“Drácula”, de Bram Stoker é uma publicação da
Editora Zahar. Parte integrante da coleção Clássicos Zahar teve seu lançamento
em 2015 com uma edição comentada, em capa dura, que conta com tradução,
apresentação e notas de Alexandre Barbosa de Souza.
Jonathan Harker parte de Munique em direção à
Transilvânia, numa das regiões mais selvagens e menos conhecidas da Europa. O
objetivo de tal viagem: encontrar-se com Drácula.
Pouco
antes de lá chegar vai tomando contato com o clima de mistério que ronda aquela
nobre figura. Sua ida fora planejada para atender ao Conde em algumas
transações de negócios.
"_ Sou Drácula e dou-lhe as boas
vindas, Sr. Harker, à minha casa. Entre, o ar da noite está gelado, E
você deve precisar de comida e descanso."
Eis que temos a descrição do enigmático e
temível personagem. Esse que habita o imaginário de fãs de terror há muito
tempo.
“Era um rosto forte, muito forte,
aquilino, com um nariz fino de ponte alta e narinas arqueadas de maneira
peculiar, testa ampla e abaulada, e cabelos escassos nas têmporas mas
abundantes no restante da cabeça. As sobrancelhas eram bem espessas, quase
unidas sobre o nariz, com pelos bastos que pareciam encaracolar tamanha sua
profusão. A boca, pelo que pude ver sob o bigode grosso, era rígida e parecia
até cruel, com dentes particularmente pontiagudos e brancos. Estes ressaltavam
por sobre os lábios, cujo notável rubor demonstrava uma impressionante
vitalidade para um homem daquela idade. De resto, as orelhas eram pálidas e
extremamente pontudas no alto. O queiro era largo e forte, e as maçãs firmes,
embora magras. O efeito geral era de extraordinária palidez.”
Harker
registra tudo num diário, o que vai dando a impressão exata de toda a atmosfera
que ele vive no Castelo de Drácula. Comenta desde alguns pontos que o assustam, o universo sombrio que cerca o enigmático homem, sua aparência, o fato de não
se alimentar na sua frente e a impressionante ocorrência de não ver o anfitrião
pela imagem que deveria ser refletida no espelho.
Nos
dias que fica no Castelo ao lado de Drácula, ele vai percebendo uma série de
pontos nebulosos e tentando descortina-los. As anotações servem para que não se
perca em pensamentos, mas também como uma forma de defesa. Caso algo lhe
aconteça ali estão relatados fatos (incluindo os que lhe causam terror). Esse
diário é entregue a sua amada Mina, que deve guarda-lo sem lê-lo. Ela o faz por
amor.
Passamos
a troca de cartas entre Mina Murrey, amada de Harker e sua amiga Lucy Westenra.
Nelas falam sobre suas vidas e romances. As duas amigas se encontram. Mina tem
preocupação em relação a Harker, posto que não tem notícias dele há um mês e
uma carta chega.
Um navio, no meio de uma tempestade, chega
conduzido por um homem sem vida. A escuna russa trazia pouca carga e estava
endereçada. Um cão deixa a embarcação e some na cidade.
Lucy
passa por um episódio que mistura sonho e realidade e, ao que tudo indica,
algumas marcas serão deixadas. Por outro lado, Harker está em um sanatório há
seis semanas e o médico atesta que ele sofreu algum choque preocupante, vez que
fala coisas assustadoras sobre lobos, sangue, venenos, demônios e fantasmas.
Arthur pede a um amigo médico que a examine, este por sua vez, convoca Van
Helsing, que é de Amsterdã e que "conhece
mais sobre doenças obscuras do que qualquer outra pessoa no mundo".
Van Helsing e o médico Dr. John Seward passam
a cuidar de Lucy (e também de sua mãe que está adoentada). Helsing parece
ser o único a compreender na totalidade o que vem se passando com Lucy ao longo
do tempo. Em determinado momento comenta com Arthur, o amado da mulher: "... haverá um dia em que você vai
confiar inteira e completamente em mim, e em que vai compreender o caso com
tanta clareza como a iluminado pela luz do sol." Van Helsing é quem
conduz tudo que cerca a saúde e a vida de Lucy.
Enquanto
se desenrola essa história vamos acompanhando a situação de Mina ao lado do
marido Harker, que está adoentado, além voltas do doutor que tem um paciente
que sofre de certos surtos. Reinfield é zoófago e em dados momentos expressa
sobre um "mestre".
Os jornais anunciam que em Hampsted diversas
crianças se perderam e que quando encontradas elas relatam que foram convidadas
por uma "boofer lady" (uma bela dama). As crianças aparecem
misteriosamente com marcas no pescoço.
Depois de revelações feitas que causam
espanto, terror, medo e desconfiança, o holandês Van Helsing propõe que
encontrem quem causou o mal a Lucy, afim de evitar que o perigo se
espalhe. Ele propõe a Arthur, Seward, Mina, Jonathan e Quincey. "E então a nossa grande busca vai
começar."
O livro de Bram Stoker é, sem dúvida
alguma, uma obra genial. Drácula, com toda a aura que o envolve, é um
personagem marcante, o maior vampiro da literatura mundial e fonte inesgotável
que mexe com o imaginário do terror.
As
abordagens feitas pelo autor para nos contar sua trama, são de arrepiar. O
detalhamento do texto, os registros dos diários dos personagens, a sobreposição
dos acontecimentos que se cruzam, a visão de cada persona criada por Stoker,
leva o leitor a adentrar de cabeça nos feitos do misterioso Conde.
Toda
sorte de elemento utilizado foi bem construído. A ligação que os personagens
tem com o conde, os acontecimentos singelos que podem passar despercebidos, mas
que se revelam adiante, a visão de cada personagem sobre os acontecimentos que
se juntam para amalgamar o enredo e o fato de Drácula não estar em cena o tempo
todo, criam um fascínio e um magnetismo até difícil de explicitar. A aura que
envolve os mistérios que vão se revelando aos poucos e por questões que as
entrelaçam dá ainda mais vontade de ler. Um sinal numa cena, uma fala, uma
questão que carece de resposta, a certeza de um personagem e a dúvida de
outros, a constituição psicológica, física, científica, religiosa de cada
criação do autor. Bram Stoker usa disso com maestria.
Uma
grande obra, um clássico, que a Editora Zahar apresenta em capa dura. A edição
é comentada por Alexandre Barbosa de Souza, que também assina a apresentação e
a tradução do texto. As notas disponíveis aos leitores nos dão a dimensão da
história, detalham pontos obscuros, esclarecem citações, entre tantas outras
coisas, o que torna a leitura ainda mais curiosa.
Em Drácula não há somente a representação de
um cenário de terror, há mistério, relações humanas, contestações e
aceitação sobre o sobrenatural e o religioso, posicionamento político e
ideológico e da sociedade de uma época. Tal qual como se veem abordados
elementos da ciência em seu tempo: hipnose, indução ao sonambulismo,
transferência corporal, psiquiatria, neurologia, materialização, corpo e
projeção astral. Certo que tais aspectos sendo bem conduzidos como são, enriquecem
a narrativa.
Drácula é o quinto romance escrito pelo autor
e teve sua publicação original em 1897, com tiragem de 3000 exemplares. Acredita-se
que a inspiração veio de um pesadelo. De início as críticas não foram muito
favoráveis, no entanto, virou sua obra de maior sucesso. Tornou-se um dos meus
livros preferidos lidos em 2016.
Excelente
leitura!
Sobre o
autor
Foto: Reprodução |
Abraham "Bram" Stoker nasceu no ano de 1847. Irlandês de Dublin, começou a ver
a escrita com uma grande paixão bem cedo, durante os anos de adolescência. Atuou
como jornalista, diretor de peças teatrais e foi funcionário público. Apesar da
graduação em matemática, começou a escrever histórias e, com o tempo, essa
acabou se tornando sua principal atividade. Em 1905 ele tem um derrame cerebral
e contrai um mal que afeta o funcionamento dos rins, a doença de Bright. Abraham
"Bram" Stoker faleceu no dia 20 de abril do ano de 1912, na cidade de
Londres (Inglaterra). Os direitos autorais sobre sua obra foram herdados por
Florence Stoker, sua esposa. Ela permitiu que Hamilton Deane, diretor de teatro
irlandês, adaptasse a obra de seu marido em uma peça. Após esta primeira
adaptação, a obra de Stoker ficou ainda mais famosa. Outro diretor que se
baseou nas páginas de Dracula foi Murnau, que lançou o filme Nosferatu em 1922.
Ficha Técnica
Título: Drácula
Escritor: Bram Stoker
Editora: Zahar
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-378-1477-2
Número
de Páginas:
468
Ano: 2015
Assunto: Ficção inglesa
Assunto: Ficção inglesa
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