Poesia
Reunida,
de Adélia Prado, foi publicado pela Editora Record em 2015. Como alude o nome
do livro, a publicação reúne toda a obra da poetisa brasileira. O livro traz as
obras Bagagem, O Coração Disparado, Terra de Santa Cruz, O Pelicano, A Faca no
Peito, Oráculos de Maio, A Duração do Dia e Miserere.
Quando nos deparamos com uma poetisa como
Adélia, que sabe usar cada palavra, que tece com genialidade a profundidade de
cada verso, temos a certeza de que a poesia é capaz de aproximar o homem de
algo além da concretude. A obra de Adélia, reunida no livro, é arrebatadora.
Mais do que a reunião de suas poesias é uma ode à poesia. Não há como não se
encantar com a poesia de Adélia, que nos enche de lirismo com docilidade, mas
cheia de contundência em sua observação de coisas corriqueiras e de seu
cotidiano.
Inicialmente, ao se deparar com 543 páginas,
o leitor pode se assustar, mas é fato que ao tomar contato com seu conteúdo e
iniciar a leitura, o mesmo leitor será despertado em sua ânsia de concluir a
obra. As poesias de Adélia são capazes de conduzir o leitor numa linha suave,
mas profunda, num dizer que toca, que representa, que carrega força na vida
cotidiana, na religiosidade, na fé, em memórias e na beleza.
“Canção de Joana D’Arc
A chama do meu amor faz arder minhas vestes.
É uma canção tão bonita o crepitar
que minha mãe se consola,
meu pai me entende sem perguntas
e o rei fica tão surpreendido
que decide em meu favor
uma revisão das leis.”
A partir da página 479 o leitor terá acesso a
um texto de Carlos Drummond de Andrade e outro de Affonso Romano de Sant’Anna.
Ambos ajudam o leitor a adentrar o universo de Adélia Prado e de se aproximar
ainda mais de seus trabalhos e de sua história.
De Drummond nos é dado um trecho de certa
crônica que foi publicada no Jornal do Brasil em 1975, em que ele fala sobre
suas primeiras impressões sobre a escritora, até então desconhecida. O texto de
Affonso foi o prefácio da primeira edição de “O Coração Disparado”, publicado
pela Editora Nova Fronteira em 1978. Ele faz um relato sobre seus sentimentos
ao ler um original de Adélia. Nas palavras de Affonso: “... trata-se da voz feminina de nossa poesia até hoje. Adélia não usa
linguagem de empréstimo aos homens, nem repete pieguices em torno de imagens de
noite-lua-canto-rosa-mar-estrela-solidão”. E nos dizeres de Drummond: “Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz
poesia como se faz bom tempo...”
Os poemas de Adélia encantam e há aqueles nos
dirão aquilo que por vezes queremos falar, mas que não conseguimos com tamanha
facilidade externar. Mineira, Adélia tem forte ligação com temas religiosos, o
que notamos nas alusões feitas a textos bíblicos, colocando-os no cerne de
questões que são vividas no cotidiano. Em seus poemas o leitor também verá,
claramente, as memórias de infância, o amor, a tensão sexual (ainda que
implícita em alguns poemas). Há, sem dúvida, uma força feminina que Adélia
consegue traduzir e expressar de maneira que o tema chegue ao seu leitor.
O posfácio do livro publicado pela Editora
Record ficou a cargo de Augusto Massi, que bem define: “no caso de Adélia Prado, Poesia Reunida talvez corresponda a uma
verdade mais íntima que a denominação tradicional de poesia completa. Ao longo
de sua trajetória poética, cada novo título nasce sempre da costela do volume
anterior. Os seus livros dialogam, compõe um coro de vozes, formam um organismo
vivo. Sob o mesmo teto, as palavras circulam, cantam, sonham.” Essas são as
sensações que o leitor viverá ao terminar de ler a obra de Adélia. Poesia que
apaixona, que nos faz adorar o conteúdo e cada palavra.
“Janela, palavra linda.
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.
Abre pra fora as duas folhas de madeira à toa pintada,
janela jeca, de azul.” (Trecho do poema Janela)
Desde sua primeira publicação, em 1976,
Adélia disse ao que veio, por meio de seu livro “Bagagem”, cujos poemas podem
ser lidos na primeira parte da reunião de textos.
A edição de Poesia Reunida é excepcional. O
livro em capa dura é de encher os olhos e de tornar-se um objeto de apreciação
na estante. Além disso, é claro que a publicação dará prazer ao leitor em ter
Adélia com proximidade para ler quando e onde bem entender. Mesmo depois de
concluída a leitura, por diversas vezes, vale a pena reler alguns de seus poemas.
Foto: Mônica Imbuzeiro |
Sobre a
autora
Adélia Prado é mineira, de Divinópolis. Poetisa,
filósofa, professora e contista está ligada ao movimento do Modernismo. Seus
textos retratam o cotidiano. Atuou no magistério por vinte e quatro anos, até
que a carreira de escritora tornou-se sua principal atividade. O aparecimento
de Adélia no cenário literário representou a revalorização do feminino nas
letras.
Ficha
Técnica
Título: Poesia Reunida
Escritor: Adélia Prado
Editora: Record
Edição: 2ª
ISBN: 978-85-01-06935-1
Número
de Páginas:
543
Ano: 2016
Assunto: Poesia brasileira
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