O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote De La Mancha - Miguel de Cervantes Saavedra - Tomo Literário

O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote De La Mancha - Miguel de Cervantes Saavedra

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“O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote De La Mancha”, de Miguel Cervantes Saavedra, foi publicado pela Editora 34 - edição de bolso com texto integral, que conta com tradução e notas de Sérgio Molina e apresentação de Maria Augusta da Costa Vieira. A publicação da editora ocorreu em 2012 (2ª edição reimpressa em 2015). 

O livro conta a história de Dom Quixote, um fidalgo, que encantado pelas leituras de livros de cavalaria fica louco. Sua loucura, segundo afirma-se no texto, dá-se em função das muitas leituras que fez. Ele parte numa viagem para viver aquilo que faz um cavaleiro (tal qual como os cavaleiros dos livros que leu). Os livros de cavalaria ocupavam lugar de destaque na época em que Cervantes escreveu Dom Quixote, fazendo de sua literatura uma crítica, ou melhor, uma paródia sobre os heroicos cavaleiros representados nos livros.  

“Enfim, tanto ele se engolfou em sua leitura, que lendo passava as noites de claro em claro e os dias de sombra a sombra; e assim, do pouco dormir e muito ler se lhe secaram os miolos, de modo que veio a perder o juízo. Encheu-se-lhe a fantasia de tudo quilo que lia nos livros, tanto de encantamentos como de contendas, batalhas, desafios, ferimentos, galantarias, amores, borrascas e disparates impossíveis; e se lhe assentou de tal maneira na imaginação que era verdade toda aquela máquina daquelas soadas sonhadas invenções que lia, que para ele não havia no mundo história mais certa.” 

Para que o fidalgo consiga se colocar é preciso que enfrente muitos desafios, afim de validar a sua imagem como um verídico cavaleiro. Em posse de seu cavalo Rocinante parte nessa jornada. Alia-se a ele o seu fiel escudeiro Sancho Pança, um vizinho lavrador, que passa a conviver de modo mais próximo ao fidalgo.  Os dois personagens se contrapõe. Dom Quixote é mais sonhador, idealista e por vezes interpreta a realidade de maneira diferente da forma como ela se apresenta. Já Sancho Pança é mais aproximado do real, inclusive questionando algumas ações e manifestações orais de Quixote. 

A dupla vai enfrentar gigantes (que na verdade são moinhos), vai passar por várias desventuras numa estalagem tida como um castelo encantado por Dom Quixote, se embrenharão na floresta, soltarão prisioneiros, encontrarão cabreiros que vão lhes contar grandes feitos de outros cavaleiros, ouvirão ainda histórias de mouros e cristãos, serão atacados, se envolverão em farsas e passarão por diversos e loucos eventos em que a sanidade do Cavaleiro da Triste Figura será testada, por assim dizer. Fantasioso que é, Quixote em tudo acredita, sobretudo quando o assunto remete ao feito de um grande cavaleiro. 

Como todo cavaleiro, Dom Quixote vê a necessidade de ter a sua musa inspiradora e escolhe Dulcinéia d’El Toboso, “única senhora dos meus mais escondidos pensamentos”. Seus feitos também seriam realizados com o propósito de que a dama reconhecesse sua grandeza como cavaleiro. 

O livro de Cervantes é uma obra que atravessa o tempo, em que pese suas diversas interpretações. Dom Quixote ora foi tido como um cavaleiro sonhador, idealista e em busca de transformar o mundo numa sociedade justa e sem desigualdades, ora era visto apenas como louco e cômico. 

"... só farei o que sou obrigado e o que me dita a minha consciência, conforme o que professorado tenho."
Foto: Dom Quixote, de Van Gogh.
Dom Quixote é um personagem extremamente rico, cheio de nuances que vão da loucura a ingenuidade, da simplicidade a coragem, da sua visão distorcida dos fatos a fantasia que ele emprega em suas ações. Ele lança aforismos e tem sabedoria em seus dizeres, mesmo que alterne com isso os momentos em que embrenha-se na loucura encarando-a como se realidade fosse. Com Sancho Pança forma uma dupla imbatível. Cada qual com a sua personalidade, no entanto, sendo, antes de tudo, figuras complementares.

Quixote, é ainda, sem dúvida, um personagem que carrega em seus atos um fio de humor, uma comicidade que pode ser tida como uma crítica feita aos cavaleiros descritos na literatura da época.

A literatura, a propósito, é bastante presente ao longo do texto de Cervantes, em que vários livros de cavalaria são citados e, por vezes, o autor faz referências a si mesmo e sua obra. O fidalgo cavaleiro é um homem dotado de liberdade, em busca de ideais particulares, com uma visão própria e singular de mundo. Com seu jeito cômico, faz com que aqueles que o cercam entrem em sua loucura (mesmo quando a percebem e a questionam). 

Livro clássico da literatura universal, que não faz parte da leitura obrigatória curricular, mas que  deveria ser lido por todos. A história é detalhada, com várias inserções de outras histórias que remontam a elucidar as aventuras de cavalaria por parte de Dom Quixote, diversas referências literárias que inspiraram o personagem. Por vezes ouvi dizer que o livro tem uma narrativa difícil. Há que se colocar que, originalmente, a obra de Cervantes foi publicada em 1605. O texto, embora possa parecer complexo, dada a forma como é escrito, é acessível. A grandeza da história de Dom Quixote se sobrepõe, se destaca, prende o leitor. E permanece capaz de encantar até os dias atuais. 

A publicação da Editora 34 traz a apresentação do livro com texto que explica alguns pontos da obra do autor, fala sobre o modo de ler e interpretar o livro ao longo do tempo e sua presença no Brasil. Traz ainda a dedicatória do livro, a qual paira indícios de que não foi escrita por Cervantes. Algumas frases e erros tipográficos levam a crer que o texto fora escrito pelo impressor, na hora de compor o livro original.  Antes do início da história, temos os versos preliminares, cujas notas de rodapé em muito auxiliam a compreender a métrica e os dizeres de tais versos. 

O livro de Cervantes tornou-se um dos meus livros prediletos, pelo texto, pelos personagens bem construídos e por tudo que representa. 

Nota: a imagem de Dom Quixote, de Van Gogh, é meramente ilustrativa. Não faz parte do livro.

Foto: Reprodução
Sobre o autor
Miguel de Cervantes Saavedra é o escritor do livro. Sua primeira composição literária teria sido um soneto dedicado à rainha Isabel. Apesar do gosto pelas letras tenta a sorte alistando-se numa companhia de soldados. Cervantes participou em 7 de outubro de 1571 da batalha de Lepanto, foi ferido por arcabuz e perdeu a mão esquerda. Em 1575 foi aprisionado por turcos e conduzido para Argel, onde ficou preso por cinco anos, à espera de um resgate. Nesse período começou a redigir “La Galeteia”. Com uma atriz, na Espanha, tem uma filha de nome Isabel. Em meados de 1584 se aproxima de alguns dos melhores escritores espanhóis: Gôngora, Calderón de la Barca, Quevedo, Tirso de Molina entre outros. Em 1605 publica a primeira parte de Dom Quixote. Em 1613 publica suas “Novelas Exemplares”. Em 1615 publica a segunda parte do seu livro Dom Quixote, ridicularizando uma obra falsa de Dom Quixote que foi publicada em 1614 por um certo Avellaneda. Editou o livro de poemas “Viagem do Parnaso” em 1614 e o de teatro “Oito Comédias e Entremezes” em 1615. Falece em 1616. No ano seguinte, é publicada sua última obra, o romance “Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda”.

Ficha Técnica
Título: O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote De La Mancha (Primeiro Livro)
Escritor: Miguel de Cervantes Saavedra
Editora: Editora 34
ISBN: 978-85-7326-457-9
Edição: 2ª
Número de Páginas: 699
Ano: 2012
Assunto: Romance espanhol

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