Toninho é um menino que vive
com seu pai. Ambos não tem um relacionamento muito amistoso. O pai viveu e
encarou a dureza da vida. O menino enfrenta dificuldades com sua apreciação por
pássaros, perdeu a mãe muito cedo e sofre bullyng na escola, pois gagueja
quando lê.
Em paralelo nos deparamos
com a história da menina Cecília, contada sobretudo por cartas que ela envia a
uma amiga chamada Carol. A menina vive numa grande casa e tem por hábito a
leitura e a escrita. Seu pai, que tem uma história cercada de mistérios, tem de
se afastar da família. Cecília, habitando aquela casa com sua mãe, costuma
passear no bosque e depois do afastamento do pai passam a receber envelopes sob
a porta.
A história das duas
crianças, inevitavelmente, se entrelaçam a partir de um encontro no bosque
frequentado por Cecília, em que Toninho vai para apreciar pássaros. Ela pede um
livro a ele, justo para ele que tem dificuldade de leitura. A dupla de crianças
passa a se encontrar para a leitura do livro. Conseguir um exemplar, no
entanto, não será fácil para Toninho e ele tem de fazer algumas agruras para
realizar seu objetivo.
Pedro Vieira, pai de
Toninho, também tem sua história detalhada ao leitor. Pedro agora trabalha como
mecânico e já teve outras atividades, das quais uma delas lhe rendeu a alcunha
de Trinta e Três.
Em meio ao cenário político do
país, dos quais o pai de Toninho e os pais de Cecília participam, as crianças
mantém-se a certa distância, no entanto, não sem serem impactadas pelos
acontecimentos que se sucedem.
“_
Por que nossos pais nos decepcionam? – perguntou ela, olhando para cima, como
se buscasse a resposta desenhada em alguma nuvem.
_
Ora, eles são pessoas... pessoas normais, quero dizer. E por causa disso, não
são perfeitos, tem filhos. Todo mundo erra, não é verdade?”
Toninho, de certo modo, lida
com seu pai de maneira rude. O pai parece encontrar em seu recôndito passado a
justificativa pelo seu modo de ser. Mas a dureza de Pedro, ainda assim, se
mostra terna em ações que ele tem para com o filho.
E Cecília, aquela menina que
gosta tanto de ler e escrever, desperta em Toninho uma paixão, a sua primeira.
Os encontros na clareira do bosque, as conversas francas, os desabafos, enchem
de leveza a vida dos dois.
Gustavo Araújo, o autor do
livro, nos dá uma narrativa fluída, natural e agradável. Entremeando capítulos
que falam do menino Toninho, de Pedro Vieira e as epístolas de Cecília, as
peças da história das vidas desses personagens vão se encaixando, de maneira que
o leitor não consiga querer parar de ler.
“Pretérito Imperfeito”,
publicado pela Caligo Editora em 2015, foi uma grata surpresa e, além da
escrita coesa, nos traz uma trama apaixonante. As questões e inquietações dos
personagens são abordadas com sutileza e de maneira implícita, mas fortemente
demonstradas em suas ações. Os próprios personagens em si são bem construídos e
com características marcantes. A literatura, muitas vezes citada em função da
paixão de Cecília pelos livros e a observação de pássaros que faz Toninho, os
distanciam da confusão que acontece ao redor de suas casas e com seus pais. Mas
o impacto de tudo, está na vida das duas crianças, ou seja elas não estão
intactas dos abalos. É como se ali, no bosque e na leitura, eles encontrassem
uma vida paralela.
Outrossim, além de Pretérito
Imperfeito ser um excelente livro, é o tempo verbal que indica um acontecimento
que se fez com início e fim no passado. A história contada pelo autor nos dá
essa sutil e profunda relação que se forma no pretérito. Relações de pais e
filhos com ausências emocionais e físicas, relação com a dificuldade de lidar
com problemas na infância, o enfretamento de um menino que (quase sozinho)
busca vencer a barreira do medo da leitura, a menina que sabe que algo de
errado acontece e se refugia na literatura, a dureza que um pai carrega do
passado... são histórias de vidas como de muitas pessoas reais. Gustavo Araújo
nos conta de maneira fantástica como essas vidas se cruzam, como essas relações
se consolidam, como é possível haver segunda chance, como o primeiro amor
desperta e como é possível traçar o final de sua própria história.
Excelente leitura!
Recomendo!
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
Gustavo Castro Araujo nasceu em Curitiba, PR,
em 1973. Influenciado por Niccolò Ammaniti e John Boyne, escreveu seu primeiro
romance, “O Artilheiro”, finalista no Concurso Nacional do SESC em 2009.
Dois anos depois, teve o conto “O Logaritmo do Gato” selecionado para a
Coletânea Machado de Assis, do SESC-DF. Em 2013, os contos “O Livro de Elisa” e
“Catarina” foram publicados na Antologia “!” da Caligo Editora. Em 2014, o
conto infantil “Tempo de Arte” foi selecionado para a coletânea “Monteiro
Lobato” do SESC-DF. Em 2015, o romance "Pretérito Imperfeito" foi
também lançado pela Caligo. Atualmente, administra o blog literário EntreContos.com
Ficha Técnica
Título: Pretérito
Imperfeito
Escritor: Gustavo Araújo
Editora: Caligo
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-67006-08-6
Número
de Páginas:
286
Ano: 2015
Assunto: Literatura brasileira
Assunto: Literatura brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.