"Capão Pecado”, do escritor
brasileiro Ferréz foi publicado pela Editora Planeta em 2013 (192 páginas). O
autor é representante da chamada literatura marginal, em que os escritores são
da periferia das grandes metrópoles e expõe ideias e pensamentos por meio do
universo literário.
O livro de Ferréz conta a
história de Rael, jovem da periferia de São Paulo que gosta de ler e tem planos
para uma vida melhor por meio de seu trabalho.
Nos ambientes pelos quais
Rael circula/vive adquiriu amigos que não agem exatamente como ele. Alguns são
usuários de entorpecentes, alguns se envolveram com roubos de motocicletas e
outros cometeram assassinatos. Apesar da diferença de comportamento que existe
entre Rael e seus amigos, eles partilham da mesma vida, cercados pela pobreza
da periferia, pela ação desmedida da polícia, pela morte de parentes que são
assassinados, pela perda de outros amigos por motivos banais e pela
contrariedade com jovens ricos.
No bairro Capão Redondo, os
personagens desenrolam suas vidas, cotidianamente massacrada. Mas, nem só de
violência eles vivem, buscam também diversão nas festas da região e com as
mulheres que se relacionam.
O personagem central do
livro, Rael, se envolve com Paula. O detalhe é que a jovem é namorada de
Matcherros, amigo dele, envolvido com o tráfico de drogas. Será que isso
acabará bem?
“Rael
chegou em casa ainda meio tonto. Não sabia o que faria de sua vida; não sabia
se pensava na consideração pelo amigo ou naquele estranho amor, mas sabia que
ela não o amava. De algum jeito ele teria que resolver a situação.”
Por falar em Matcherros, o
leitor vai se parar com personagens que tem alcunhas peculiares, característica
que identifica muitas pessoas nas periferias do país. Cebola, Alaor, Arigaz,
Amaral, Panetone, Capachão, Carimbê, Burgos, são alguns dos codinomes que
identificam os personagens no cenário da zona sul de São Paulo.
A morte faz presença pelo
tráfico de drogas, por machismo, por pura e desmedida violência, por
banalidades que poderiam ser contornadas de outra maneira. Na história de Rael,
cabe perfeitamente a indagação feita na contracapa do livro: “E por amor, vale
a pena morrer?”
O autor, por meio de sua
obra ficcional, nos revela uma realidade latente da cidade. Por vezes, essa
realidade das periferias é abafada na mídia, ou quando não, só é exposta quando
ilustra a capa ou as chamadas dos jornais policiais. Na literatura de Ferréz,
personagens que vivem nas regiões menos abastadas da cidade, tem voz e contam
sua história.
Por meio do estilo coloquial
que o autor emprega e pelos diálogos que trazem os maneirismos e gírias com que
os personagens se comunicam, características que são presentes na periferia
real, a história ganha consistência e proximidade. A história retratada no “Capão
Pecado” pode ser, naturalmente, vivida pelos jovens de regiões que não recebem
o olhar agraciado de políticos, nem desfrutam das benesses de localidades mais
ricas. A gíria, expressão típica do vocabulário, está presente e remonta o
grupo social a que os personagens pertencem. A expressão coloquial, típica da
literatura marginal, não significa que a literatura seja pobre, significa,
outrossim, que retrata o mais fielmente possível a realidade das ruas.
“Capão Pecado” é um livro
que ficcionalmente lança para o leitor a realidade crua da periferia. O livro
foi publicado originalmente em 2000 e firmou o nome do autor no cenário
literário.
Foto: Reprodução |
Sobre o autor
Antes de se dedicar exclusivamente à escrita,
Ferréz foi balconista, auxiliar-geral e arquivista. Seu primeiro livro,
Fortaleza da Desilusão, foi lançado em 1997. Foi com Capão Pecado (em 2000) que
se firmou como um dos melhores escritores de sua geração. Depois de ter lançado
o romance Manual Prático do Ódio, o infantil Amanhecer Esmeralda e o livro de
contos Ninguém é Inocente em São Paulo, o autor teve suas obras publicadas em
Portugal, Itália, Alemanha, Espanha e Estados Unidos. Ligado ao movimento hip
hop, fundou o selo Literatura Marginal e a 1DASUL, marca de roupas produzidas
no bairro em que vive. Teve o conto Os Inimigos não Levam Flores adaptado para
a TV e para os quadrinhos, escreveu para o filme Brother e os seriados Cidade
dos Homens (Globo) e 9MM (Fox). Compositor e cantor, já teve suas músicas
gravadas por vários artistas e lançou dois CDs. Atua ainda como colunista da
revista Caros Amigos e é conselheiro editorial do Le Monde Diplomatique Brasil.
Vive em Capão Redondo.
Ficha Técnica
Título: Capão Pecado
Escritor: Ferréz
Editora: Planeta
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-422-0140-6
Número
de Páginas:
192
Ano: 2013
Assunto: Ficção brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário.