"A Sociedade do Espetáculo", de Guy Debord foi publicado pela Editora Contraponto em 1997.
Na tese de abertura, o autor afirma que “Toda a vida das sociedades nas quais reinam
as modernas condições de produção se apresenta como uma imensa acumulação de
espetáculos. Tudo o que era vivido diretamente tornou-se uma representação.”
A
obra de Debord tem claramente um caráter contestatório. Dessa forma trata de
questões que colocam no cerne uma luta contra a sociedade que prefere a imagem
e a representação em detrimento do que é natural e concreto, que valoriza a
aparência em vez do ser, que prefere a ilusão em vez da realidade.
O
livro conduz uma acirrada crítica aquilo que faz com que o homem pare de pensar
e que aceite com passividade todas as imposições, conceitos pré-estabelecidos e
falsas ilusões que advém da cultura capitalista.
Num mundo conduzido pelo capitalismo as
pessoas ficam sedentas em busca de uma representação de imagens que vão
despertar o consumo de produtos, bens, serviços e até fatos e notícias. Tudo
isso pela representação midiática que cria uma ilusão sobre a realidade
(concreta e natural). O espetáculo produz celebridades, produtos, necessidades
inexistentes, interesses maquiados, imagens que mascaram uma realidade e vendem
uma felicidade que esconde uma sociedade que está dividida, tumultuada e
precária.
Tudo isso culmina numa inversão de valores.
Em que espetáculo se torna realidade e realidade se confunde com espetáculo. O
que faz com que não se tenha uma definição da coisa tal qual como ela é.
Os meios de comunicação de massa criam uma
realidade própria para que a sociedade se solidarize e crie novos critérios de
julgamento e justiça conforme seus conceitos manipuladores. Conceitos estes que
atenderão aos interesses do meio de comunicação e não necessariamente à
sociedade (que se ludibria com a ilusão do espetáculo). Importante
mencionar o que diz o autor: "O
espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas,
mediatizada por imagens". Dessa feita, não é puramente a imagem e,
sim, a relação que o humano constrói e solidifica através da representação que
outrem criara.
Na sociedade moderna, podemos encarar a visão
de Debord como uma construção da luta de classes, e o espetáculo é a forma da
dominação da burguesia sobre os demais cidadãos (proletariado). O ponto
central de sua teoria é a alienação como consequência do modo capitalista de
organização de uma sociedade.
A primeira publicação do livro "A
sociedade do espetáculo" se deu em Paris em novembro de 1967. No prólogo
feito pelo autor para a terceira edição francesa, em 1992, ele enfatiza: "É preciso ler este livro considerando
que ele foi deliberadamente escrito na intenção de se opor à sociedade
espetacular. Nunca é demais dize-lo."
Para
Debord há espetáculo de dois tipos: o concentrado e o difuso. Ambos, centrados
na noção de unificação feliz e, posteriormente, acompanhado de mal-estar,
desolação e pavor. O tipo concentrado tem como essência ser burocrático e
ditatorial. No contraponto, o espetáculo difuso está presente em regimes mais
democráticos, em que a superprodução de mercadorias em marcas variáveis induz e
garante um aparente poder de escolha, fazendo crer que os indivíduos vivem num
reino falso da liberdade de escolha.
De
forma contundente o autor demonstra que a sociedade não tem liberdade de
escolha, passa para uma falsa ilusão de uma realidade que ela mesmo cria,
deixando de lado a realidade para se amparar no ideal imaginado (que é
amplamente utilizado pelo poder midiático, conduzindo o cidadão e levando-o a
crer que ele escolheu o que já haviam escolhido para ele).
É, sem dúvida, um livro que requer uma
leitura atenta e crítica sobre as teses que Guy Debord lança. Leve-se em
consideração o seu viés também crítico sobre essa espetacularidade. Um livro
que tira o leitor da caixa, o provoca, provoca a sociedade a encarar o que por
vezes nega, camufla ou ignora (posto que a falta de informação e o poder
crítico real acabam sendo induzidos pelo amplo panorama de imagens que são
criadas e mascaradas para mostrar uma realidade fantástica a qual as pessoas se
apegam).
Um livro que chama à reflexão!
Sobre o
autor
Filósofo, agitador social,
diretor de cinema, Guy Debord se definia como 'doutor em nada' e pensador
radical. Ligou-se nos anos 50 à geração herdeira do dadaísmo e do surrealismo
Nasceu em Paris em 28 de dezembro de 1931 e se suicidou em 30 de novembro de
1994.
Ficha Técnica
Título: A Sociedade do
Espetáculo
Escritor: Guy Debord
Editora: Contraponto
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-859-1017-4
Número
de Páginas:
240
Ano: 1997
Assunto: Ciências sociais
Assunto: Ciências sociais
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