“Nada
mantém a culpa longe de mim. A repetição e o hábito a mantém longe de mim. Na
água, estou temporariamente seguro.” Era assim que pensava um agente que havia,
há muito tempo deixado sua filha para trás. Em 1980 esse agente abandonara a menina em meio a um bombardeio. Ela, então,
fora lançada a um destino incerto.
A vida do agente toma a rotina de quem tenta
escapar do passado e se lança para qualquer lugar com o propósito de sufocar as
lembranças que insistem em permanecer presente. No seu íntimo sente que tem uma
dívida para com a menina.
“Que
tipo de homem abandona a própria filha? Mesmo que seja para protegê-la. Traição
após traição. Mentira após mentira. Por quanto tempo a relatividade pode salvar
a alma de alguém?”
Klara Walldéen aparecera de súbito na vida de
Mahmoud Shammosh, que se descrevia como acadêmico, racional e estável. Certo
dia ela estava diante da porta do apartamento dele. “Ela passou pela porta e pousou sua solidão ao lado da dele”. Mas a
relação terminou. Quando criança Klara foi criada por seus avós numa ilha da
Suécia. Agora, adulta, atua como assessora do Parlamento Europeu. Após o
termino de seu relacionamento com Mahmoud ela passa a se relacionar com Cyril
Cuvelliez.
Nem tudo para Klara seguirá de maneira
pacata. As coisas se transformam a partir do momento em que ela encontra algo
que a coloca em risco. Se torna alvo de gente poderosa que pode matá-la para
manter tudo em segredo.
Mahmoud recebe algumas mensagens em que lê ao
final as palavras “determinação, coragem
e resistência”. Para ele essas palavras remetem a um outro tempo e dava-lhe
a sensação de alguém sabia coisas sobre ele que ele mesmo havia esquecido.
Klara e Mahmoud são lançados numa intrincada
conspiração internacional.
George Lööw é outro personagem da trama que
tem a sua história contada em paralelo. O personagem vai ganhando forma na
medida em que a leitura se desenrola. Ele trabalha para a Merchant &
Taylor, uma das maiores empresas de relações públicas do mundo. George é um
lobista designado para grampear Klara. Ele não sabe o motivo, mas tem a missão
de rastreá-la. Perseguida e envolvida numa rede de terrorismo, tortura e
conspiração, Klara pode ser salva por um ex-agente, que tem um grupo que sabe
tudo sobre ele e sobre ela.
“Uma
braçada. Duas. Três. Respirar. Fecho os olhos e abstraio a água, os
pensamentos, as lembranças. Uma braçada. Duas. Três. Sou um torpedo que nunca
explodiu. Um fracasso.”
O livro entremeia capítulos que se passam em
lugares e tempos distintos. As passagens acontecem em Damasco, Uppsala, Sankt Anna,
Estocolmo, Arkosund e Rimnö Norte
(Suécia), Bruxelas (Bélgica), Virginia do Norte e Washington (Estados Unidos),
Paris (França), Amsterdã (Holanda), além de Afeganistão e Curdistão. Em relação
as passagens temporais, os eventos narrados se situam nos anos de 1980, 1985,
2013 e 2014. No entanto, a história não é apresentada cronologicamente. Os
capítulos alternam o tempo e também no que tange a voz da narrativa. São narrados
em terceira pessoa e, em primeira pessoa quando trata-se da história do agente
secreto. Nesse caso, a narrativa do nadador ganha ares líricos e poéticos em
sua descrição.
“O Nadadodor”, de Joakim Zander, publicado
pela Editora Intrínseca em 2016 e que tem tradução de Alexandre Raposo, é um thriller que instiga o
leitor a avançar cada uma de suas 320 páginas.
Inicialmente, convém mencionar, que o livro
tem uma trama que parece confusa, porque a apresentação da base da história se
separa em diferentes anos e lugares, como citado anteriormente. Isso pode
causar um pouco de confusão no leitor. Mas a partir de dado momento, a aparente
complexidade do livro, puxa o leitor para a história. É na perseguição que se
revela e no entendimento sobre o nadador que vive sua tentativa de esquecer o
passado, mas que precisa reparar um erro, que a história toma corpo.
Desencadeia-se a embrenhada e bem costurada trama.
O leitor vai captar a essência da história e
vai percebendo as muitas intrigas e suspenses, que vão tomando conta da leitura
e tornando uma composição tensa, cheia de ação, mas capaz de cativar.
“Somos
todos suspeitos; mais do que isso. Culpados até que provem o contrário. Nós nos
movemos como sombras pelos corredores. Sombras que são sombras de outras sombras.”
O livro de Joakim Zander é, sem dúvida, uma
intensa e vigorosa história de espionagem, que se mantém até a sua última
página. Vale a leitura!
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Joakim Zander nasceu em 1975 em Estocolmo,
Suécia. Cresceu na pequena cidade de Söderköping, mas também morou na Síria, em
Israel e, durante o ensino médio, participou de um programa de intercâmbio nos
Estados Unidos. Após realizar o serviço militar obrigatório na marinha sueca,
estudo direito na Universidade de Uppsala e obteve doutorado na mesma área pela
Maastricht Universtiy. Sua tese recebeu o Rabobank Prize. Zander trabalhou para
o Parlamento Europeu e para a Comissão Europeia, em Bruxelas. “O Nadador” é seu
romance de estréia, publicado em trinta países, e o autor se tornou conhecido
por sua linguagem poética, seu suspense arrebatador e seu olhar perspicaz
acerca do universo político. Atualmente Zander mora e trabalha em Lund, na
Suécia.
Ficha Técnica
Título: O Nadador
Escritor: Joakim Zander
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-8057-863-8
Número
de Páginas:
320
Ano: 2016
Assunto: Ficção sueca
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