"Ratos" é o primeiro romance de Gordon Reece, publicado pela Editora Intrínseca em 2011 (240 páginas). O escritor já havia publicado Graphic Novels e diversos livros infantis ilustrados. Um ponto central do livro é a fragilidade emocionante das personagens que causam piedade e raiva, fraqueza e força e nos despertam sentimentos controversos, assim como os que elas próprias vivenciam.
Uma adolescente que se vê acuada no mundo. Na escola
ela sofre bullyng por sua aparência e pelo fato de as pessoas desacreditarem de
sua capacidade. Assim, ela se sente um rato. Às vésperas de completar dezesseis
anos de idade um episódio, provocado por outras adolescentes, causa na jovem um
ferimento mais profundo que o ferimento externo (queimaduras no rosto). As
queimaduras são mais profundas do que a marca aparente no rosto, estão na alma.
Sempre isolada, retraída, fechada em si, com baixa auto-estima, procurando se esconder, como os ratos fazem, ela muda com sua mãe para uma nova casa,
chamada de Chalé Madressilva. A mãe da jovem tem o mesmo tipo de comportamento,
ou seja, prefere se esconder das pessoas, do mundo. É o modo como elas agem
diante dos fatos e da vida que faz com que Shelley a personagem-narradora as comparem com os roedores.
“Sei que sou um rato e que estou me
escondendo de todos em meu ninho aconchegante, atrás dessas paredes, mas minha
vida de rato é repleta de todas as coisas boas que existem: arte, música,
literatura... amor.” Shelley vê nos livros um refúgio que parece colocá-la no
mundo, que ela rechaça, do qual se esconde.
Uma ação inesperada na residência faz a vida
da jovem e de sua mãe sofrer uma reviravolta. Um assaltante invade o local e, bêbado, acaba se tornando vítima das duas, mãe e filha, que expandem a
relação que tem para a de cúmplices.
Elas passam, juntas, a arquitetar maneiras de
se esquivar de acusação de assassinato do bandido que invadira a casa. Não
querem ser descobertas e, para isso, são capazes de cometer atos desmedidos, que vão desde mentiras até a enterrar o corpo no jardim. Ao
mesmo tempo que vivem na casa, com um corpo enterrado, elas se unem, se
divertem, riem de acontecimentos e conversam como amigas. A mãe pensa, Shelley
ajuda a executar.
Embora seja cruel, violento, criminoso e
moralmente recriminável, é no fato caótico da morte do ladrão e de outros episódios que circunstanciam o crime que a jovem acuada vai se descobrindo. E o fato de sentir-se como
rato, pode ir para um segundo plano. A adolescente sai mais confiante em si e
deixa de ser aquela menina que sofria constrangimentos na escola.
"E, naquele momento, senti uma estranha calma me dominar, a calma que vem com a resignação diante do momento final."
É um bom livro, que me surpreendeu. Quando o vi, por diversas vezes, num preço baixíssimo em vários sites, duvidava de sua qualidade. No entanto, tenho que me redimir, pois é uma ótima história, apresentada sob uma perspectiva bastante interessante. Há um certo jogo psicológico do autor com nós, leitores. A ambiguidade de sentimentos que a personagem tem e que provoca fixa nossa atenção.
Título: Ratos
Escritor: Gordon Reece
Editora: Intrínseca
ISBN: 978-85-8057-070-0
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
240
Ano: 2011
Assunto: Ficção inglesa
Assunto: Ficção inglesa
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