Publicado pelo selo Fábrica 231, da Editora Rocco, em 2016, “A Garota Dinamarquesa”, de David Ebershoff voltou a circular nas prateleiras das livrarias em função da premiação mais aclamada do cinema, o Oscar. Digo sobre a volta, porque a própria Rocco havia lançado o texto em 2002, sob o nome de "A Garota de Copenhague".
No livro, Greta pede ao marido Einar que lhe
faça um favor. Sua modelo Anna cancelou a sessão em que posaria para a artista. Einar aceita o pedido da
esposa e coloca as meias e os sapatos que eram usados pela modelo. Começa assim
a história de transformação na vida de Einar, que passa a cada vez mais se
vestir e agir como Lili.
A publicação de Ebershoff não trata apenas de
uma questão de gênero, embora seja esse assunto que conduz a história, mas
trata ainda de amor incondicional, de aceitar ao outro, de enfrentamento e
superação de convenções sociais, de aceitação e identificação com si mesmo.
Einar carrega o desconforto de não se
pertencer, de ter em si alguém que ele realmente deseja ser, e que não é. Há
ali, dentro daquele corpo masculino, dentro do corpo do marido de Greta, um
outro ser. É assim que Einar sente Lili. E, aos poucos, ele vai tomando
consciência, de que Lili vai tomar sua personalidade por completo, anulando
aquele Einar de outrora.
“(...) Há uma outra pessoa vivendo dentro de
mim... Uma moça chamada Lili.”
Greta e Einar são artistas. Em Paris, saídos
de Copenhague, a mulher vai conquistando cada vez mais espaço como pintora. Em
outros tempos apenas Einar era conhecido. Os quadros que Greta pinta da bela
Lili em diferentes situações vai colocando-a em destaque no cenário artístico.
As voltas com sangramentos, Einar não vê outro
modo que não seja buscar compreender o que tem se passado com seu corpo. E procura
alguns médicos. Uma consulta traumática com o Doutor Hexler, a determinação de
outro médico (Dr. Bride), que diz que ele é homossexual, mas Einar acredita em
outras diferenças.
Recebe outros diagnósticos, de esquizofrenia
à necessidade de uma cirurgia cerebral. Mas Einar sabe que não é isso e busca
sua resposta para a mulher vive nele. E cabe tão somente a Einar a decisão.
Greta, num amor absoluto, permite que Einar escolha o que é melhor. Prova de
amor incondicional, de aceitação, de cessão em prol do amor.
Como diz o autor do livro no posfácio datado
de 2015: “é uma história de arte, de criação, de imaginar o que viera ser. É
sobre artistas que interpretam o mundo e seus próprios eus através de sua
arte.”
“A Garota Dinamarquesa”, de David Ebershoff é
baseado numa história real. Por isso é importante compreender que o tempo em
que se situam os fatos, os pensamentos e as atitudes relatadas no livro estão
concentrados no período em que a história real se passou, ou seja, na década de
1920 e início da década de 1930.
A narrativa é fluída, bem estruturada, e a
história envolve o leitor. Ainda que em alguns momentos o ritmo pareça mais lento, se faz necessário pela própria delicadeza que a transformação do personagem vai tomando. Baseado numa situação real, em personagens reais, o
livro também foi inspiração para o cinema. O filme de mesmo nome concorreu ao
Oscar de 2016. Trata-se de um livro que conta sobre superar preconceitos, amor
entre pessoas e, sobretudo, amor a si próprio.
Excelente leitura e um livro para figurar no
ranking de melhores livros do ano.
Ficha Técnica
Título: A Garota Dinamarquesa
Escritor: David Ebershoff
Editora: Fábrica 231
ISBN: 978-85-68432-44-0
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
363
Ano: 2016
Assunto: Romance norte-americano
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