Felipe Ferreira escreve para
o Cinemação, publicou seu livro Griphos Meus, de forma independente e está
trabalhando em seu primeiro romance, Desmembro, que conta com processo
colaborativo de leitores. O escritor concedeu entrevista ao Tomo Literário e
falou sobre carreira, inspiração, publicação independente e muito mais. Confira:
Tomo
Literário: Para começar conte-nos sobre o
início de sua carreira literária. Como foi?
Felipe
Ferreira:
Meu debute na cena literária foi em janeiro 2014 quando entrei para o time de
colaboradores do site Cinemação. Em dezembro do mesmo ano as críticas
cinematográficas que publiquei lá (os ‘griphos’) se juntariam a textos de
outros sites (Ambrosia/UOL e PubliKador) e alguns inéditos não publicados, e
daria origem ao “Griphos Meus”, meu primeiro livro.
Tomo
Literário: Griphos Meus, seu primeiro
livro, foi uma publicação independente. Que experiências você teve com esse
tipo de publicação? Há muita dificuldade?
Felipe
Ferreira:
A premissa fundamental pra quem publica um livro de forma independente é ter a
plena consciência de que ali é um investimento a médio, longo prazo que não te
deixará conhecido, muito menos rico, da noite para o dia. Sem o suporte
estrutural e logístico de uma editora o autor acaba tendo que cuidar de todos
os detalhes da publicação, desde a diagramação, do profissional que fará a
revisão, à gráfica, a distribuição dos exemplares e todo trabalho de marketing.
As dificuldades são inúmeras, e essa demanda extensiva de funções faz com que o
resultado não seja tão bom quanto poderia ser e o produto merece. É uma
experiência incrível, enriquecedora, que norteia o escritor em início de
trajetória no mercado literário a entendê-lo e a fazer o processo da próxima
publicação ainda melhor, e com uma editora ao lado. E desde já, faço o convite
às editoras de pequeno e médio porte que tenham interesse em conhecer mais
sobre o projeto do livro “Desmembro”.
Tomo
Literário: Cinema, literatura, música,
você fala sobre várias vertentes artísticas. Na sua visão, qual a importância
da arte para a sociedade?
Felipe
Ferreira:
Semana passada vi um vídeo que a maravilhosa atriz Beth Goulart postou no seu
Instagram no Dia do Escritor, no qual ela fala: “... sem arte não temos como
superar o caos”. Também tenho essa visão da arte. Qualquer expressão artística,
independente do gênero (Cinema, Música, Teatro, Artes Plásticas, Literatura...),
tem a função de proporcionar a humanidade um alento em meio à selvageria (em
contexto micro e macro) da vida cotidiana e também de nos provocar reflexões
mais densas e transformadoras do mundo ao nosso redor. Escrever é meu refúgio
íntimo. É a forma mais subjetiva pela qual consigo desopilar do caos nosso de
todo dia, de todas as vidas.
Tomo
Literário: No livro Griphos Meus, há a
informação de que você é uma “ostra triste (com prazer!)”. Se há possibilidade
de uma definição, quem é “Ostra” Felipe Ferreira?
Felipe
Ferreira:
O termo “ostra” foi uma apropriação literária. Tudo começou depois que li o
romance “Ostra feliz não faz pérola” do grande Rubem Alves. Devorei as páginas
num processo antropofágico de reflexos e descobertas. Minha identificação com a
narrativa foi tamanha que desde então aderi à “ostra” no Instagram, no Twitter,
no meu blog no Médium... Só não cheguei ao RG (ainda, rs!). O “Ostra Felipe”
digamos que é meu alter-ego que sonha muito, não duvida de nada e vê na
tristeza o caminho mais pleno e criativo para à utopia efêmera da felicidade.
Tomo
Literário: Atualmente você está
trabalhando no livro Desmembro, que conta inclusive com colaboração de outras
pessoas. Conte-nos um pouco sobre o projeto e como é esse processo
colaborativo.
Felipe
Ferreira:
A fagulha do romance foi algumas experiências oníricas que tive. Sonhos
estranhos, aparentemente sem muita lógica e cheios de símbolos. Alguns eu
consegui lembrar, outros já larguei de mão... (risos!) O sonho tem uma ligação
direta com a psicologia, a mente, a nossa imaginação, e tudo isso me instigou a
compreender bem mais a fundo o funcionamento de todo esse processo por fora e,
principalmente, por dentro. Além disso, quero mostrar como nossas memórias,
independente da origem mental do armazenamento, influenciam na nossa vida e na
de outras pessoas. Pra falar desse tema universal que é a memória é inevitável
que eu mergulhe nas minhas próprias lembranças. Aí tive a ideia de estender
essa rede e criei um questionário de memória colaborativa para proporcionar aos
leitores a oportunidade de compartilharem suas memórias para que sejam
entrelaçá-las às minhas e as do Arthur (protagonista do romance). Já li algumas
respostas, e tem muita história boa pra ser (re) contada.
Tomo
Literário: Você também escreve para
colunas em sites. Como é o processo de produção desses textos?
Felipe
Ferreira:
Meu processo de escrita é orgânico e de imersão. A ideia do tema, do assunto,
do objeto a ser analisado, parte de uma identificação minha como público e como
profissional. Entro num processo de estudo que envolvem leituras, referências,
pontos de vistas de publicações anteriores... Passeio pela obra e pelos
entrevistados e a partir daí tento criar elos narrativos entre o assunto-chave,
seus desdobramentos e a arte envolvida. Costumo dizer que tento provocar ao máximo
um novo olhar dos leitores.
Atualmente essa produção textual para os
sites está parada. Até o primeiro trimestre eu estava integralmente dedicado ao
processo de pesquisa do meu artigo final da pós-graduação em Estudos Culturais,
intitulado “Rainhas da Resistência – A Mulher Negra no Cinema Brasileiro”, no
qual eu discorro sobre as representações da mulher negra no nosso cinema.
Depois comecei as leituras teóricas e os primeiros esboços do “desmembro”. Acabei
de finalizar o primeiro capítulo. E, além disso, estou trabalhando num projeto
audiovisual em parceria com a atriz e poetisa Gaby Haviaras, que mescla
entrevista, poesia e pluralidades artísticas. Ainda não posso contar muito. Mas
logo cês saberão mais detalhes.
Tomo
Literário: Quais autores te influenciaram
ou te inspiram?
Felipe
Ferreira:
Clarice Lispector pela profundidade da sua densa narrativa, Gregório Duvivier
pela ironia cortante, Machado de Assis pela riqueza de detalhes e
possibilidades. E, recentemente, li alguns textos da Adélia Prado e poemas do
Leminski que me inspiraram muito.
Tomo
Literário: Que livros, de quaisquer
gêneros, você recomenda aos leitores? De que forma eles te tocam?
Felipe
Ferreira:
“O Fazedor de Velhos” do Rodrigo Lacerda (Maravilhoso! O último que li.), “Os
Gigantes” do Pedro Neschling (Narrativa deliciosa e envolvente. Li visualizando
a história em uma série. Gostaria muito de um dia assinar essa adaptação.), “A
Negação do Brasil” do Joel Zito Araújo (Leitura fundamental pra entender a
construção da representação audiovisual do negro no Brasil. Usei na criação do
meu artigo acadêmico.) e “A Hora da Estrela” (Uma ode a sutileza, a simbolismo,
a vida!).
Tomo
Literário: Gostaria de deixar algum
comentário para os leitores?
Felipe
Ferreira:
Quem ainda não preencheu o questionário de memória colaborativa, por favor, acessem
o link e façam. Conto com a honra de receber as memórias de vocês nesse projeto
lindo e cheio de emoções. E fiquem ligados no meu Instagram que tem muitas
novidades vindo por aí. Parcerias do “desmembro”, notícias da publicação,
participações especiais no projeto... Curtam, divulguem e desmembrem-se!
Foto: Raulino Júnior. |
Mais
sobre o autor:
Escritor e Roteirista, Felipe Ferreira estreou na cena literária com a
publicação independente "Griphos Meus”, e está submerso no processo de
escrita do seu primeiro romance, “Desmembro”, que terá a “memória” e sua influência
nas relações humanas como tema central. Assina as colunas
"Rochas em Cores" e "Rochas em Debate" no Cinemação.
O livro reúne os principais textos do autor. Não são críticas de filmes
com estrelas qualitativas, não são análises literárias que consagram romances
ou condena-os ao fracasso, não são resenhas musicais que classificam
determinado álbum e/ou artista como brega ou contemporâneo. Os griphos são
vômitos sinceros e viscerais de experiências artísticas que de alguma forma
provocaram e provocam os sentidos do autor e instigam seu instinto de
criador/criatura.
São 22 griphos kynematográficos, 06 griphos literários, 04 griphos
musicais, 03 griphos políticos, 04 griphos crônicos e 03 griphos eróticos.
Bordado d'OCondado Ateliê |
Sobre
Desmembro:
Para estreitar o elo entre escritor e leitor,
o primeiro romance de Felipe Ferreira tem um processo colaborativo. O leitor
pode participar preenchendo o formulário abaixo e compartilhando algumas de
suas memórias.
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