Como você imagina que uma adolescente vai
enfrentar a situação epidemiológica que invade a ilha em que ela mora?
Kaelyn tem dezesseis anos de idade e mora na
ilha em que nasceu. Divide a casa com seus pais, seu irmão Drew e dois furões
chamados Mowat e Fossey, enquanto seu melhor amigo, Leo, partiu para morar em
Nova York, com o propósito de estudar. Ela já morou fora da ilha, em Toronto,
no Canadá e, agora, sem ter se despedido de Leo quando ele partira, ela tem a
impressão de que nunca mais vai vê-lo.
Acontecimentos estranhos ocorrem com
moradores da ilha. Algumas pessoas começam a se coçar, manifestar febre, passam
a agir de modo a contar coisas constrangedoras e falando sem filtro. O pai de
Kaelyn é microbiologista e atua no hospital da ilha, pois a equipe do local não
conseguiu diagnosticar o que estava acontecendo com um determinado paciente,
que apresentava os sintomas citados.
“Estávamos
torcendo para que a causa fosse ambiental. Outros dois homens que trabalham com
pesca deram entrada no hospital semana passada, e mais um hoje de manhã, todos
com sintomas parecidos: tosse, espirro, coceira insistente e febre, seguida de
uma severa queda das inibições sociais. E, finalmente, pânico em função da
confusão mental.”
As pessoas acometidas pelo vírus chegam ao
óbito. É preciso que o governo atue para proteger os moradores da ilha, e
também do continente, de um possível alastramento do contágio. A ilha tem de
ser isolada. Enquanto pessoas contaminadas são tratadas no hospital, Kaelyn
passa a freqüentar a casa de Tessa (ex-namorada de Leo). Ela faz isso para
acompanhar a evolução de plantas que podem apontar a cura para aquela
contaminação (ainda desconhecida).
Em meio ao medo do contágio, Meredith, prima
de Kaelyn, passa a conviver com a família depois da perda de seus pais. A
menina passa a ficar mais próxima de Kaelyn. E aqui, apesar de ser um plano
secundário, se desenrola uma relação de carinho, afeto e que desperta em Kaelyn
um instinto protetor.
O livro é narrado em primeira pessoa por
Kaelyn, que escreve como se fosse um diário narrando os acontecimentos para Leo
(o amigo que mora no continente), por isso cada capítulo refere-se a uma data
que vai de dois de setembro a vinte e três de dezembro.
Os moradores da ilha tem de lutar pela
sobrevivência, buscando alimentos e água. Alguns suprimentos são enviados pelo
governo. Kaelyn não assiste a tudo isso impassível, e tem sentimentos guardados
em relação a Leo. A menina vê parentes e amigos morrerem, mas resta alguma
esperança de que as coisas na ilha possam ser restabelecidas.
“Tudo
vai melhorar, eu disso para mim mesma. Vamos fazer isso tudo melhorar.” Escreve Kaelyn.
Mas, não bastasse o temor trazido pelo
contágio com o vírus, há moradores que formam uma gangue que comente atos
atrozes e que busca matar as pessoas doentes. E, como diz Kelyn: “... tenho a impressão de que eles também
estão doentes – doentes de medo, doentes de egoísmo. Como alguém pode fazer o
que fazem sem se odiar por isso?”
“O Fim de Todos Nós”, de Megan Crewe foi
publicado pela Editora Intrínseca em 2013 e conta com tradução de Rita
Sussekind. O livro tem três grandes blocos que são denominados de: Sintomas,
Quarentena e Mortalidade, uma clara alusão a existência do vírus.
A história criada pela autora relata perdas,
esperança, culpa e vontade de uma nova chance. A personagem narradora demonstra
sua vontade de viver ao encarar de frente a epidemia de vírus que toma a ilha
em que mora. Além de assumir os cuidados de uma criança. Sua força está em
enfrentar novos desafios e não se anular ou se manter inerte num ambiente
inóspito. Seja por sobrevivência ou por seus valores pessoais Kaelyn não fica
impassível. Ela reage a tudo que vê.
O livro tem uma boa trama. Necessário dizer
que ao ler na orelha sobre a perda de inibição social, esperava ver esse item
mais explorado no livro e dos conflitos que pudessem ser gerados a partir daí,
ou até mesmo pontos inusitados e humorados que poderiam ser criados com essa
vertente. No entanto, esse ponto é pouco explorado. A ênfase da trama está nas
ações de Kaelyn (sua relação com Leo, suas descobertas, o enfrentamento que tem
diante da existência do vírus, a relação com seu pai que busca algo que possa
salvar os pacientes do hospital que estão infectados).
Embora implícito, é notório o sentimento de
que Kaelyn está ficando sozinha. A jovem
mantém um fio de esperança de que tudo possa se restabelecer.
O texto é fluído e os capítulos são curtos,
em tom coloquial e dão o tom da leitura rápida. Pessoas isoladas, um governo
quase ausente, o medo do desconhecido, pessoas que tem que assumir responsabilidades nas lacunas
deixadas pelos verdadeiros responsáveis. Em segundo plano essas inserções fazem
de “O Fim de Todos Nós” uma interessante história de uma tragédia vista pelo
olhar de uma adolescente solidária, inteligente e dedicada.
Um senão a ser colocado é o fato de que o
livro faz parte de uma trilogia chamada The
Fallen World. Esse é o primeiro volume. No entanto, aqui no Brasil, os
demais livros não foram publicados. Isso não invalida a obra, mas deixa aberta
a curiosidade do leitor em acompanhar a história até a sua conclusão efetiva. Fica
aí o alerta.
Foto: Chris Blanchenot |
Sobre a autora
Megan Crewe estudou psicologia na Universidade
de Nova York e atua como orientadora de jovens com necessidades especiais. Ela
mora em Ontário, nos Estados Unidos, com o marido e três gatos. “O Fim de Todos
Nós” é seu segundo romance.
Ficha Técnica
Título: O Fim de Todos Nós
Escritor: Megan Crewe
Editora: Intrínseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-8057-330-5
Número
de Páginas:
272
Ano: 2013
Assunto: Ficção americana
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