“O Demonologista”, livro de Andrew Pyper foi
publicado no Brasil em 2015 pela Editora Darkside. É considerado um best-seller do The New York Times. O título, sem dúvida,
causa certa angústia ao leitor. Li comentários em redes sociais, por exemplo,
de terem medo e, logicamente, certo arrepio sobre a possível abordagem dada
pelo livro. O tema parece mexer com o imaginário das pessoas e Andrew explorou bem certo mistério que vai se revelando no texo.
O livro inicialmente apresenta um ritmo mais
lento. De certo modo parece ir preparando o espírito do leitor para o que há de
vir. David Ullman é um professor e profundo conhecedor da obra de Milton (John
Milton), que foi um escritor inglês do século XVII. “Paraíso Perdido” é a obra-prima de Milton e trata da expulsão de
Adão e Eva e, da relação, do anjo Lúcifer. Algumas referências a Milton são
utilizadas no livro de Andrew, durante a jornada empreendida por Ullman.
David se apresenta ao leitor:
“Meu
nome é David Ullman. Sou professor do Departamento de Inglês da Universidade de
Columbia em Manhattan, um especialista em mitologia e narrativa religiosa
judaico-cristã, apesar de meu verdadeiro ganha-pão, o texto cujo estudo crítico
garantiu minha posição na Ivy-League e convites para várias inutilidades
acadêmicas em todo o mundo, ser Paraíso Perdido, de Milton. Anjos caídos, a
tentação da serpente, Adão e Eva, pecado original.”
O professor é contratado para ir a Veneza e
lá um acontecimento o aflige. Ele de certo modo percebe com o que está mexendo
e o que o envolve. Tal acontecimento, que afeta sua filha Tess, o deixa
incomodado. Ele tem então de partir em busca de esclarecimentos e do
conhecimento sobre o que, ou quem, o está sondando. Citações à obra de Milton
parecem ser uma peça fundamental para a descoberta.
“O Perseguidor”, assim chamado por Ullman,
deseja um documento, que pode ser uma prova irrefutável da existência do
demônio, chamado de “Inominável”. David tem sua vida tomada e cercada pela
busca de esclarecimentos e o enfrentamento com esse ser oculto.
Há suspense, medo, aflições e uma dosagem
obscura que vai envolvendo o leitor. A história é inteligentemente arquitetada,
sem ser totalmente agressiva. O que poderia ser esperado de um livro que
trataria o demônio como tema. A narrativa de Andrew Pyper, no entanto, me
surpreendeu pelo aspecto sutil, mas sem perder a sombriedade, a provocação e o
medo que um livro assim deveria despertar.
“Há
coisas neste mundo que a maioria de nós nunca vê, acabo de falar. Nós nos
treinamos para não vê-las, ou tentamos fingir que não vimos se elas ocorrem.
Mas há uma razão para o fato de, não importa o quão sofisticadas ou primitivas,
todas as religiões terem demônios. Algumas podem ter anjos, outras não. Um
Deus, deuses, Jesus, profetas – a figura de autoridade máxima varia. Há muitos
tipos diferentes de criadores. Mas o destruidor sempre toma, essencialmente, a
mesma froma. O progresso do homem tem sido, desde o início, frustrado por
provadores, mentirosos, corruptores. Criadores de pragas, loucura, desespero. A
experiência demoníaca é a única verdadeiramente universal de todas as experiências
religiosas do homem.” (Trecho de diálogo de David Ulmman, o demonogolista).
Implicitamente na história escrita por Pyper,
notamos o questionamento interno e pessoal de alguém que vê sua vida tomada por
algo inexplicável. E sua busca por explicação está presente nas vivências que
tem. De certo modo, essa busca por explicações pauta a vida de qualquer homem.
Com o personagem não é diferente. A figura que ele busca, acredito eu, que de
certo modo é um pouco do seu próprio lado obscuro, que precisa ser enfrentado. Isso dá uma boa medida ao terror contido no texto.
O livro é muito interessante e fui me
envolvendo na medida em que a história foi avançando. Recomendo a leitura!
Ficha Técnica
Título: O Demonologista
Escritor: Andrew Pyper
Editora: Darkside
ISBN: 978-85-66636-40-6
Edição: 1ª
Número
de Páginas:
320
Ano: 2015
Assunto: Literatura
americana
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