitura é um hábito, a gente precisa criar. Assim como escovar os dentes e
pentear o cabelo. Quando nos costumamos com a leitura, ela se torna parte da
nossa rotina. Escrever é a mesma coisa. É assim que funciona.
Foto: Arquivo Pessoal da Escritora |
Saiba
um pouco mais sobre a escritora
Zia Stuhaug é paranaense radicada na Noruega
há dez anos. Formada em Administração pela Universidade Estadual de Maringá –
UEM e com Especialização em Gestão de Pessoas pela Universidade Federal do
Paraná – UFPR, atua como correspondente Internacional da Unijore - União dos
jornalistas e escritores de Maringá-PR, é membro da Alals - Académie de Lettres et Arts
LusoSuísse-Genebra. Publicou quatro livros infantis: Bursdagskake til Nikolai –
Noruega; Det Magiske Sjukehus – Noruega; Um Bolo de aniversário para Nikolai –
Brasil e A Galinha Suruca de Dona Georgina – Brasil. Zia debutou como escritora
do scandinavian-crime-fiction com o livro Anjo
Russo, lançado em setembro de 2017, no Brasil.
Conheça
o livro
Anjo Russo
Um inquietante thriller repleto de
referências à Escandinávia e a um mundo que nós, brasileiros, desconhecemos
completamente. Neve, aurora boreal, um manuscrito islandês do Século XIV,
mistérios e segredos se entremeiam e transformam a vida da jovem médica
brasileira Elisa, casada com um rico norueguês. Na prosa ágil e elegante de
Zia, um mundo novo e cheio de mistérios se abre aos nossos olhos. Uma voz aqui
do Brasil que vai até bem longe e nos apresenta esta história cheia de
aventura, coragem e amor. Uma narrativa sobre pertencimento, repleta de uma
saudade implícita, mas também de amoroso encanto pela Noruega, seus costumes e
sua gente.
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