A Jornada de Tony Farkas – Operação Guarulhos, é o primeiro livro de série do autor R. G. Werther, publicado pela Editora Autografia em 2017 (270 páginas).
Antônio Almeida Farkas, ou simplesmente Tony
Farkas, no ano de 2070, sai de sua casa com seu cão Max. O objetivo do jovem é
chegar à São Paulo, mais precisamente no município de Guarulhos, depois que,
por radiofrequência, conseguiu a informação de que havia mais sobreviventes.
“Você
não está sozinho no mundo. Há outros como você, que buscam por abrigo e
proteção. Eu venho aqui lhe dizer que ainda há uma chance para todos nós. Uma
chance de nos livrarmos dos invasores. Todo sábado, ao meio-dia, um avião
cargueiro, com brasão da república gravado nas laterais, estará no Aeroporto
Internacional de Guarulhos, em São Paulo, esperando por sobreviventes. O
destino dessa aeronave é Brasília, o último lugar seguro do país. Lá, você
encontrará água, comida, eletricidade, abrigo e proteção. Nosso avião
permanecerá no aeroporto por vinte minutos e partirá em seguida, por motivos de
segurança. Lembre-se: você não está sozinho no mundo!”
Num Brasil distópico, pós eclosão de uma
grande guerra, Tony Farkas em sua jornada descobre que não está sozinho e se
depara com um grupo de pessoas. Convive algum tempo com esse grupo. Paco,
Dinho, Vina, Sofia, Clara são alguns dos personagens que passam pela vida de
Tony, entre outros. Nesse período em que convivem, conflitos surgem entre os
membros do grupo, relação são fortalecidas e outras estremecidas. A luta pelo
poder e por espaço, aliada ao medo do desconhecido e a situação que vivem –
escassez de comida, e água – mexe com os personagens. Eles ficam por um tempo
num local chamado de O Templo, localizado na floresta da Tijuca. Ali se
abrigam.
“A pior
parte é que de 90% das pessoas que moram aqui, eu ainda não sei os seus nomes.
Alguns eu nem mesmo conheço direito, embora quase todos me conheçam e me
cumprimentem diariamente, numa eternidade assustadora.” A narração do livro é
feita em primeira pessoa, como pode-se observar no trecho citado, em que Tony
relata sobre as pessoas que vivem no abrigo em que ele está.
Com o passar do tempo um grupo acaba se
unindo para partir junto a Tony e Max, dando sequência ao plano principal que é
a chega a Guarulhos.
O grupo vai ter que enfrentar muitos
desafios, inclusive proteger-se dos milicianos, que fazem parte da Manobra
Limpeza – operação que visa reconstruir as nações apenas com as castas nobres,
vez que os considerados inferiores foram dizimados. A proposta em questão
partiu de países estrangeiros, que vislumbravam um mundo perfeito, somente com
pessoas ricas, existindo assim, na visão deles, uma sociedade próspera e pura.
Os líderes nacionais também aceitaram a referida proposta e agiam assim no
território brasileiro. Os milicianos que foram mencionados, buscam aniquilar os
inimigos que encontram pela frente, numa clara visão de que todos aqueles que
por ali estão são considerados inimigos, uma possibilidade de afronta a seus
planos ou aos planos de quem quer que seja que eles atendam.
Além do viés distópico presente no livro, há
também questões ligadas às relações pessoais: conflitos, paixões, dores do
passado que vem à tona, disputa por espaço (poder e espaço físico, propriamente
dito). O grupo de sobreviventes que parte com Tony enfrenta percalços e novas
descobertas, bastante reveladoras sobre a situação do país naquele momento,
sobre a existência dos milicianos e o que os separa dos sobreviventes que
formam um outro grupo.
O pano de fundo político e a luta de classes
que aparecem no livro, podem ser um bom caminho a ser explorado na continuidade
da jornada de Tony Farkas, posto que tal aspecto pode gerar bons conflitos e já
dá boas demonstrações da diferença que se tenta pregar por um dos grupos. A
colônia com os ricos e afortunados contra os rebeldes e pobres, que são
mantidos distantes, impedidos pela milícia que pode executá-los caso se
aproximem dos primeiros. Notadamente há uma certa referência aos conturbados
momentos pelos quais o país passa nos últimos anos. Essa questão política e de
classes é um ponto bastante interessante do livro e que merece destaque.
Vale dizer ainda que as relações criadas
pelos personagens foi bem explorada, demonstrando, inclusive, a descoberta do
próprio Tony Farkas, um jovem de dezenove anos, para o romance, criando o
conflito razão versus emoção; o que rende bons momentos na trama. As revelações
que vão acontecendo sobre os personagens também são interessantes, o que leva o
leitor a não saber exatamente de que lado estão e que posições verdadeiramente
eles apoiam. Em tempos atuais de visões extremas, os personagens do livro
revelam-se dúbios, demonstrando quem são aos poucos, atraindo a atenção do
leitor.
O livro demonstra o quanto o futuro pode ser
incerto. Diante de um país que se vê sitiado e ter de conviver com conflitos
que afetam a vida de todos, o autor deixa uma mensagem que leva-nos a refletir
sobre a situação degradante de um país.
Surpresas pegam o leitor até a última página
e o desfecho deixa aquele gosto de quero mais. R. G. Werther deixou um bom
gancho para a continuidade e que, certamente, deve surpreender o leitor.
Ficha Técnica
Título: A Jornada de Tony
Farkas
Escritor: R. G. Werther
Editora: Autografia
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-518-0297-7
Ano: 2017
Número
de Páginas:
270
Assunto: Ficção brasileira
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