Letícia Godoy é escritora,
revisora e pesquisadora. Ela falou ao Tomo Literário sobre carreira, o trabalho
de revisão, projetos em andamento e sobre livros. Confira a entrevista:
Tomo
Literário: Para começar conte-nos sobre o
início da sua carreira literária. Como foi?
Letícia
Godoy: Bastante
complicada. Comecei a escrever bem cedo, quando tinha menos de 8 anos de idade
e sempre sonhei em ser escritora. Não era o meu sonho principal — eu queria ser
médica! —, mas publicar livros era sim uma coisa que eu queria fazer. Por fim,
publicá-los tornou-se mais real do que minha ambição pela medicina que acabou
ficando pelos caminhos da vida. E muitas pessoas acham que publicar é a parte
mais difícil. Eu discordo, atualmente publicar é fácil, o difícil é o que vem
depois, quando temos que nos fazer ser lidos. Eu contei com a ajuda de muita
gente e ainda conto. Considero-me ainda no começo da carreira, então é sempre
um desafio novo a cada dia.
Tomo
Literário: Como surgiu a ideia para a
série de livros Deixe-Me, da qual você já tem dois livros publicados (Deixe-Me
Entrar e Deixe-Me Ver)?
Letícia
Godoy: Logo na apresentação do livro um, para quem tem a edição
de 2016, eu explico que esse livro surgiu de jogos de RPG na internet, na época
do Orkut. Foi assim que tudo começou. Eu conheci um grupo de pessoas que estava
inserido em um contexto muito parecido com o meu e nossas histórias “turnando” eram
tão intensas que eu não queria esquecer depois que vários “deletaram” suas
contas, então comecei a escrever os livros. Eles já tiveram várias e várias
versões (o primeiro e o segundo, o terceiro agora é que estou a escrever) e
continuam a mudar, tenho me empenhado porque essa história não é apenas um
produto comercial para mim, é uma parte de uma vida que não quero esquecer.
Usar seres mitológicos que todo mundo já conhece — no caso os vampiros, bruxas
e lobisomens — e ainda trazer alguma inovação é um desafio e tanto, mas
acredito que eu tenha conseguido algum êxito por conta da boa receptividade da
história. Sempre serei grata por terem abraçado o meu mundinho junto comigo,
incentivando-me a contar para vocês tudo o que eu vivi de uma forma “alternativa”.
Tomo
Literário: O terceiro livro está a
caminho?
Letícia
Godoy: Como disse na resposta anterior, sim! Estou reunindo
material, conversando com alguns personagens (pasmem, acho que sou uma das
únicas escritoras que realmente pode conversar com seus personagens! Afinal,
alguns dos personagens ainda mantêm contato comigo — para quem não está
entendendo nada, são as pessoas por trás de certos personagens que ainda
conversam comigo, depois de quase 9 anos.) e vou pegar firme na escrita do
escopo dele, depois fica mais fácil de lapidar. Não prometo que venha rápido,
pois eu realmente costumo demorar a escrever, pois tenho que pensar muito...
muito. É o terceiro livro, é o fechamento de tudo. Tem que ser feito com muito
empenho! Mas ele vai sair!
Tomo
Literário: Borborema é um livro que tem
outra vertente. Fale um pouco sobre a criação dele.
Letícia
Godoy: Quem me acompanha sabe que eu não me considero uma
escritora de um gênero em específico. Eu gosto de contar histórias. Mas romance
é uma predileção. Não minto. Escrever fantasia nunca esteve nos meus planos.
Simplesmente aconteceu. Eu iniciei com um romance dark chamado Jurada Pelas Sombras — que estou ajeitando para uma
segunda edição — e depois de concluí-lo, iniciei Borborema. Eu não lanço os
livros na ordem que escrevo... eu os publico quando acho que eles estão
melhores do que quando os escrevi, então o meu primeiro, primeiro livro mesmo,
ninguém ainda leu! Nessa época em que comecei a escrever Borborema, estava
sentindo muita saudade do meu avô, um homem centenário que me contava inúmeras
histórias sobre o município onde moro, então Borborema é totalmente pautado nas
histórias do meu avô e foi uma forma de homenageá-lo. É um livro que se passa
em Siqueira Campos, cidade onde moro, eu tentei retratar um pouquinho do nosso
cotidiano, da nossa cultura e tudo mais, tanto que a fazenda Borborema
realmente existe e meu avô morou lá por algum tempo como um trabalhador rural.
Os conflitos, as situações, tudo foi baseado em situações que presenciei, ou
ouvi falar, pois eu queria representar essa cidade que tanto gosto de alguma
forma e acho que deu certo. Borborema é mais do que um romance, ou um romance
policial — já que pode ser classificado assim também por ter certos elementos
—, é uma história de superação, reencontro consigo mesmo e esperança. Escrever
esse livro foi uma forma de poder dar continuidade a minha vida e me
reencontrar. Na época eu tinha apenas 19 anos e retratei uma mulher de 33, foi
um desafio e tanto, mas Annabel é importante para mim. Ela representa evolução
em vários aspectos de minha vida. Então, acho que posso dizer que o processo
está intrinsecamente ligado a mim e a tudo o que me rodeia, por isso é tão
especial.
Tomo
Literário: Você também atua como revisora
textual. Como é atuar nesse outro papel no meio literário? Qual importância
desse trabalho na sua visão?
Letícia
Godoy: Sim, realmente atuo como revisora. É um trabalho muito
difícil e muitas vezes negligenciado ou desvalorizado. Como revisora, eu sei
que o livro tem que passar pelas mãos de pelo menos 3 pessoas e ainda passando
pelas mãos dessas 3 pessoas, ele vai conter erros lá no final. É consequência.
Se ele passar por 100 pessoas, essas 100 pessoas vão conseguir encontrar algo a
melhorar. Contudo, muitas vezes o livro não tem tempo de passar nem por uma mão
direito e acaba saindo erros lá no fim, erros que talvez se tivesse sido mais
bem trabalhado com mais de uma pessoa, não teria passado. Aí quando chega ao
leitor, ele vai dizer: nossa, que burro esse revisor, até eu sei que isso está
errado. Acredite, comentários assim destroem a gente. No início, eu ficava
triste, não por dizerem isso do meu trabalho, mas pelo autor, eu acreditava que
não estava sendo eficiente em meu trabalho, mas não é assim. No curso de
Preparação e Revisão Textual: o trabalho com o texto, aprendi com o sábio
Fernando Nuno, ex-editor do Círculo do Livro, que nós, revisores, não podemos
nos martirizar se passar erro. Isso não quer dizer que somos incompetentes. A
qualidade do livro vai depender muito do estado em que esse livro chegou até
nós. Somos humanos, não máquinas. Então, tudo isso me fez ter consciência de
que eu devo lapidar o meu texto o máximo possível antes de entregá-lo a um
revisor, ou mesmo a análise de uma editora. É responsabilidade minha se passar
erro em meu livro, porque isso quer dizer que eu enviei um livro tão cheio de
erros ao revisor que ele não conseguiu dar conta. Por isso eu nunca culpo meus
revisores. Existem muitos fatores que podem influenciar em uma boa revisão ou
em uma péssima revisão, tempo é um deles. Por isso, eu considero o trabalho de
um revisor muito importante, ele é capaz de guiar o autor, no caso, quando é um
preparador também, é capaz de ajudá-lo a melhorar e elucidar pontos confusos em
sua história. Basta ouvir. Algumas vezes vamos achar as mudanças sugeridas desnecessárias,
em outras tantas, serão o ponto chave para salvar nosso livro.
Tomo
Literário: Quais são os autores que te
influenciam ou que te inspiram?
Letícia
Godoy: Sou muito influenciada pelos clássicos. Como eu trabalho
lendo, quando sobra um tempo para fazer leituras por prazer (é assim que eu
chamo o que eu escolho ler), gosto de ler clássicos. Não posso citar apenas um
autor, pois estaria sendo injusta. Quanto aos autores que me inspiram, acho que
Machado de Assis, Emily Brontë, Jane Austen, Agatha Christie e Anne Rice são
alguns dos mais frequentes.
Tomo
Literário: Que livros, de quaisquer
gêneros, você indicaria aos leitores?
Letícia
Godoy: Não costumo indicar por gênero, eu costumo dizer que
você deve ler aquilo que lhe faz sentir bem e arriscar algumas vezes a sair da
zona de conforto para conhecer novas coisas. Mas indico aos autores conhecerem
um pouco mais de literatura brasileira contemporânea. Tem muitos autores novos
surgindo com ideias ótimas e livros de qualidade. Não se limite apenas ao que é
consagrado, você pode se surpreender tentando descobrir novas histórias, assim
como aconteceu comigo!
Tomo
Literário: Imagino que deva ter alguns
projetos em andamento. Pode nos contar sobre algum deles?
Letícia
Godoy: Sempre temos! O mais concreto é Operação Shanghai, um
livro escrito em coautoria com a Malu Ghiraldeli, autora de Cat, meu amigo
psicopata e Majestade, a história do cavalo branco. O livro já tem capa,
sinopse e está pronto! Estamos passando pela fase de betagem agora e esperamos
trazer um livro inovador para vocês. É um livro policial, mas completamente
voltado para a comédia, que é o forte da Malu (e eu descobri que também não
fico atrás na parte humorística). Operação Shanghai vai trazer aos leitores
Eric Shimura, um excêntrico investigador conhecido por nunca falhar em suas
missões e Paola Manzoni, uma hacker que não perde uma oportunidade de ganhar
dinheiro. Contudo, algo vai fazer esses dois perceberem que estão metidos em
uma rede de intrigas com a Yakuza, a máfia japonesa. Vocês podem se preparar
para dar boas risadas e se surpreenderem com o rumo de tudo nesse livro!
Tomo
Literário: Deseja deixar algum comentário
adicional para os leitores?
Letícia
Godoy: Acho que gostaria de agradecer apenas. Sempre agradecer.
Porque sem os leitores, minha trajetória não teria o menor sentido. É por vocês
que busco melhorar cada dia mais, é pelos comentários de vocês que anseio.
Então, obrigada por estarem sempre ao meu lado. E a você, leitor, que ainda não
conhece o meu trabalho, fica o convite!
Também gostaria de agradecer
a você, Eudes, pelo apoio sempre e pela oportunidade dessa entrevista aqui no
Tomo Literário!
Um beijo grande!
Tomo
Literário: Agradeço imensamente por ter
concedido a entrevista e compartilhar suas histórias com nossos leitores.
Mais
sobre a escritora:
Foto: Reprodução |
Letícia
Maria de Godoy nasceu em 13 de fevereiro de 1994 na cidade de Curitiba, no
Paraná, porém cresceu em Siqueira Campos, onde descobriu, sentada sob as
sombras da casa onde morava, o seu gosto pela leitura. Aprendeu a ler e
escrever aos 4 anos de idade, tendo como primeira professora sua mãe, e aos 8
anos começou a escrever seus primeiros contos em restos de cadernos escolares.
Desde então, nunca mais parou. Aos 17 anos passou no vestibular para ingressar
na faculdade de Letras, um sonho que se tornou realidade. Aos 18 anos, publicou
três contos na antologia intitulada Pontos da Vida, sua primeira aventura no
ramo da literatura. Atualmente dedica-se a escrita de romances, a revisões
textuais e pesquisas no ramo da linguística aplicada.
Livros da autora:
Jurada pelas
Sombras
Elvira é uma garota órfã
que, quando está prestes a completar 18 anos, descobre que uma profecia de
morte assombra o seu passado, e que existem coisas ocultas sobre ela que
ninguém é capaz de explicar. Em meio à confusão que se torna sua vida depois de
saber mais sobre si mesma, seu destino reserva-lhe mais uma surpresa: Luigi, um
jovem seminarista por quem ela se apaixona perdidamente. Mas não será nada
fácil assumir e viver esse romance proibido.
Elvira precisa encarar o seu
passado, mas não pode mais viver sem Luigi, que também precisa se decidir entre
ela e a carreira de religioso. Jurada Pelas Sombras é uma história que permite
várias opiniões sobre os acontecimentos por conta de sua narrativa fragmentada,
onde todos dão o seu parecer sobre os fatos, convidando o leitor a entrar na
mente dos personagens e a descobrir quem está falando a verdade, envolvendo-o
em paixões, conflitos, inveja, ódio e morte.
Deixe-me Entrar
Julianne Ipswich cresceu confinada no
internato Le Rosey, afastada de sua família com o pretexto de receber uma
educação de qualidade. Este fato sempre a incomodou e o maior desejo de
Julianne era descobrir a verdade para que a família tenha a afastado, uma vez
que não ficou convencida de que a preocupação com os seus estudos seria o único
motivo.
Ao completar 15 anos, ela retorna para Stone Forest, a cidade de seus pais, e, aos poucos, acaba descobrindo mais do que gostaria de saber.
Cercada por muito mais perigos e desafios do
que ela jamais pôde imaginar que surgiriam em sua vida, Julianne precisará
desvendar os mistérios de seu passado e preparar-se para os desafios do futuro
rapidamente se quiser sobreviver. As vozes se misturam, os olhos sedentos nunca
param de espreitar e o perigo está onde ela menos imagina. Será que Julianne
conseguirá enfrentar tudo isso?
Deixe-me Ver
Julianne Ipswich não é mais a mesma, e ela
sabe disso. Depois das eventualidades que a levaram a encontrar o diário de uma
antepassada, voltar à vida normal de uma adolescente qualquer parece
impossível. Como se não fosse o bastante, sua melhor amiga, Isabella, está
planejando uma festa de aniversário para comemorar os seus esperados dezesseis
anos.
Só que a guerra entre os seres noturnos está
mais viva do que nunca. Em meio a todos os perigos que o mundo sobrenatural
apresenta, sua família tem certeza de que esta festa pode se tornar bastante ameaçadora.
Novas descobertas, magia, aventuras e perigos
inimagináveis. Deixe-me Ver é o segundo livro da trilogia Deixe-me e mostrará
lados ainda mais sombrios dessa história alucinante em busca da verdade. Prepare-se
para embarcar nesta viagem e escolha o seu lado, pois a guerra começou.
Borborema
Annabel é uma mulher fria e calculista, que
fugiu do seu passado para a cidade grande e construiu uma vida
"segura" e invejada por muitos. Sua intenção era nunca mais olhar
para trás, porém um telefonema muda tudo e a obriga a voltar à Borborema, a
fazenda de sua família.
Lá, ela terá que enfrentar muito mais do que
inicialmente havia imaginado. Conflitos familiares, medos particulares, um
assassinato que de alguma forma pode estar relacionado a ela e um homem que
promete abalar as estruturas nada firmes de seu ser.
Borborema promete envolver e encantar o
leitor da primeira à última página.
As Faces da Verdade
Você já se perguntou o que realmente é
verdade? Ou o que é mentira? A verdade e a mentira vêm do mesmo principio e tem
muitas faces, você já parou para pensar sobre isso? Em As Faces da
Verdade, antologia de contos que reúne diversos talentosos escritores da
Literatura Brasileira, você verá que nem tudo é o que parece ser e que a
verdade é muito relativa.
Baseada em um tema dado no Concurso Era uma
vez... Contando histórias, As Faces da Verdade promete te fazer refletir e
viajar através de diversas situações onde tudo é questionável. Com prefácio de
Malu Ghiraldeli e organização de Letícia Godoy, você, leitor, não pode deixar
de conferir! Aventure-se por estas páginas e descubra qual é a sua
verdade.
Disponível na Amazon.
Memorial das Desventuras
O Memorial das desventuras
surgiu em 2012 como um pequeno capítulo na antologia Pontos da vida, mas com o
passar do tempo foi se modificando, crescendo e sendo melhorado até que chegou
ao que é hoje. Memorial das desventuras é uma coletânea com 4 contos da autora
Letícia Godoy e todos giram em torno das temáticas amor, ódio, preconceito,
racismo e superação, algo muito comum nos contos desta escritora.
Em um ritmo de tirar o
fôlego, algo característico de Letícia, a autora nos apresenta o fantástico de
maneira sucinta em seus contos, firmando-se assim no gênero realismo
fantástico. Há a presença da maravilha, mas ela é tão "surreal" que
acaba se tornando normal aos olhos de todos. Venha conhecer esta coletânea
fantástica composta pelos contos: Por entre as cores, A faca de Prata, Ninfa de
olhos Oceânicos e Memórias de um sapato, onde a força da literatura está
presente a cada linha e a cada parágrafo ainda frescos escritos com dedicação.
Disponível na Amazon.
O Quarto ao Lado
Charlotte Helstone só precisa dizer a
verdade, porém isso pode ser mais difícil do que realmente parece. Depois de
ser presa, acusada do assassinato de sua madrasta, Charlie terá que provar que
não é a real culpada, mas como se livrar disso se todas as provas apontam para
ela? Para tanto, terá que contar tudo o que aconteceu e que a levou até a cena
do crime, inclusive o seu ambíguo relacionamento com seu primo, Jayden
Raikkönen.
Uma história sensual, envolvente e cheia de
mistérios. Ela está esperando o próximo passo dele e você? Está preparado para adentrar O Quarto
ao Lado?
Disponível no Wattpad.
Acompanhe
Letícia Godoy nas redes sociais:
Esse blog é realmente um amoooooooooor! A postagem ficou tão linda! Obrigada, sempre obrigada por me apoiarem!
ResponderExcluirLetícia, muito obrigado por aceitar o convite. Sempre bom compartilhar literatura e conhecer mais sobre os autores que nos inspiram.
Excluir