Conversas com minha gata - Eduardo Jáuregui
A vida da publicitária Sara León não está nada fácil. Graças à rotina insana de um trabalho que não gosta mais, ela sofre um colapso nervoso no meio de uma reunião importante. De licença médica, decide “discutir a relação” (que está para lá de morna) com seu namorado de dez anos, Joaquín – e assiste, perplexa, ele propor a separação.
Prestes a completar quarenta anos, Sara olha para a própria vida e tem a impressão de que não realizou nada, não viveu nada, não conquistou nada. Mas eis que neste momento tão sombrio a ajuda bate à sua porta – ou seria à sua janela? – da forma mais inesperada possível: uma independente e sofisticada gata amarela pede para entrar em sua casa... e em sua vida.
Sibila – é com este nome que ela se apresenta – é uma gata escaldada que já correu as ruas de Londres e, em suas andanças, parece ter adquirido mais confiança e sabedoria que qualquer humano. Com sua sagaz filosofia de felino e o olhar incisivo de uma espécie que nos observa há milênios, ela se torna conselheira e confidente de Sara, ajudando-a a sair da fossa e a redescobrir os pequenos prazeres da vida. Mas em meio a esta jornada de autodescoberta, Sara começa a questionar se suas conversas com Sibila não seriam, na realidade, sintoma de uma loucura incipiente e incontornável.
Eduardo Jáuregui, em seu primeiro romance, dá vazão a seu conhecimento de anos como psicólogo especializado em senso de humor. Um romance bem-humorado para amantes da vida – sejam eles amantes de gatos ou não.
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Pic - Jack Kerouac
É na estrada que Pic conhece o mundo, e é a sua voz que conduz esta narrativa de descobertas. Do Sul para o Norte dos Estados Unidos, cruzando de ônibus a linha Mason-Dixon, Pic, na companhia de seu irmão mais velho, vai descobrir uma nova vida em Nova York. Ao chegar na cidade grande, tudo o alucina: o jazz, as luzes, os arranha-céus que ofuscam a pobreza em que o irmão e a esposa grávida vivem. A salvação – se é que ela existe – parece estar do outro lado do país, no extremo oeste da Califórnia.
Por trás da história do pequeno Pic, Jack Kerouac retrata a formação de um menino em meio ao contexto de segregação racial vigente nos Estados Unidos dos anos 40, que por sua vez remete a um passado – nem tão distante – de escravidão. Em Pic, a experimentação da narrativa em primeira pessoa em busca de uma linguagem autêntica explode num texto predominantemente coloquial – delicado ao retratar esses dois irmãos que estão em busca de uma vida melhor e áspero ao mostrar a realidade tão dura na qual estão inseridos.
Publicado postumamente, em 1971, Pic começou a ser escrito na década de 50 e teve um papel importante no desenvolvimento dos experimentalismos estilísticos que seriam levados às últimas consequências no clássico On the Road. Trata-se de um texto sui generis na obra do autor, considerado por muitos a comprovação de que Kerouac podia escrever sobre todo e qualquer assunto.
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Mulheres - Eduardo Galeano
Mulheres protagonistas da história e mulheres esquecidas por ela; mulheres que sonham e mulheres castigadas por sonhar; mulheres que sobrevivem e mulheres que nos ajudam a sobreviver. As mulheres que atravessam os relatos de Eduardo Galeano comovem por sua determinação, sua desobediência constante e também por sua fragilidade.
Galeano compartilha a intensidade de personagens femininos marcados pelo peso de uma causa, como Joana d’Arc, Rosa de Luxemburgo, Eva Perón ou as Mães da Praça de Maio; pela sua própria formosura e talento, como Marilyn Monroe, Rita Hayworth, Frida Kahlo, Alfonsina Storni, Camille Claudel ou Josephine Baker. Mas também compartilha as façanhas coletivas de mulheres anônimas: aquelas que lutaram na Comuna de Paris, as que impregnam os templos africanos da Bahia com seus cânticos, as que – num prostíbulo da Patagônia argentina – se negaram a receber os soldados que tinham reprimido a greve dos peões.
Como a personagem que abre o livro, a Sherazade de As mil e uma noites que a cada jornada contava uma nova história ao rei para permanecer viva, Galeano entrega em cada relato sua maestria de narrador oral e de artesão da linguagem, para conjurar o esquecimento mas também para celebrar a experiência daquelas que nunca se resignam.
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