[Entrevista] Antony Magalhães - Tomo Literário


Antony Magalhães é escritor, jornalista e roteirista. Tem 24 anos e atualmente mora em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Escreveu as séries “Guateka” e “Natasha” e, recentemente, lançou o livro Anacrônico. Antony concedeu entrevista ao Tomo Literário e falou sobre sua carreira, protagonistas fora dos padrões midiáticos e muito mais. Leia na íntegra.

Tomo Literário: Para começar nos conte como foi o início de sua jornada no meio literário.

Antony Magalhães: Sempre fui uma criança muito criativa. Antes mesmo de aprender a ler vivia folheando revistas e histórias em quadrinhos. Não sabia o que estava escrito ali, mas inventava histórias pra tudo. Quando aprendi a ler minha mãe sempre tentava economizar e comprar alguns gibis da “Turma da Mônica” pra mim. Fui me apaixonando pela leitura e quando passei a estudar em uma escola com uma boa biblioteca comecei a devorar livros. Eu praticamente morava na biblioteca. Fazia amizade com as bibliotecárias. Estudava a tarde, mas ficava na escola a noite pra estar na biblioteca. Comecei a escrever depois que minha professora de língua portuguesa passou “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban” pra turma assistir. Eu fiquei fascinado pela história. Soube que tinha livros e ela me emprestou os dois primeiros. Fiquei apaixonado e curioso pra ler o restante. Meus pais não tinham condições pra comprar livros, então decidi que iria escrever os meus.

Tomo Literário: Seu livro Anacrônico tem uma protagonista negra e deficiente física. Como surgiu a ideia do livro?

Antony Magalhães: Na verdade Anacrônico surgiu da união de várias ideias diferentes. Eram tramas distintas de uns quatro ou cinco livros que acabei unindo em uma só. Havia questões específicas que queria tratar e as coisas acabaram funcionando bem juntas.

Tomo Literário: Quanto tempo durou o processo da escrita até a publicação?

Antony Magalhães: Provavelmente uns 2 anos. Escrevi meus outros livros em 6 ou 8 meses, mas na época de Anacrônico eu tive que escrever os roteiros de duas séries de TV. Primeiro dei uma pausa pra escrever os 5 episódios de “Guateka” e depois os 13 episódios de “Natasha, então durante esse tempo não pude trabalhar no meu livro.

Tomo Literário:  Personagens fora dos ditames dos padrões impostos pela mídia ainda são pouco visíveis na literatura? Como tem sido a aceitação dos leitores?

Antony Magalhães: Eu sou um jovem negro, gordo e gay que morou a vida toda na periferia. Cresci em meio a violência e com vizinhos e outras pessoas dizendo que eu não seria nada. Dessa forma fui aprendendo a importância da representatividade. Eu não me via representado por livro algum. Lia muito e nunca encontrava um personagem que fosse parecido comigo. Quando comecei a escrever era uma das coisas que queria trabalhar. Queria que cada leitor pudesse de alguma forma se sentir representado. É raro vermos tanta representatividade quanto em Anacrônico. É um livro ousado e diferente e essa é uma das suas principais características.

Tomo Literário: Para você, quais são os maiores desafios do mercado literário brasileiro?

Antony Magalhães: Acho que as editoras grandes ainda são muito fechadas pro autor iniciante. Mesmo um autor com muito talento pode ter dificuldade pra entrar no mercado. Geralmente é preciso já ter uma base de leitores ou ter chamado atenção de outras formas. O autor tem que saber vender. Tem que ser autor, publicitário, administrador. Só escrever bem não adianta. É preciso ter visão.

Tomo Literário: Você tem publicação no Wattpad. Como você vê o uso de plataformas voltadas para escritores e leitores?

Antony Magalhães: É uma boa maneira de formar uma rede de leitores. Não é tão difícil se destacar. Sabemos que boa parte dos livros no Wattpad não seriam publicados por uma editora. Um autor que publica algo com qualidade e consegue divulgar pode ter boas chances de obter sucesso.

Tomo Literário: O que te move a escrever?

Antony Magalhães: Costumo dizer que escrever é como respirar. Morreria se parasse. Tudo me inspira. O tempo todo estou criando novas histórias e pensando nas que estão em andamento. É maravilhoso conversar com alguém que leu um livro meu e quer conversar sobre a história. Essa é a melhor parte.

Tomo Literário: Está preparando algum novo projeto literário? Pode nos contar?

Antony Magalhães: Estou escrevendo meu romance LGBT “Pregos pelo chão” e o policial ambientado na cidade onde moro chamado “Teatro Selvagem”, mas no momento vou dar uma pausa nos dois pra escrever o roteiro de “Todas as coisas que sinto” que é meu primeiro longa-metragem. 

Foto: Reprodução
Tomo Literário: Que autores você recomenda ou quais autores influenciaram o seu trabalho como escritor?

Antony Magalhães: Marcelo Rubens Paiva e Pedro Bandeira.

Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você indicaria aos leitores e de que maneira esses livros te tocam?

Antony Magalhães: Recomendo “Feliz ano velho” do Marcelo Rubens Paiva. É um clássico contemporâneo. Marcelo tem aquela narrativa sempre direta e sarcástica. Aprendi muito sobre literatura lendo os livros dele. Ler “Feliz ano velho” me ajudou a entender que eu poderia escrever o que quisesse e da forma que quisesse. Minha literatura é meu mundo. Eu que mando nele.

Tomo Literário: Quer deixar algum comentário para os leitores?

Antony Magalhães: Conheçam meu trabalho. Conheçam Anacrônico. É uma ficção científica distópica ambientada em um Brasil pós-guerra que tem agradado os leitores. As resenhas são positivas e é um livro que foi delicioso escrever. Aposto que ler também vai ser.

Conheça os livros do escritor

Anacrônico (Luva Editora)

Em um Brasil pós-guerra, a escravidão é um negócio lucrativo, o ar é tóxico, as temperaturas são altas e as pessoas vivem em cidades tecnológicas protegidas por redomas de vidro. Nessa sociedade que passa seu tempo entorpecida com drogas fornecidas pelo governo, vive a jovem escrava Maria. Comprada por uma família poderosa quando criança, aos poucos ela demonstra ser uma escrava diferente. Ela quer saber mais sobre seu passado e poder controlar seu futuro.

Maria quer vingança…

Wark: O livro da vida (Editora Multifoco)

Cada ser humano que caminha sobre a terra tem um anjo da guarda e todo anjo da guarda é responsável pelo wark de um humano. Wark é o nome do livro no qual, desde o dia do nascimento, os anjos escrevem sobre o futuro das pessoas e as escolhas que devem ser feitas por elas e cada um escolhe o caminho que quer tomar. Milhares de pessoas em todo o mundo entraram em coma por seus warks terem sido roubados e por seu futuro não estar sendo escrito. Eron foi o único que acordou e que agora está tendo a chance de ir em busca de seu wark. Mas por que os demônios e anjos precisam do wark dele? Onde está o wark de Eron? Por que ele é o único que acordou do coma?

Apaixonado Coração Apodrecido

Hugo assinou um contrato com a Mors e morreu. A empresa realizou o processo de zumbificação e ele voltou a viver. Quer dizer, teoricamente ainda está morto, mas andando por ai como se nada tivesse acontecido. Está um pouco podre e fede de vez em quando, mas não perdeu quase nenhum pedaço. Um ano após assinar seu contrato, ele já não tem tanta certeza se quer continuar vivo. A vida de um zumbi no Brasil é bem complicada. Os zumbis precisam enfrentar o preconceito e as dificuldades para se adequar na sociedade. A morte de Hugo muda quando faz novas amizades e juntos decidem desvendar crimes envolvendo a morte de outros zumbis já que ninguém mais parece interessado em investigar os crimes.

As Palavras que Ninguém Mais Diz

Danielle faz trabalho voluntário em um asilo pra fugir da mãe alcoólatra. Thiago não recebe atenção dos pais e não compreende seus sentimentos. Ela conta estrelas para se sentir bem e ele rouba, fuma e bebe com os amigos. Os dois mal se conhecem, mas não gostam um do outro. Tudo muda quando eles têm que trabalhar juntos no pequeno asilo da cidade. Após diversos desentendimentos, Thiago e Danielle contam com a ajuda de pessoas mais experientes quando o assunto é a vida e o amor. O poder do brilho das estrelas e da transformação do amor. Valiosas lições de vida dadas por quem já viveu o suficiente pra entender e ensinar tudo de bom que aprendeu.

Éden: Morte no Paraíso

Marcella Mattos é assassinada assim que volta de uma viagem internacional. Rica, educada, de boa família e com futuro promissor, ninguém imaginaria que alguém teria motivos para matar Marcella.

Agora todos os habitantes ricos e esnobes de Éden têm teorias sobre o que aconteceu. O psicólogo de Marcella ligara pra policia contando que em sua casa haveriam pistas que levaria ao assassino. A policia não encontrou nenhuma pista e ele nunca mais foi visto. Agora são seus filhos que vão ter que enfrentar o ódio e desconfiança de cada habitante de Éden.

Os livros estão disponíveis na Amazon.

Além dos livros mencionados Antony Magalhães tem publicado o conto “Apaixonado coração apodrecido” nas antologias “Zumbis e outras criaturas das trevas” da Editora Kalaco e “Zumbis no país do futuro” da Editora Multifoco. E ainda o conto “Pregos pelo chão” na antologia “Contos Astrais”

Acompanhe o escritor nas redes sociais
Instagram: https://www.instagram.com/antonymagalhaess/

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