“Mas
nem por um instante ele esqueceu o motivo que o trouxera à Terra. Estava sempre
com ele, inevitável, como a dor latente que ainda residia em seus músculos fortalecidos,
mas permanentemente cansados, como a estranheza impossível, não importa quão
conhecida se tornasse, daquele planeta enorme e diverso.”
“O homem que caiu na Terra”, de Walter Tevis,
publicado pela DarkSide Books em 2016 tem tradução de Taissa
Reis. A obra foi escrita originalmente em 1963.
O livro é narrado em terceira pessoa. Newton
chega ao planeta Terra com uma missão. Inicialmente, os objetivos do antheano
não são bem explícitos ao leitor. Aqui, em ares terrenos, ele busca acumular
fortuna o mais rápido possível com a negociação de novas tecnologias, além de
construir uma nave e tentar passar incógnito diante dos terráqueos. Utiliza-se
do advogado Farnsworth e sua empregada Betty Jo, dessa forma consegue manter-se
distante do contato com muitas pessoas, sem ser descoberto como um ser de outro
planeta, apesar da curiosidade que desperta. Contudo, sua constituição física e
seu comportamento chamam a atenção.
“Meu
deus, ele era esquisito. Alto e magro e os olhos saltando como os de um
pássaro. Mas ele se movia como um gato, mesmo com a perna quebrada. Tomava
remédios o tempo todo e nunca se barbeava. Parecia que também não dormia.”
O leitor tem ainda contato com a história de
Dr. Nathan Bryce, um professor que, após encontrar uma máquina de revelação
fotográfica e estudá-la, percebe que a tecnologia empregada é muito avançada
para a época. Bryce passa então a investigar o que há por traz desse produto
comercializado pela World Enterprise. O referido professor vem a ser contratado
para trabalhar na construção da nave espacial de Thomas Jerome Newton.
Bryce fica encantado com todo o universo que
tem de materiais à sua disposição para construir a nave. E tem em si um dilema
em acreditar que aquele aparelho seria utilizado para explorar a exosfera ou se
seria utilizado para outra finalidade, como uma guerra mundial. Entre seus
valores pessoais e o amor pela ciência, acaba se entregando à ciência. Mas não
sem estranhar o comportamento de Newton e tentar descobrir quem verdadeiramente
é aquele homem. E para isso, utiliza de todos os recursos que tem disponível.
É uma história de ficção bastante original,
que apresenta uma narrativa em que o leitor deve ficar bastante atento a frases
“soltas” que o personagem lança enigmaticamente e que vão dando corpo a seu
papel na história. São nessas sutilezas que a história vai se constituindo e
formando o quebra-cabeça proposto pela trama. A narrativa do autor é fluída,
mas sem pressa, sem angústia em revelar tudo de uma única vez. E isso dá um tom
interessante de prender a atenção do leitor pelo viés de aguardar o que virá
adiante.
Newton, o personagem central e, que no
cinema, foi vivido por David Bowie, é um alienígena que se mistura aos humanos.
E, como acontece, as pessoas vão adquirindo os hábitos e trejeitos de quem
convive. Com ele acontece o mesmo. Vivendo entre humanos e numa dualidade entre
sua origem do planeta de Anthea e os sentimentos e ações de quem vive na Terra,
ele carrega certa melancolia. Sua maneira excêntrica de viver vai se tornando
mais humana, e temos a sensação de solidão que ele vive em função de suas
diferenças e de sua transformação.
O personagem também tem seus dilemas, quando
em conversas com Bryce se questiona se ele acredita que a humanidade tem o
direito de escolher a sua própria forma de destruição. Os antheanos ao que
parece querem interferir e proteger o planeta Terra:
“...
somos muito mais sábios do que vocês. Acredite, somo muito mais sábios do que
imagina. E estamos além de qualquer dúvida razoável de que o seu mundo se
transformará em um monte de lixo atômico daqui a não mais de trinta anos, se
não interferirmos.”
Nesse contraponto de um ser de outro planeta
querer mudar algo no planeta Terra e ver-se modificado pela convivência, é que
reside o cerne do livro. Vamos notando que a humanidade vai tomando o
personagem extraterrestre, como que desconstruindo quem ele era inicialmente.
Tevis, o autor, dá grande ênfase às descrições desse personagem e de sua
maneira de agir, e isso clarifica a transformação que o vai tomando. A solidão
e a melancolia são presentes no texto. Me atrevo a dizer que é um livro de
ficção científica que foca na existência e na alma humana.
O livro vai nos conduzindo por uma história
cheia de enigmas e que vai sendo descortinado ao longo dos diálogos e ações dos
personagens. Newton, particularmente, é quem dá o tom dos segredos que vão
sendo revelados. E no final, somos surpreendidos de maneira magistral pelo
autor.
Foto: Reprodução |
Sobre o autor
Walter Tevis (1928-1984) nasceu em São
Francisco, Califórnia. Foi professor de literatura na Universidade de Ohio e
autor de romances e contos traduzidos em pelo menos dezoito idiomas. Três dos
seis romances que escreveu foram adaptados para o cinema: The Huster (1959),
The Color of Money (1984) e O Homem que Caiu na Terra (1963). Este, dirigido
por Nicolas Roeg em 1976, marca a estreia de David Bowie como ator. O filme
logo se tornou um clássico e influenciou a cultua pop como poucas outras obras
de ficção científica.
Ficha Técnica
Título: O Homem que Caiu na Terra
Escritor: Walter Tevis
Editora: DarkSide Books
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-9454-005-8
Número
de Páginas:
216
Ano: 2016
Assunto: Ficção
norte-americana
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