Em
meio a fotografias, bebida e outros objetos que pertenceram aos antigos
moradores, além da casa propriamente dita, passa a debruçar-se sobre as
vivências daqueles moradores de outrora: Lara, Leon (o marido) e os dois filhos
(Daniel e Max).
Perto
de completar sessenta anos de idade, ela viveu com um homem por onze anos,
separou-se, passou a viver com Lucas, um novo amor, que faleceu. Nessa casa em
que se ela se retira para apaziguar o coração, ela mistura as suas lembranças
com as histórias da família Berman. Ali ela rememora os momentos que viveu ao
lado de Lucas, os bons e maus, narra a doença que o levou à morte e a relação
que mantinha com o amado. De outro modo, ela também busca reconstruir a
história do casal Laura e Leon, seus inquilinos ficcionais, como ela se refere
a eles em alguns trechos.
Das
relações, dos sentimentos, das lembranças e porque não dizer, da imaginação,
nasce a história dos Berman que se cruza e se costura com a de Heloísa.
“O tempo é paciente, meticuloso e
mourejador. O tempo derrubou reis, gerações inteiras de reais, desfez reinados,
alianças, fortunas, apagou religiões e riscou povos inteirinhos da face da
terra de meu Deus. Por que um simples amor entre duas pessoas, um homem e uma
mulher, haviam de ser, assim, imune ao tempo?”
A
relação dos Berman não era perfeita, mas era lapidada pelo tempo, pelos gestos,
pela forma de compreender um ao outro, seja por um livro deixado em algum canto da casa ou
pela vivência com os filhos correndo pela propriedade. Mesmo na ausência havia uma
forma de lidar com a relação.
Relações
de amor. Esse é o cerne do livro “Navegue a Lágrima”, da escritora Letícia
Wierzchowski, publicado pela Editora Intrínseca em 2015. Relações de amor que
se desembaraçam na convivência, nas lembranças, nos objetos deixados no meio do
caminho, naqueles outros que são adquiridos pelo casal, nos detalhes de uma
casa que viu a relação se construir, se ajustar, se adaptar, se transformar. Um amor que vive a mercê do tempo. O amor é
cheio de qualidade, mas também de artimanhas, por isso, nas relações o amor
pode não aparecer de maneira explícita, escancarada, mas pode estar lá, disfarçado.
Heloísa,
a personagem que é editora, diz que “a
literatura é invenção, é criação, mas sempre há o pó da vida nos cantos da
literatura, como pegadas, como marcas sutis da humanidade e do passo do autor.”
E por isso, o livro de Letícia encanta, chama o leitor para a história de
Heloísa e suas descobertas, que antes de mais nada, é também a descoberta de si
mesma.
Foto: Carin Mandelli |
Letícia
Wierzchovski nasceu em Porto Alegre e estou na literatura aos vinte e seis anos
de idade. Publicou treze romances e nove livros infantis. É autora de “A Casa
das Sete Mulheres”, que inspirou a série homônima produzida pela Rede Globo,
exibida em trinta países. Com obras traduzidas para nove idiomas, Letícia
recebeu o Prêmio Açorianos de Literatura em 2012.
Título: Navegue a Lágrima
Escritor: Letícia Wierzchowski
Editora: Íntrinseca
Edição: 1ª
ISBN: 978-85-8057-744-0
Número
de Páginas:
205
Ano: 2015
Assunto: Romance brasileiro
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