“Se me
perguntassem, eu diria que a era em que vivemos é a da violência. Me parece que
todo mundo tem violência na cabeça hoje em dia. E acho que vamos simplesmente
continuar por esse caminho até não ter mais que estragar. Se você parar para
pensar, é assustador.”
Publicado pela primeira vez em 1954 pela
Reinhart, “Menina Má” vendeu mais de um milhão de exemplares e teve elogios de
Ernest Hemingway, por exemplo. O autor William March morreu aos sessenta anos
de idade, vítima de um ataque cardíaco, em maio de 1954. O livro havia sido
publicado um mês antes. Portanto, o autor não acompanhou o sucesso de sua obra.
Na publicação da Darkside em 2016, a
Introdução feita por Elaine Showalter, apresenta aspectos da vida do autor e de
seu livro.
Coisas aparentemente simples, como um outro
colega que ganha uma medalha no ano letivo da escola, despertam um sentimento
angustiante em Rhoda. A menina não é sensível, isso até sua mãe sabe, apesar de
tentar poupá-la de certos aspectos da vida. Mas Christine, a mãe, sabe como sua
filha é e se questiona sobre as ações e comportamento de Rhoda.
O afogamento do menino que ganha a medalha,
durante uma excursão da escola, é o
ponto de partida para a análise psicológica que a mãe traça, rememorando fatos
passados e compreendendo o comportamento adotado por sua filha. De onde vem a
maldade que vai sendo percebida em Rhoda?
Leroy, o zelador e Rhoda são personagens com
uma complexa montagem psicológica. Nuances de psicopatia estão presentes neles.
A dissimulação e a maldade faz com que eles se conectem, mesmo quando travam
uma richa, quase uma disputa de poder e, quando Leroy tenta amedrontar a
menina.
Um crime envolvendo Bessie Denker faz
Christine acreditar que tem algo mais a descobrir. Conseguirá a mãe de Rhoda
desvendar suas inquietações?
Rhoda agrada com sua docilidade e seu sorriso
com covinhas. Mas desperta distanciamento de colegas da escola e vizinhos,
e atua diante de sua mãe, quando quer
conquistar alguma coisa ou deseja uma resposta que lhe agrade.
“... a
maior parte da população, sob toda a pressão modeladora de preceitos e
exemplos, era capaz de desenvolver essa estranha capacidade que chamamos de
consciência, de adquirir um caráter razoavelmente aceitável. No entanto,
algumas pessoas não tinham nem um pingo dessa capacidade, não importa a que
influências benéficas fossem submetidas. Nem mesmo eram capazes de amar outro
indivíduo, exceto pelas manifestações carnais mais brutas. Compreendiam
intelectualmente as noções de certo e errado, mas não tinham a compreensão
moral desses conceitos. Eram verdadeiros criminosos de nascença em ao podiam
ser transformados nem modificados...” Esse trecho do livro revela a essência
contida implicitamente na narrativa.
Apesar de ser uma obra ficcional há uma
pergunta que paira: De onde vem a maldade? Seria hereditária, fruto da
educação, despertada pelas ações cotidianas a que somos submetidos, uma
característica nata? A resposta não é dada, porque não é esse o objetivo da obra ficcional, mas consegue despertar a reflexão
no leitor. A maldade contida em Rhoda, que se faz de uma menina doce e
inocente, com sorriso de covinha, trajando vestido e distribuindo abraços
afetuosos quando quer conduzir a mãe, em contraponto com suas ações e suas dissimulações, além dos atos que comete, nos faz pensar sobre a maldade humana.
Impessoal, agressiva, egoísta, sangue-frio,
despreocupada, imperturbável, fria, evasiva, santa do pau oco, coração de
pedra, sem remorso nem culpa. Essas são algumas características que são
utilizadas pelos personagens para se referir a menina Rhoda. Por aí dá pra ter
uma ideia da bela construção da personagem protagonista da história.
O livro é bem escrito e a trama carregada de
conflitos psicológicos que dão frisson ao leitor. Os personagens são bem
construídos e a narrativa é incrível. Dá para entender o sucesso e porque o
livro é considerado o melhor de seu autor.
Para não fugir da regra, a Darkside traz uma
edição arrebatadora, com um bela capa e muita qualidade.
Foto: Reprodução |
Sobre o
autor
William March nasceu em 1893 na cidade de
Mobile, Alabama. Foi o segundo filho e o primeiro menino de uma família de onze
crianças.Saiu de casa aos 16 anos, após sua família se mudar para uma
cidadezinha e ele ser forçado a deixar a escola para trabalhar como arquivista.
Em 1933 publicou seu primeiro romance: Companhy K. Depois de um colapso nervoso
que sofreu na Alemanha, March retornou para Nova York e escreveu cinco livros
ao longo de onze anos. Quando Menina Má foi publicado em 1954 March já estava
bastante doente e morreu de ataque cardíaco pouco tempo depois da publicação.
Ficha Técnica
Título: Menina Má
Escritor: William March
Editora: Darkside
ISBN: 978-85-66636-81-9
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
272
Ano: 2016
Assunto: Literatura norte-americana
Assunto: Literatura norte-americana
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