Em “A última névoa e a
amortalhada”, da escritora chilena Maria Luisa Bombal temos duas histórias que
são narradas a partir de um ponto em comum. Nos dois casos, a personagem
central é uma mulher, narradora de sua própria história, contada a partir de um
momento em que não mais espera-se que alguém fale: a morte.
Nos dois casos, a morte é o
momento a partir do qual vem a tona a vida dessas pessoas. Romances,
sentimentos, fatos que se confundem com o ter consciência da morte e a vida que
foi vivida.
Melancólico, sentimental,
profundo e metafórico. Aí está um pouco da essência do livro de Maria Luisa com
as duas histórias, publicado pela Editora Cosac Naify em 2013 com 224 páginas.
As duas tramas são independentes, mas podem fundir-se pela visão das
personagens que contam suas passagens. Não há nenhuma razão sexista para
escrever o que é colocado adiante, mas há certo modo feminino de escrever que
Maria Luisa consegue transmitir com muita delicadeza, sem deixar de lado a
profundidade.
Uma das partes do texto
brinca com a metáfora para referir-se ao orgasmo. “Vou me afundando até os joelhos numa espessa areia de veludo. Mornas
correntes acariciam-me e penetram-me. Como braços de seda, as plantas aquáticas
enlaçam meu torço com suas longas raízes. Beija minha nuca e sobe até minha
fonte o hálito fresco da água.” Um jogo de palavras com uma sensibilidade
enorme. Daí ter percebido as palavras do escritor Jorge Luis Borges que
escreveu na orelha do livro que “os livros
de Maria Luisa Bombal são essencialmente poéticos”. Constatei que o são.
O assunto morte, por si só,
pode causar certa estranheza nas pessoas. Contar histórias a partir desse
momento parece encaixar-se apenas em livros que irão para o lado macabro, temível,
amedrontador desse episódio (da vida) humana. No entanto, nas palavras da
escritora a morte parece tornar-se diminuta para exemplificar que a grandeza da
vida está sempre presente. Seja na história dessas mulheres fictícias ou na
vida de qualquer pessoa.
Não me vem outras palavras
para descrever o livro a não ser dizer
que é de rara sensibilidade.
Ficha Técnica
Título: A Última Névoa e A
Amortalhada
Escritor: Maria Luisa Bombal
Editora: Cosac Naify
ISBN: 978-85-405-0452-3
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
224
Ano: 2013
Assunto: Ficção chilena
Estou lendo o livro, no momento e algumas passagens do enredo me deixam um pouco confusas, muitos nomes, muitos fragmentos de "vida" ditos diante da morte. Acho que acabei me perdendo na leitura, mas a sensibilidade e a suavidade que a autora imprime ao livro são magníficas. Vou procurar ler novamente para aproveitar mais da leitura. A poesia da escrita foi o que mais me encantou!
ResponderExcluirUm abraço,
Drica.