Julien Sorel é o
protagonista do livro de Stendhal, O Vermelho e o Negro, que tem subtítulo de
Crônica do Século XIX (1830) e foi publicado pela Editora Cosac Naify em 2015.
O livro tem tradução de Raquel Prado e traz apêndice de Tarsila do Amaral e
Heinrich Mann. A capa, dura, tem ilustração de óleo sobre tela de Paul
Delaroche (Napoleão após a abdicação – 1845).
Julien é filho de um
carpinteiro e é movido pela ambição. Tem duas formas de conquistar a ascensão
social tão preterida por ele: ou seguir o Exército de Napoleão ou tornar-se
padre. Contudo, depois da queda do império, seu caminho parece ser apenas o de
vestir o traje negro. De notável inteligência ele chega a decorar a bíblia em
latim. Sua preferência era de mergulhar nos livros, em vez de atuar com
trabalhos braçais como fazia seu pai.
“De
repente Julien parou de falar em Napoleão; anunciou o plano de se tornar padre,
e passaram a vê-lo constantemente, na serraria do pai, empenhado em decorar uma
Bíblia latina emprestada pelo cura. O bom velho, maravilhado com seus
progressos, passava noites inteiras ensinando-lhe teologia. Julien exibia
apenas sentimentos piedosos. Quem teria adivinhado que aquele rosto de mocinha,
tão pálido e tão doce, escondia a resolução inquebrantável de se expor a mil
mortes, contanto que fizesse fortuna!”
Ambicioso, mas realista,
Julien tem a exata noção do abismo social que o separa de seu objetivo. Vê nos
grupos sociais abastados o desejo de tornar-se membro e repudia o mesmo grupo
por suas ações. Um paradoxo com o qual ele lida para alcançar o seu fim
precípuo.
O jovem é convidado a
trabalhar como preceptor dos dois filhos do casal Renal. Convivendo na
residência deles e atuando na instrução dos filhos, se vê envolvido com a Sra.
de Renal. Entre eles cria-se uma relação mais que amistosa, mas que também há
convenções sociais que precisam ser mantidas, sobretudo porque ela tem a imagem
de mulher casada a zelar. É nesse ambiente que vai aprendendo e lapidando o
manejo social e se habituando com os costumes do grupo social mais abastado.
Depois de certo tempo a
relação com a Sra. de Renal é interrompida em face de uma determinada carta e
ele parte para o seminário. Lá, se aproxima do Padre Pinard que, naquele local,
não era tido em boa conta. Julien, apesar de ser rechaçado pelos outros
seminaristas, consegue se safar de problemas e é levado para atuar em Paris ao
lado de um marquês.
“Julien
sentiu-se logo perfeitamente isolado no meio desta família.” Os
nobres que freqüentavam o palácio do marquês e que era bem recebido por ele e
sua esposa, também recebiam comentários cruéis de claro preconceito social. O
marquês nutria desprezo pela gente que “não
subia a carruagem do rei”.
Ali Julien acaba se
encantando com Mathilde de La Mole. Inicialmente a mulher o despreza pela sua
posição social, o rejeita simplesmente baseando-se na inferioridade de sua
classe. A própria personagem revela que Julien “tem um entendimento profundo e inato da diferença das posições
sociais”. Segundo o autor, Mathilde tinha um caráter inadequado para uma
mulher daquele século. O pai de Mathilde espera que ela se torne uma duquesa,
portanto que se relacione com alguém que tenha uma posição social de destaque.
Outra mulher passa pela vida
de Julien, o ambicioso, que habilmente usa seu poder de sedução, por ser um
homem bonito e atrair os olhares femininos. Ele se vê as voltas com a Sra,. de
Fervaques, uma marechala.
Os personagens criados por
Stendhal são realistas. Eles tem nuances de imperfeição e não são apenas mocinhos
ou vilões, navegando na extremidade do que é tido como bom ou mau. Eles são
bastante humanos. Julien, por exemplo, é um personagem que reúne
características como ambição, sedução, hipocrisia, mas também se mostra
verdadeiro e honesto. Ele é, categoricamente, um anti-herói, o que leva o
leitor a amá-lo e odiá-lo ao longo da leitura.
As mulheres criadas por
Stendhal são representativas da sociedade de uma época. E são personagens sem caricaturas,
assim como os demais por ele formulados. Elas são bem descritas em atos e
comportamentos.
Observamos que Julien, em
sua busca por ascensão, acaba se tornando seu próprio algoz, pelas escolhas que
faz. Para ele “só restava uma paixão: a
do dinheiro”.
A obra foi publicada
originalmente em 1830. Stendhal não é o nome verdadeiro do autor do livro, ele
chamava-se Henri Beyle. Seu livro é tido como um romance inaugural da época do
realismo. Nesse movimento, as ações humanas e a análise psicológica dos
personagens ganham destaque. E, de fato, O
Vermelho e o Negro é assim, realista e com as dimensões psicológicas
emergindo da história.
O autor também utiliza o recurso
de se dirigir ao leitor em determinados trechos, chamando a atenção para alguma
característica ou fato curioso que deva ser notado. Como no trecho: “O leitor há de permitir que mencionemos
pouquíssimos fatos claros sobre esta época da vida...” ou em outro que diz “O leitor talvez se surpreenda com esse tom
livre e quase amigável...”
Não é um livro superficial.
Ele é denso, por vezes complexo e, em dados momentos é lento, mas a história
prende a atenção do leitor e faz querer continuar e avançar cada página, cada
capítulo. Na medida em que vamos descortinando o universo dos personagens e
daquela sociedade criticada pelo autor, vamos querendo mais e mais saber quais
caminhos tomarão a vida dos ricos personagens. É profundo, por tratar as
questões psicológicas dos personagens o que será sentido claramente pelo leitor
em cada ação. Excelente livro!
Foto: Reprodução |
Sobre
o autor
Henri-Marie Bayle é seu nome
de batismo, mas ficou conhecido como Stendhal. Francês, era um republicano e
chegou a comemorar a morte do rei. Atuou no Exército e foi enviado à Itália,
país que acolheu. Era admirador de Napoleão e exerceu cargos oficiais, além de
participar de campanhas imperiais. Foi cônsul em Trieste e Civitavecchia.
Enquanto lá atuava dedicava-se à literatura.
Ficha Técnica
Título: O Vermelho e o
Negro
Escritor: Stendhal
Editora: Cosac Naify
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-405-0905-4
Número
de Páginas:
544
Ano: 2015
Assunto: Romance francês
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