A edição que li do livro A Moreninha, de Joaquim Manuel de
Macedo, foi publicada em 1997, pela Klick Editora.
Augusto é um jovem estudante
que não se apaixona. Diz ele que é incapaz de amar uma mulher por mais de três
dias. Seus amigos apostam com ele para que fique por maior período com alguma
jovem que estará numa ilha na qual visitarão. Fabrício, um de seus amigos, lhe
pede por carta que tente conquistar uma moça para que ele se livre dela.
Augusto é um solteiro
inveterado, mas já tivera um amor no passado. Uma jovem por quem fora
perdidamente apaixonado e a quem fizera um juramento de amor eterno. Para ela
foi entregue um camafeu.
“...
abatido e desesperado com os meus infortúnios, eu tinha jurado não amar a mais
nenhuma moça que fosse morena, corada ou pálida; estavam, pois, esgotados os
belos tipos... e eu deveria morrer celibatário.”
A história gira em torno
dessa aposta feita pelos estudantes de medicina da cidade do Rio de Janeiro e a
trama se passa na primeira metade do século XIX.
A convite de Filipe, Augusto
(o namorador) vai para a ilha com Leopoldo e Fabrício. Eles passam ali um final
de semana, hospedados na casa de D. Ana, avó de Filipe. Lá também estarão duas
primas de Filipe e sua irmã, Carolina, que é conhecida como Moreninha.
A aposta que é feita a
Augusto acorda que se ele se envolver com uma mulher por mais de quinze dias,
deverá o jovem estudante escrever um romance que conta toda a história do seu “primeiro”
amor. Eis aí o desenrolar do romance de Joaquim Manuel de Macedo.
Os personagens são de certo
modo superficiais, mas é bem possível ao leitor identificá-los com base em suas
características. Augusto, por exemplo, é namorador, alegre, jovial, estereótipo
dos jovens que não se apaixonam. Digo superficial porque pouco se adentra nas
questões psicológicas dos personagens criados por Joaquim, o foco está mais em
suas ações.
Carolina, a outra
protagonista, é romântica, astuta, persistente e travessa, o que demonstra
também uma personagem que vem a ser “repetida” em outras obras posteriores,
como nas de José de Alencar e na poesia de Gonçalves Dias. Carolina é como uma
índia que espera pelo seu amado, revelado numa antiga história contada por D.
Ana a Augusto.
Vale dizer que tanto a ilha
quanto a cidade em que se passa a história não são nominadas ao longo de todo o
livro (aparecem demonstrada pelo sinal gráfico de reticências – três pontinhos),
mas é clara a referência, dada a época, de que a cidade é o Rio de Janeiro e a
ilha é Paquetá. Embora não haja comprovações, diz-se que Augusto (por ser
estudante de medicina e candidato a escritor) seria uma representação
autobiográfica do autor.
A Moreninha, de Joaquim Manuel
de Macedo, é um marco do Romantismo Brasileiro. O livro foi lançado
originalmente em 1844, sendo considerado o primeiro romance brasileiro.
Ao longo da história temos
diálogos ágeis e quase teatrais. Em certos trechos o autor se revela
interagindo com o leitor, como na passagem: “É
preciso antecipar que nos não vamos dar ao trabalho de descrever este; é um
sarau como todos os outros...”
Em “Duas Palavras”,
introdução da obra, o autor fala sobre o livro ser como um filho e pede que o
leitor perdoe “seus senões, mau modos e
leviandades”. Porque “A Moreninha” se tornou travessa e precisava se
entregar aos leitores.
Uma curiosidade. Não foi um
livro que li durante as aulas de literatura do colégio. Naquela época eu
rechaçava esse livro, em específico, porque havia ficado cansado de tanto o
professor falar da jovem Carolina e sobre o famigerado camafeu. Repetição que
se fazia necessária para compreendermos que era uma obra relevante e que abria
o romantismo.
Hoje, após a leitura, vi um
romance simples com uma linguagem própria de seu tempo, mas um bom romance.
Para quem não leu, recomendo, tanto pela representatividade da obra no cenário
da literatura brasileira, quanto por sua história.
Nota: a
leitura fez parte de um roteiro que elaborei para ler/reler clássicos da
literatura em língua portuguesa.
Foto: Reprodução |
Sobre
o autor
Joaquim Manuel de Macedo
nasceu em Itaboraí, pequena cidade do Rio de Janeiro, em 1820. Formou-se em
Medicina, mas nunca exerceu a profissão. Desde jovem, dedicou-se ao jornalismo.
Com o seu primeiro romance, o autor dedicou-se à literatura por toda sua vida,
tendo publicado dezenas de obras, entre as quais se destacam os romances O Moço
Loiro, de 1845 e A Luneta Mágica, de 1869. Joaquim exerceu o cargo de professor
de Geografia e História do Brasil, tornou-se amigo da família imperial e foi
preceptor dos filhos da Princesa Isabel. Tornou-se deputado do Partido Liberal
e morreu em 1882, no Rio de Janeiro.
Ficha
Técnica
Título: A Moreninha
Escritor: Joaquim Manuel de
Macedo
Editora: Klick Editora
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
159
Ano: 1997
Assunto: Literatura
brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.